No texto da ‘orelha do livro’ Altair Martins diz que: “Esta é uma novela para se ler em Porto Alegre ou, ao menos, tendo na retina suas ruas, a paisagem do Guaíba e, sobretudo, dos Jacarandás da Feira do Livro.” Então, devo confessar que foi com apreensão que comecei a ler o texto de Diniz, tinha receios de que não aproveitasse o texto em sua totalidade, ou que escapasse às minhas retinas virgens minúcias que qualquer porto-alegrense poderia captar. Meus receios mostraram-se infundados, Diniz descreve os lugares com tanta clareza que é impossível não conseguir imaginar-se às margens do Guaíba, na Casa de Cultura ou a perambular pela Rua Sete de Setembro. Não conhecer POA, não te impede de aproveitar as aventuras do detetive Jacquet.
Crime na Feira do Livro foi publicado originalmente como um folhetim no Correio do povo sob o título “Quem matou Adavílson?”, durante 17 dias os leitores puderam acompanhar as deduções de Walter Jacquet e sua resolução para o crime. O folhetim nos é apresentado agora sob o formato de uma novela e mesmo os leitores do antigo formato poderão se surpreender, já que o autor garante a presença de novas personagens e situações, além de um novo desfecho.
Como o próprio nome do livro já deixa a entender, somos apresentados aos personagens e ao enredo no lançamento da Feira Literária de Porto Alegre. Walter Jacquet é um detetive natural de Alegrete, mas que atualmente mora nos Estados Unidos e encontra-se de férias no Brasil. E por um daqueles acasos do destino, eis que ele estava presente no lançamento juntamente com seu amigo Joãozinho Macedônio e quase presenciou o assassinato de Adavílson Doceiro. E com um acaso desses não se brinca:
“Parecia que o destino, no qual ele não acreditava, havia lhe jogado o caso no colo, dizendo toma que o filho é teu, exigindo dele um envolvimento maior do que o de um simples espectador.”
Todo bom livro policial não deixa o leitor às cegas, alguns elementos sempre nos são fornecidos de modo a permitir-nos acompanhar as deduções do investigador e tentar (e não há um só leitor que não tente) passar a perna no detetive e descobrir o meliante primeiro. Tailor não se faz de rogado, afinal, qual o mistério envolvendo o livro que o morto carregava e que fora trocado após sua morte? Qual o envolvimento dos membros de uma confraria muito esquisita no ocorrido? A delegada Flores está agindo de acordo com a lei? Com as cartas na mesa passamos a acompanhar as intrépidas aventuras do detetive e temos a oportunidade de ruminar os fatos colhidos por este nas conversas do investigador com seu amigo, conversas sempre regadas de um conhaque, um bom jantar e com comentários, por vezes hilários, da governanta de Joãozinho.
Mas não é só sobre a investigação que os dois amigos conversam, é nesses papos que o autor aproveita para discorrer sobre temas do cotidiano, sejam eles a crítica ao jornalismo da mesmice, com meras repetições de notícias sem nenhum acréscimo de novos fatos ou novos pontos de vista; ou a crítica à padronização dos eventos literários, os quais vem perdendo sistematicamente o formato antigo de expositores com produtos diversos, de preços variados que permitiam ao leitor escavar preciosidades por um formato cada vez mais impessoal e sem variedade.
O romance termina com uma ótima reviravolta, regada à muito sangue frio e que me surpreendeu. O autor comenta no prefácio sobre a dificuldade em dar continuidade a outras histórias com o detetive Walter Jacquet, a pendenga foi resolvida por ele e a tirar por Crime na Feira do Livro o detetive tem potencial para render muitas histórias ainda.
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