Quando Tudo Volta (John Corey Whaley)

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Em Lily, uma pacata cidadezinha do Arkansas conhecemos o protagonista narrador dessa história. Cullen Witter tem 17 anos, é adepto do sarcasmo, frequentemente tendo a si mesmo como alvo, não é muito sociável, não tem muitos amigos na escola, sofre com a profusão dos estereótipos que encontram terreno fértil nos corredores escolares, tem uma fixação por zumbis, com os quais vive devaneando até nas horas mais impróprias, trabalha em uma loja de conveniência que vive vazia a maior parte do tempo, nutre uma paixão platônica por uma das beldades da escola e não suporta a estagnação que parece ser o único estado conhecido por sua cidade.

Essencialmente, Cullen é um deprimido. Não que ele seja depressivo, mas no sentido de ter uma visão pessimista da vida e gostar disso. Suas poucas alegrias? Colecionar títulos para os futuros livros que pretende escrever, a amizade anacrônica com Lucas Cader, um dos mais adorados do ensino médio, e o irmão mais novo Gabriel, de que Cullen é um dos maiores admiradores. E isso transparece no texto, afinal é pela visão de Cullen que conhecemos Gabriel, e ela pinta um garoto de quinze anos bastante reflexivo de maduro para a idade, imune às preocupações da adolescência e responsável por injetar otimismo na vida do irmão e da família Witter. Então, quando Gabriel misteriosamente desaparece sem deixar vestígios, a família Witter fica abalada e Cullen se vê às voltas com as agruras de enfrentar um mundo sem Gabriel ao mesmo tempo que luta para não perder as esperanças. O ruim é que nessa mesma época um obcecado observador de pássaros coloca a pequena Lily em alvoroço com a informação de que um pica-pau considerado extinto há 60 anos foi avistado ali e isso tira toda a atenção do desaparecimento de Gabriel…

Agora, o que a história de Cullen tem a ver com a de Benton Sage, o jovem missionário de 19 anos recém-enviado para a Etiópia? É impossível não estranhar esses capítulos entranhados em meio à história dos Witter, que parecem simplesmente não casar com a história, verdadeiros fragmentos alienígenas, que confesso muitas vezes fiquei com vontade de ignorar. Passei boa parte da leitura de Quando Tudo Volta (e o olha que o livro é bem curtinho) sem entender bulhufas do porquê aquela história estava inserida ali e como Whaley faria para juntar as duas, porque eu tinha a certeza de que elas teriam que ser unidas em algum momento. E enquanto acompanhamos as surtadas, os devaneios e as loucuras de Cullen (que alguns não gostaram, mas as quais são bem plausíveis para um irmão tentando superar a loucura de se ver separado de forma trágica de seu irmão), vamos tentando conectar sua história com a de Sage e posteriormente com o amigo deste Cabot, mas sem pistas isso é praticamente impossível e apenas no final Whaley coloca suas cartas na mesa. Foi uma boa jogada? Foi. Ele conseguiu unir as duas timelines de forma bastante coerente e surpreendente. Porém a estratégia também deixou aparente todo o potencial da história, todos os pormenores e situações que poderiam ter sido melhor explorados, explicações que mereciam ter sido mais esmiuçadas e que poderiam ter tornado Quando Tudo Volta um livro melhor. Ainda assim, a leitura foi bastante prazerosa. Fui cativada pelo sarcasmo pessimista de Cullen, fiquei encantada pelo suporte dado por Lucas ao amigo e me emocionei com o drama enfrentado por ele e pelos pais, as loucuras, os momentos de negação, os devaneios com zumbis e as lembranças.

“O Dr. Webb diz que perder um irmão, às vezes, é muito mais difícil para uma pessoa do que perder qualquer outro membro da família. ‘Um irmão representa o passado, o presente e o futuro de uma pessoa’, diz ele. (…) Além de meu irmão ter desaparecido – pensem comigo –, uma parte de meu próprio ser havia desaparecido com ele. As histórias sobre nós dois só podiam, a partir de então, ser contadas por apenas uma perspectiva. As lembranças podiam ser contadas, mas não compartilhadas.”

 pág. 172”

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