Todo leitor um pouquinho mais devotado sempre acaba implicando com algo quando um livro que já leu é adaptado para um filme ou série. E em grande parte das vezes, essas reclamações repousam no fato de que o filme ficou muito superficial e que os roteiristas não conseguiram passar para a tela as características mais marcantes de um determinado personagem. E quando é o contrário? Quando a adaptação parte do filme para o livro? Isso não é muito comum, mas vez ou outra acaba surgindo uma novelização de um roteiro cinematográfico. Penelope foi minha primeira experiência nessa modalidade. E já digo de antemão que não esperava muito da história, porque se dos livros para as telas já perdemos a profundidade dos diálogos, da tela para os livros temos como ponto de partida roteiros mais enxutos que se não forem bem explorados e mesmo expandidos pelo autor, acabarão culminando em uma narrativa pobre ainda que a história seja muito boa. E ainda que algumas das minhas preconcepções tenham se concretizado, gostei do trabalho que Marilyn Kaye fez com o roteiro da Leslie Caveny.
Penelope Wilhern é uma garota rica e tem tudo o que pode querer menos o que mais deseja: a liberdade. Tudo porque nasceu em uma família amaldiçoada. Tudo começou com seu tataravô que se apaixonou e engravidou uma empregada com a qual se recusou a casar quando a família assim determinou. A garota acabou suicidando-se e sua mãe que era bruxa rogou uma praga sobre a família Wilhern. A próxima menina nascida na família teria cara de porco e a maldição só seria desfeita quando alguém de sua mesma classe, alguém de sangue azul, a aceitasse como ela era. E Penelope teve o azar de ser essa próxima menina.
“Não fazia diferença se eu mudasse o ângulo do espelho, ou se tombasse a cabeça para o lado, ou se me olhasse de perfil. Mesmo que eu abaixasse as pálpebras para deixar a imagem fora de foco, não tinha como deixar passar a característica que fizera de mim prisioneira a vida toda, a característica que deixou Palmer Metcalf (entre tantos outros) assustado: o enorme e carnudo focinho proeminente que me marcava desde o nascimento.”
Penelope tem 25 anos e vive presa em casa a espera que a tal maldição possa ser quebrada e finalmente possa ter uma vida. Com o objetivo de acelerar esse processo, sua mãe está com a determinação férrea de casar a filha e vive sujeitando-a a “encontros” com possíveis pretendentes (por meio de um vidro espelhado e microfones para que sua real aparência não os assuste), todos com excelentes conexões como ela sempre faz questão de frisar. Pena que as excelentes conexões não os torne mais amigáveis após verem a característica peculiar da garota. Apenas um rapaz parece não ser afetado pelo infame nariz, mas Max também não tem muito a favor dele já que mantém relações com o repórter que tanto mal fez à família Wilhern quando Penelope nasceu e parece também não estar interessado em casar com ela para ajudar a quebrar a maldição. Longe de conseguir o casamento que irá lhe salvar, Penelope decide que é hora de conhecer o mundo e munida de um cachecol para cobrir o rosto foge de casa. Com a liberdade recém-adquirida vem também a certeza de que a vida tem muito mais a lhe oferecer e que não é um nariz estranho que irá lhe impedir de ter amigos, de desvendar o mundo ou de descobrir quem realmente ela é.
É um filme no papel. A história é sucinta, os diálogos são objetivos, e como esperado, falta um maior aprofundamento, um desenrolar mais complexo às situações vividas pelos personagens: um drama aqui, uma crise existencial ali ou um desencontro acolá poderiam ajudar a tornar a história um pouco menos previsível. Assistindo ao trailer do filme a impressão que tive é que a história parece ter funcionado melhor ali. Mas, apesar disso, Penelope é uma boa história, um conto de fadas moderno e diferente e com uma protagonista cativante. Fiquei curiosa para conferir o filme, o qual não deve ser muito diferente do livro, acho que quando o caminho da adaptação é o inverso, fica mais fácil manter a fidedignidade. Uma boa leitura para se divertir e passar o tempo, mas nada além disso.
Sobre o filme:
O filme lançado em 2006 é dirigido por Mark Palansky e protagonizado pela Christina Ricci e o James McAvoy. O elenco conta também com a Reese Witherspoon (responsável também pela produção), Catherine O’Hara, Nick Frost, Russel Brand e Peter Dinklage.
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