Filho de ingleses recém-chegados ao continente asiático, Joseph Rudyard Kipling nasceu em Bombaim, Índia, em 30 de dezembro de 1865. Logo, o garoto foi mandado à Inglaterra para estudar e voltou à Índia em 1882 para trabalhar em um jornal local. Trabalho este que lhe propiciou observar o cotidiano da vida na Índia, juntando assim um material bruto que foi primordial para que a vida de contista tivesse início. Em 1907, ele foi o primeiro autor inglês a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Quando morreu em 1936, ele deixou um legado de mais de 250 contos, cinco romances e cerca de 800 páginas de versos.
O Homem Que Queria Ser Rei e Outras Histórias é o 18° volume da Coleção Clássicos Abril, com tradução de Cristina Carvalho Boselli e edição e texto complementar de Heitor Ferraz. A reedição publicada pela Abril em 2010 é a mesma da originalmente publicada em 1975 pela Editora Record. O volume reúne dez contos nos quais Rudyard esmiúça a vida na Índia colonial, especialmente a vida dos soldados, mas também de cidadãos comuns, tanto os mais humildes quanto os mais abastados. Kipling era conhecido como o “Escritor do Império” por defender o imperialismo britânico e não há como negar que essa seja uma característica marcante em sua obra, pelo menos nos contos compilados aqui. A ode a supremacia britânica, ainda que nas entrelinhas, é bastante palpável. Quase todos os personagens principais dos contos são ingleses radicados na Índia e quando por ventura, o protagonista é indiano, ainda assim cabe aos ingleses uma grande participação.
Mas, para falar um pouco mais dos contos, cito alguns que mais se destacaram em enredo, narrativa ou em personagens cativantes. Sim, me reservei o direito de ser tendenciosa e falar das histórias que elegi como minhas favoritas.
O Homem Que Queria Ser Rei traz a história de Peachey Carnehan e Daniel Dravot, dois trapaceiros que vivem a vagar pela Índia fazendo de tudo um pouco e que acalentam o sonho de serem reis e já tem até o destino definido: o Kafiristão. Conhecemos a história por meio do narrador, que propositalmente ou não, é editor em um jornal local, e que ao saber dos planos dos dois tenta demovê-los da ideia maluca. Maluca ou não, a ideia rendeu frutos e dois anos depois Carnehan em uma narrativa entrecortada, que mais deixa a entender do que entrega realmente, encontra novamente o jornalista para contar o resultado de sua aventura com Dravot.
O conto de Mowgli, o Menino-Lobo apresentado aqui em nada lembra a história que conhecemos da animação de 1967 dos estúdios Disney. Aquele garotinho, aqui já é um rapaz e a busca pela “civilização” se dá com o contato do selvagem com o guarda florestal Gisborne. Calejado pelas dificuldades que enfrentou para sobreviver em meio à tantas dificuldades, e com um dom que parece magia, Mowgli faz amizade entre os guardas, ajuda Gisborne no trabalho de proteção das florestas (que muitas vezes nem é de proteção assim, já que frequentemente envolve o extermínio de tigres que chegam muito próximos e fazem vítimas nos acampamentos), conquista alguns inimigos, um amor e apenas nos dá vislumbres das situações que viveu.
É fácil entender porque esses dois contos inspiraram filmes e outros autores a criarem novas histórias. Apesar de serem contos, têm almas de novela. São curtos em palavras, mas abrem um mundo de infinitas delas através dos diálogos entre os personagens. Podemos não vivenciar nas páginas todas as aventuras empreendidas por Peachey e Dravot, ou Mowgli e Gisborne, mas não nos é difícil imaginá-las. O conto de Mowgli apresentado aqui foi a primeira história do autor com o personagem e o ponto de partida para o que mais tarde viria a se tornar um de seus mais famosos romances: O Livro da Selva. O Homem Que Queria Ser Rei, não teve a mesma sorte, pelo menos não a sorte de ter virado um romance (infelizmente). Contudo o conto também foi adaptado para o cinema, com o Sean Connery e o Michael Caine interpretando os trapaceiros com mania de grandeza.
Além desses dois merecem destaques os contos Meu Senhor, o Elefante e foi o elefante que me cativou aqui, muito mais do que os diálogos dos narradores que chegam a ser confusos em algumas partes. Wee Willie Winkie que no alto de seus seis anos nos diverte com seu pendor para apelidos e com a coragem destemida das crianças, um conto mais pueril e que pode até parecer perdido em meio às outras histórias envolvendo trapaças, traições e assassinatos, mas que nos permite conhecer outra faceta do autor e emociona. E para finalizar um toque de terror para encerrar a coletânea. No Fim do Caminho traz a história de quatro amigos confinados a lugares distantes da Índia e que se encontram semanalmente para tentar escapar da rotina a que estão presos. Mas, esse escape semanal não anda fazendo muito efeito e quando alucinações e visões passam a ser constantes na vida de um deles, os outros se vêm confrontados com o sobrenatural e com as consequências de uma vida privada de amigos e contato social.
Dez contos que se não nos mostram toda a grandeza da obra do autor, nos permitem conhecer seu estilo narrativo, seus personagens peculiares e a influência dos anos passados na Índia em sua obra. Impossível não sentir vontade de conhecer seus outros contos e enveredar por seus romances.
Contos que compõe a obra:
- O Homem Que Queria Ser Rei
- Comédia à Margem da Estrada
- Mowgli, o Menino-Lobo
- À Beira do Abismo
- Meu Senhor, o Elefante
- Wee Willie Winkie
- O Pequeno Tobrah
- O Túmulo dos Ancestrais
- Georgie Porgie
- No Fim do Caminho
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