O Projeto Rosie (Graeme Simsion)

“O argumento dela foi simples: existe alguém para todo mundo. Do ponto de vista estatístico, quase com certeza ela estava certa. Infelizmente, a probabilidade de eu encontrar essa pessoa era minúscula. Mesmo assim, aquilo gerou um incômodo no meu cérebro, como um problema matemático que sabemos que deve ter solução.”

Don Tillman tem 39 anos e tem uma carreira promissora como professor de genética em uma universidade. Ele também tem sua vida regida por um quadro branco, por horários cronometrados, contatos sociais estritamente necessários e uma inabilidade social que só pode ser comparada àquela apresentada pelo Sheldon Cooper. O que diferencia os dois é que Don, diferentemente do físico teórico, deseja encontrar uma esposa, desde que ela atinja seus parâmetros de uma boa esposa é claro. É assim que Don resolver criar o Projeto Esposa, um questionário pouco flexível de 16 páginas que irá lhe ajudar na busca pela mulher perfeita. Mas é claro que nem toda meticulosidade é capaz de impedir imprevistos…

Contrariando o alto rigor do amigo, Gene lhe apresenta Rosie, a antítese perfeita do que Don considera a esposa ideal, mas que contrariando as expectativas entra com tudo na vida do protagonista, começando por provocar mudanças substanciais em seu cronograma. É bastante plausível acreditar que uma pessoa que chega ao cúmulo de ter um cardápio semanal imutável esteja pouco disposto à mudanças, mas Rosie chega mostrando que irá colocar isso à prova. Don nem imagina o quanto sua vida irá mudar e por alguém, que no fim das contas, nem se inscreveu no Projeto Esposa. E ele pode até achar Rosie inadequada segundo seus parâmetros, mas a personagem é bem interessante. É um contraponto bem divertido para o extremamente racional e preconceituoso Don.

E com a chegada de Rosie o Projeto Esposa acaba descambando de vez para O Projeto Pai, o que, diga-se de passagem, foi a melhor decisão de Simsion. Rosie tem certeza que seu pai biológico foi um dos colegas da turma de medicina da mãe, e acompanhar as aventuras desses dois para descobrir o enigma do DNA, desde falsas entrevistas, uma carreira de bartender bastante promissora, além de projetos de pesquisa megalomaníacos, foi um dos pontos mais divertidos de toda a trama. E, ainda que a conclusão do Projeto Pai tenha sido muito óbvia, foi uma obviedade com um toque fino de ironia, o que no fim acabou mostrando-se uma excelente escolha.

“Impressionante. Ela consegue um professor de genética, um indivíduo de habilidades extraordinárias, para ajudá-la a encontrar seu pai, viaja uma semana passando todos os minutos do dia com ele, mas quando quer a resposta para uma questão de genética, recorre à internet.”

Simsion construiu ótimos personagens e criou uma história leve e divertida. Foi impossível não devorar as páginas, gargalhar com a verborragia mental para lá de sarcástica do Don, ou me encantar pelos seus momentos de ternura, para quem não entende de amor ele até que sabe ser bem fofo. O fato de Don ter tão poucos amigos pode até ter ajudado, mas não há como negar o cuidado do autor em conceder um bom espaço para eles na trama, seja Gene e sua pesquisa geográfica pouco ortodoxa, Cláudia com seus conselhos e seu excesso de fleuma quando se trata do comportamento internacional do marido, ou a Chefe de Departamento e seus combates constantes com o protagonista. Talvez o fato de ser bióloga e gostar de genética, possa ter contribuído para eu me divertir tanto durante a leitura, mas desconfio que mesmo quem não tenha tanta familiaridade com o assunto irá se encantar pelo peculiar jeito de ser de Don.

Compre aqui: