Um Dia (David Nicholls)

É possível conhecer pessoas, se sentir íntimo delas e ter a impressão de que conhece todos os pormenores de suas vidas ao longo de quase vinte anos, tendo por base apenas um dia por ano? David Nicholls mostra que sim, é possível estruturar de forma coesa uma narrativa que tinha tudo para ser fragmentada, sua história é tão concatenada que nem sentimos falta dos outros 364 dias do ano.

Emma e Dexter eram colegas de universidade, se conheciam de vista, não tinham maiores contatos, mas tudo mudou no dia 15 de julho de 1988. Tudo porque na festa de formatura algo aconteceu, algo que eles não fazem ideia do quanto influenciará suas vidas pelos próximos anos. Desde aquele dia Emma e Dexter se encontram esporadicamente e uma amizade nasceu, mas os planos pós-formatura sofreram mudanças bruscas, a vida de ambos tomou rumos inesperados. Rumos que nos são apresentados ano a ano, de 1988 à 2007, às vezes por Emma, outras vezes por Dexter.

Emma Morley é pouco confiante, tem alma de revolucionária (ainda que isso fique apenas no mundo das ideias), formou-se com honras e tem como grande sonho se tornar uma autora. Mas, a vida real que chegou após a formatura não foi tão bondosa, sonhos tiveram que ser adiados, trabalhos pouco interessantes foram aceitos e durante muito tempo Emma levou uma vida na qual o conformismo reinava. Desde aquele 15 de julho anos atrás é apaixonada por Dexter, mas se contentou ao papel de amiga, porque se tratando de Dexter esse é o papel mais duradouro que uma pessoa do sexo oposto pode representar em sua vida (tirando sua mãe é claro). Dexter Mayhew é daqueles personagens que beira o insuportável, arrogante e egocêntrico ao extremo nos dá todos os motivos para o odiarmos, e o odiamos mesmo em praticamente 80% da história. Apenas por causa de Emma conseguimos entrever o Dexter bom, que se esconde atrás da máscara da arrogância e do vício da bebida e outras drogas ilícitas. Enfim, os personagens criados por Nicholls convencem justamente porque é possível enxergar neles todas as nossas desilusões, as batalhas do cotidiano e as imperfeições e neuras que nos acompanham no dia-a-dia: a confiança que beira a arrogância, o pneuzinho saliente, a falta de autoestima. Ao encher seus personagens de “defeitos” Nicholls os tornou mais reais, ainda que não tão cativantes assim.

Muitos não gostaram da conclusão da história, mas apesar do sentimento wtf que senti em uma cena derradeira, tanto que tive que voltar a ler o trecho para me convencer de que era isso mesmo, achei que foi satisfatória. Gostei particularmente da estrutura da narrativa adotada nos capítulos finais, contribuiu para deixar a história mais emocionante, a carga emocional só não atinge extremos porque ela é pautada no Dexter, e depois que você conhecê-lo, bem, você também se perguntará como Emma pôde ter se encantado tanto por ele. Foi uma boa leitura, o livro convence, mas não é merecedor de todo o alarde feito em torno dele.

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Em tempo, o roteiro para o cinema foi escrito pelo próprio David Nicholls com direção da cineasta dinamarquesa Lorne Scherfig. O filme é estrelado por Anne Hathaway no papel de Emma e Jim Sturgess interpretando Dexter.

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Arquivado em Resenhas da Núbia

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