“Quase sempre, quando observo os trabalhos do Sombra e do Poeta, vejo algo diferente do que as palavras me dizem. É disso que gosto na arte, o que você vê às vezes diz mais sobre quem você é do que sobre o que está na parede. Olho para o grafite e penso que todo mundo guarda algum segredo, algo adormecido, como esse pássaro amarelo. ” página 24.
Acho algumas artes com grafite muito bonitas, entretanto sou totalmente contra a cultura do vandalismo cultuada por muitos. Pintar áreas não destinadas para essa atividade, modificar à revelia bens públicos e privados, pior que isso só o que é feito pelos adeptos das pichações, que além de contribuírem para sujar as cidades, não respeitam nem os trabalhos alheios, distribuindo rabiscos sem sentido como se só isso importasse. Talvez a adrenalina de trabalhar sob o risco de ser pego seja uma busca inevitável para alguns (como o Poeta bem exemplifica em uma passagem), mas acho que assim perde-se o foco no que realmente é importante: a arte. Tendo isso em mente, sabia que era bom começar a leitura de Graffiti Moon sem esperar muito da história, afinal, havia o risco de nem mesmo rolar empatia com o personagem principal. Afinal, tinha todo esse lado da ilegalidade da arte com grafite que era impossível relevar. Mas a narrativa da Crowley é cativante e com uma história envolvente e ótimos personagens, ela conseguiu superar essa barreira e no fim, me vi acompanhando avidamente as aventuras de Lucy e Ed.
Sombra é o cara que pinta pássaros presos em muros de tijolos, pessoas perdidas em florestas fantasmas, caras com corações feitos de grama e sendo podados por garotas empurrando cortadores de grama. Um artista pelo qual Lucy Dervish poderia se apaixonar. E um encontro na noite de formatura do ensino médio colocará Sombra e Poeta no radar desse grupo de amigos reunidos à força por Jazz em um encontro triplo. Daisy e Dylan e sua falta de romance no namoro, Jazz e Leo e a paquera eminente e Ed e Lucy. Com Ed, Lucy teve o primeiro encontro mais esquisito de sua vida, um encontro que terminou com um nariz quebrado. O nariz do Ed. É Jazz que também decide que todos devem partir em busca do Sombra e do Poeta, e quando ela descobre que Leo e Ed conhecem os artistas misteriosos, a busca está armada. Mas, é claro que em meio à festa, encontros com pessoas barra pesada e um plano que além de ter tudo para dar errado não é nada ético, a busca que começou em grupo, acaba virando uma busca de Lucy e Ed. A última pessoa com quem Lucy queria passar a noite, mas que guarda uma verdade que Lucy não consegue enxergar. Pinturas espalhadas por toda a cidade, diálogos eloquentes e a revelação da alma artística desses dois adolescentes são só alguns dos pontos altos da trama criada por Crowley.
Os narradores efetivos dessa história são Ed e Lucy, Leo (o Poeta, que cria palavras para as imagens de Sombra) colabora com poemas que entremeiam alguns capítulos. E com protagonistas que vivem no mundo das imagens, seja Ed e suas pinturas e a busca incessante pelos tons certos de tintas, ou Lucy e seus trabalhos em vidro, a história de Crowley transborda simbolismos. A narrativa é imagética, transformando o romance em uma experiência quase sinestésica. Além disso, o texto flui. A aventura de Lucy e Ed foi de apenas uma noite (ou melhor, uma madrugada), mas foi tão repleta de detalhes que é como se conhecêssemos os personagens de tempos idos, seus medos, anseios, sonhos. Conseguir isso em um romance curto é um motivo mais do que válido para dar uma chance a história. É como bem dito por Melina Marchetta na capa traseira da edição brasileira: “(…) somente uma noite louca na companhia deles é pouco, muito pouco. ”
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