“Rumores, boatos, folclore. Fosse qual fosse a forma como uma pluma branca pousasse ou descansasse, diziam que indicava a visita de um anjo. Na manhã de quarta-feira, 12 de julho de 1939, eu vi uma. […]”
Naquele dia, a morte viera pela High Road e levara o pai de Joseph Vaugham, então com 12 anos. Foi a primeira visita dela à Augusta Falls na Geórgia, que Joseph se lembrava, porém não seria a última. Durante muitos anos ela viria pela High Road e levaria um anjo, uma menininha, e isso acarretaria mudanças na vida de Joseph, esses eventos marcariam para sempre sua alma e seguiriam com ele por toda a sua vida.
A primeira delas foi Alice no dia 03 de novembro de 1939, a menina de onze anos, que sentava atrás de Joseph na escola, fora estuprada, espancada e esganada. Nove meses depois foi a vez de Laverna, em julho de 41 Ellen Mary é encontrada morta e em março de 42 Joseph encontra o corpo de Catherine. Quatro meninas, quatro anjos, quatro recortes de jornais que Joseph vai guardando com as notícias dos assassinatos. Sempre ali, lembrando-lhe que não fora capaz de evitar que aquelas meninas fossem mortas com tal crueldade, mas como poderia um garoto de quinze anos lutar contra alguém tão vil? Junto com outros amigos eles formam um grupo denominado “Os Guardiões” para vigiar e proteger as garotas de Augusta Falls, o que claramente prova-se inviável quando a quinta menina é encontrada morta.
Em meio a isso tudo, Joseph descobre o dom da escrita, sua tábua de salvação e provavelmente uma das poucas coisas que o mantem são e confiante de que as coisas podem melhorar. Mas, a morte não se contentou com apenas 5 anjos, continuou a fazer vítimas e tentando escapar disso tudo ele deixa Augusta Falls, parte em busca de algo maior, de uma chance de um recomeço, o que também lhe é negado. Joseph parece destinado a sofrer eternamente, muitos em seu lugar já teriam entregado os pontos, mas, o material de que ele é feito é de fibra e tem força de vontade. Ellory construiu um protagonista crível, forte ao demonstrar sua fraqueza, com uma força enorme para encarar e tentar superar seus problemas e passível de uma empatia sem tamanho, talvez ajudada pelo fato de acompanharmos o crescimento do personagem ao longo da história, literalmente.
O autor trabalha muito bem as relações das comunidades pequenas, as suspeitas sobre quem é de fora, ou é diferente e as suposições que podem advir daí. Ellory cria um ambiente sombrio, punitivo, deixa o leitor constantemente frustrado e descrente do futuro, mas nos mostra que ainda assim é possível sobreviver ao pior que o mundo pode reservar. O autor também teve uma infância brutal, perdeu os pais e os avós bem jovem e aos 17 anos cumpriu pena por roubo. O que nos faz pensar se Joseph não seria uma espécie de alterego e se a exemplo do seu personagem não foi a literatura que permitiu que ele superasse seus problemas. Não sei. O que não se pode negar é que Ellory sabe criar excelentes tramas policiais com grande carga emocional. E diferente de muitos livros por aí, com tramas fast-food (não que eu não goste é bom deixar claro), o desenlace da trama é demorado, porém, de forma alguma cansativo. Durante 30 anos meninas foram mortas, durante 30 anos Joseph não conseguiu esquecer o passado e, ainda que a minha suspeita sobre o assassino tenha sido confirmada, a conclusão da história foi de certa forma surpreendente.
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