Fale! (Speak) foi publicado originalmente em 1999 e marcou o début de Laurie na literatura juvenil. Também deu início a algo que seria recorrente na maioria de seus livros juvenis, a inclusão de temas considerados espinhosos e/ou tabus pela sociedade. Por que não um romance sobre transtornos alimentares? Depressão? Suicídio? Por que falar sobre estupro com adolescentes deveria ser considerado imoral, quando na maioria das vezes são eles as principais vítimas? É sobre este último assunto que trata Fale!. A história de uma garota que sofreu violência sexual e que buscou no silêncio um alento para superar o episódio, mas que ao longo da história precisa se reencontrar e na fala achar força, não para esquecer, mas para enfrentar seu algoz.
“Gosto da sensação do sal das minhas lágrimas ardendo nos meus lábios. Lavo o rosto na pia até não restar mais nada dele, nem olhos, nem nariz, nem boca. Um nada todo liso.”
Melinda Sordino passou a última semana de férias isolada de tudo e todos e é assim que ela começa no seu primeiro dia no Ensino Médio no Colégio Merryweather. Ignorada e excluída por todos, até por aquelas que até bem pouco tempo atrás considerava como amigas. Tudo porque algo de muito ruim aconteceu com ela no verão, algo que ela não contou para ninguém, mas que a levou a ligar para a polícia na festa organizada por Kyle Rodgers. Um telefonema que acabou com a festinha, mandou alguns para a cadeia e acabou isolando e emudecendo Melinda. Se na escola o ambiente não é dos melhores, o que dizer do ambiente familiar? Falta comunicação, falta presença e um pouquinho mais de atenção dos pais para com Melinda. Em meio a tanta turbulência, aos poucos Melinda afunda em seu silêncio e é no projeto das aulas de artes que ela encontra sua válvula de escape e quem sabe o caminho para enfrentar o passado…
“Fale! mudou minha vida
me tirou da concha
me fez pensar
nas festas
me deu
asas este livro
abriu a minha boca
eu sussurrei, eu gritei
arregacei as mangas eu
detesto falar mas
estou tentando”
Esses poucos versos, extraídos de um poema composta por trechos de inúmeras cartas que Laurie recebeu ao longo dos 10 anos após a publicação de Fale!, dão uma ideia do quão abrangente a história foi (e continua sendo porque as correspondências não pararam) e o quanto de mudanças ela provocou em seus leitores. Promover mudanças na realidade a partir da ficção foi algo que Laurie conseguiu brilhantemente com a história de Melinda. Fale! traz uma história atemporal, uma realidade infelizmente cada vez mais frequente e o incentivo para que muitas garotas e garotos não permaneçam calados.
A história tem todos os elementos para agradar os jovens. Diálogos bem construídos, personagens interessantes (sim, eu adorei o David Petrakis e acho que Melinda podia dar uma chance a ele no futuro e também gostei muito do Prof. Freeman), críticas ao “sistema de castas escolar” e a forma de ensinar de alguns professores, problemas familiares, o desajuste tão comum ao adolescente… Tudo isso sob a ótica arguta, e porque não, até com um pouco de humor, de Melinda. Mas, além disso, por tratar de um tema de interesse e de importância social, Fale!, também tem grande potencial como obra paradidática, o que é facilitado e incentivado pelo material extra contendo entrevista com a autora, um guia de discussão, além de um texto discorrendo sobre o panorama da violência sexual nos EUA. Material esse que acertadamente foi mantido pela Editora Valentina na edição brasileira, que também acrescentou informações sobre a situação da violência sexual no Brasil. Enfim, seja como leitura de passatempo, ou leitura de discussão, é impossível passar incólume à história de Melinda.
PS1: A capa da edição brasileira (Raul Fernandes) ficou linda. Uma capa exclusiva para nossa edição e que tem tudo a ver com a história.
PS2: A obra foi transformada em filme, O Silêncio de Melinda, lançado em 2004 e que traz a atriz Kristen Stewart no papel da protagonista. Laurie fez uma ponta no filme. Ela foi a atendente que serviu purê à Melinda na malfadada cena do refeitório.
PS3: Momento para piadinha infame. Melinda tem um tic nervoso (morder os lábios). Tá explicado porque a Kristen conseguiu o papel, como não escolher alguém que iria interpretar tal característica tão naturalmente?
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