Em se tratando de ficção científica, meu ritmo de leitura sempre demora um pouco para engrenar. É todo um mundo novo para se conhecer, leis e filosofias para entender que é preciso ler, ruminar e algumas vezes até reler certos trechos até se acostumar com o estilo do autor. Com o livro da Le Guin não foi diferente, até entendermos (se é que entendemos) o funcionamento da federação galáctica Ekumen e a intricada biologia do genthenianos (que é de causar inveja ao Spock), a leitura vai devagar, mas depois da aclimatação nos envolvemos de tal forma com a missão de Genly Ai, o papel de Estraven na trama e a descoberta de um mundo completamente novo em Gethen que é impossível largar a leitura.
Genly Ai é um Móvel, uma espécie de enviado da federação galáctica Ekumen. Essa federação engloba todos os planetas do sistema galáctico habitados por humanos, todos os conhecidos menos um: Gethen. Este estranho planeta, também chamado de Inverno devido à neve inclemente e o frio incessante, é habitado por humanos de biologia ímpar em todo o universo. Em Gethen, os humanos são andróginos podendo ser tanto homem quanto mulher segundo os estímulos recebidos durante seu período propício ao acasalamento (chamado por eles de kemmer). A missão de Genly é oferecer o convite para que Gethen passe a fazer parte do Ekumen, mas em meio a uma sociedade tão díspar e na qual as entrelinhas do diálogo são tão difíceis de serem decifradas, ele terá um árduo caminho pela frente. Durante seu percurso ele terá de convencer o rei de Karhide, Argaven; ou os orgotas de Orgoreyn e em meio a isso tudo decidir se pode ou não confiar em Estraven, que vinha lhe ajudando desde o início, mas é acusado de traição pelo rei de Karhide.
Entre a narração dos acontecimentos da missão de Genly em Inverno, Le Guin apresenta relatos sob a forma de transcrições, documentos genthenianos ou produzidos por emissários da federação anteriores à Genly, que nos fornecem um panorama geral da vida em Gethen e torna esse novo mundo mais real e palpável, contribuindo e muito para o enriquecimento da leitura.
Uma bela narrativa de ficção científica, que não se restringe apenas à viagens intergalácticas, batalhas interestelares e coisas do gênero. Le Guin criou um romance psicológico, no qual às relações interpessoais são mais importantes e sobre as quais os acontecimentos se desenvolvem. A autora discorre sobre política, relações de gênero, questões sexuais, a burocracia da vida em sociedade, patriotismo, religião e a organização social sem deixar de lado a ciência e as tecnologias, por exemplo, às viagens temporais realizadas pelos Enviados do Ekumen.
Le Guin não se restringiu a divagar sobre acontecimentos 10 000, 100 000 anos no futuro. Seu romance é futurista, mas para contá-lo ela criou um mundo novo, com costumes, lendas, filosofia e religião diversa. Vale à pena ler sua obra, não apenas para acompanhar a missão de Genly, mas também para desfrutar a descoberta de tantas novidades.
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NOSSA!!! Que coincidência absurda!!!!! Ontem eu postei o Jane Austen Book Club ne?! Nele, o Grigg dá de presente pra Jocelyn dois livros da Ursula Le Guin que ela super despreza e depois que lê, ama! E vc posta uma resenha de um livro dela! Mais coincidência SÓ se tivesse sido o mesmo livro, mas não foi hauahueauheauheuha!
Tô curiosa desde então pra ler algo dela haha!
bjo!!
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Eita, bota coincidência nisso! *o*
Agora fiquei curiosa para saber quais livros foram, tenho que assistir esse filme logo. o/
Dela estou muito curiosa para ler o Ciclo de Terramar (que só foi publicado em Portugal, então fica meio caro importar… =/ ), parece que essa série é ótima no melhor estilo SdA. =D
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Parece algo muito complexo mesmo, muito detalhado. Como você disse, ele parece diferir das outras obras de ficção por mostrar os acontecimentos mais triviais do mundo em questão, e não apenas eventos grandiosos como batalhas e disputas pelo poder. Fiquei com a dúvida de se isso seria mantido caso a obra fosse adaptada pro cinema.
Até mais.
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Não sei se eu gostaria de ver esta obra adaptada para o cinema, acho que no fim acabaria perdendo a sua característica de ficção científica e iria se centrar mais nas agruras que Genly passa para dar cabo à sua missão. Não deixaria de ser um bom filme, mesmo que só isso fosse mostrado, mas a beleza do livro, as relações interpessoais, as implicações da biologia ímpar do genthenianos, não sei se conseguiriam mostrar isso nas telonas com a mesma crueza e ao mesmo tempo sensibilidade que Le Guin nos passa no livro.
Inté. =)
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