“Difícil era manter em segredo a origem daqueles artigos. E da boca de um marinheiro para outro, de uma taverna para outra, de um porto a outro, a notícia foi se espalhando. Espalhando-se e atraindo para o Brasil contrabandistas portugueses e espanhóis, navios corsários e os chamados entrelopos – mercadores aventureiros franceses que não tinham escrúpulo em afrontar o monopólio português assegurado pelo Papa”.
O pequeno trecho acima nos situa sobre o período que a obra retrata. Logo após o descobrimento das terras brasileiras, Portugal tratou de dividi-las em capitanias e “ceder” às terras à colonos que deveriam mantê-las, exportar matéria prima para o reino e protegê-las dos invasores. Quase meio século depois, o Brasil ainda era considerado uma terra selvagem, que pouco rendia ao reino a não ser pelo Pau-brasil (que inclusive era alvo de contrabandistas) e que só tornou a despertar o interesse da Coroa porque a França e a Espanha também estavam de olho nestas terras. Foi para evitar a perda das terras brasileiras que Antônio de Ataíde, conde de castanheira, convenceu o rei D. João III a conceder o cargo de governador geral do Brasil à Tomé de Souza. Um governador geral que teve a tarefa de construir uma cidade e garantir de vez a posse daquelas terras longínquas à Portugal.
No romance histórico O Fundador, Aydano Roriz narra as aventuras e desventuras de Tomé de Souza, Caramuru e Garcia d’Ávila para fundar, na Bahia, a primeira capital do Brasil. O livro foi publicado originalmente em 1999 e desde então rendeu várias edições no Brasil e em Portugal. A Editora Europa acaba de relançar esta obra, desta vez com uma extensa revisão, e mesmo mudanças na história, feitas pelo autor.
Eu que sou uma confessa leitora de romances históricos, confesso que não tinha me animado muito em conferir. Porque, apesar, de gostar de história, a ponto de ler livros didáticos da matéria como se fossem livros literários, prefiro os acontecimentos de períodos mais antigos e principalmente os situados na França e na Inglaterra. Então, foi com receio que comecei a leitura de O Fundador. Receio, que logo vi que não tinha motivo já que os personagens históricos foram caracterizados com maestria e são muito envolventes. Temos Tomé de Souza, com seu senso de justiça, seu grande tino administrativo e seus romances. Conhecemos Diogo Álvares, o lendário Caramuru, um branco que virou índio, conhecedor de muitas histórias, rituais, costumes indígenas e por isso mesmo, um grande conselheiro para Tomé. E para finalizar, o esperto Garcia D’Ávila, empregado de confiança de Tomé de Souza, que não tinha nada em Portugal, mas que soube fazer sua vida aqui no Brasil no melhor jeitinho brasileiro.
Em 1° de novembro de 1549, São Salvador da Bahia foi inaugurada oficialmente. Entrementes, temos a formação do povo baiano, mas também a formação do povo brasileiro, uma mistura de índios, portugueses e os negros que cá chegaram nessa época. A história é sobre a fundação da capital, mas Aydano nos possibilita visitar outras capitanias e perceber como a estrutura da nação estava sendo montada. Um romance repleto de informação, mas com uma leitura divertida. Eis uma boa chance de conhecer um pouco mais sobre a história do nosso país.
Sobre o autor: Nascido em Juazeiro, Bahia, em 1949, Aydano Roriz cresceu em Salvador, mudou-se para São Paulo e trabalha em revistas desde 1972. Em 2006, decidiu viver na Região Autônoma da Ilha da Madeira, a 1.000 quilômetros de Lisboa.
Gostaria de agradecer à Editora Europa que nos confiou o exemplar do livro para a resenha. Espero ter a oportunidade de ler mais livros da editora e do autor no futuro.
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Gostei muito. Inteligente, instigante, criativo e nos convida a mais leituras e aventuras!
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