O Festim dos Corvos (George R. R. Martin)

*Atenção, este livro é o quarto da série As Crônicas de Gelo e Fogo e esta resenha pode conter spoilers dos livros anteriores. Quer saber o que nós achamos dos livros anteriores? No final da resenha disponibilizo os links.

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“Os sonhos de lobo eram bons. Neles, ela era rápida e forte, perseguindo as presas com a alcateia atrás de si. Era o outro sonho que odiava, aquele em que tinha duas pernas em vez de quatro patas. Neste, andava sempre à procura da mãe, aos tropeções, por uma terra devastada repleta de lama, sangue e fogo.” página 434.

 

A conclusão do terceiro livro da série As Crônicas de Gelo e Fogo (A Tormenta de Espadas) até agora é o que possui um dos melhores finais. Soube dosar bem toda a carnificina característica das obras de Martin com o lado sobrenatural que começou a dar mostras de como pode tornar essa história ainda mais dramática. Foi daquelas conclusões de te deixar no afã doentio pela continuação. Ao escolher ceifar boa parte de seus personagens, Martin também encerra um ciclo e suscita dúvidas sobre os rumos que a história irá tomar. É de se esperar portanto que o leitor parta para a leitura do quarto livro da série com a expectativas lá em cima, o que infelizmente pode desapontar os mais afoitos.

Felizmente como já havia sido avisada de que este talvez fosse me desapontar um pouquinho, iniciei a leitura de O Festim dos Corvos com expectativas baixas e ciente de que o tamanho colossal do livro pudesse contribuir para que ela fosse ainda mais demorada. Ainda assim me surpreendi. Sabe o final eletrizante do livro antecessor? Suas consequências mais imediatas ficaram relegadas ao segundo plano. Só está presente por meio de dicas esparsas ao longo da leitura e nos permite um vislumbre apenas nos capítulos derradeiros. Isso porque Martin, prolixo que é, acabou prolongando-se demais na narrativa, o que o obrigou dividir um único livro em dois. Isso mesmo, O Festim dos Corvos e A Dança dos Dragões (livros quatro e cinco respectivamente) podem ser entendidos como uma obra única. Como Martin mesmo frisa na nota ao final do livro, ao se deparar com a enormidade do livro que tinha em mãos ele tinha duas alternativas: contar metade da história para todos os personagens, ou contar a história toda para metade deles e depois retomar a história para a outra metade; ele escolheu a segunda. Foi assim que O Festim dos Corvos acabou focando-se nos conluios, tramas e armações de Porto Real, na disputa pela Cadeira de Pedra do Mar dos Greyjoy, nas batalhas empreendidas pelos Lannister para manter seu poder e em alguns jovens lobos dispersos pelo reino e sedentos de vingança. Todos os outros acontecimentos: Muralha, Terras Livres, dragões, selvagens, corvos de três olhos, Senhor da Luz e etecetera ficam em suspenso, sendo retomados em A Dança dos Dragões.

A divisão feita por Martin faz todo o sentido não nego, mas é duro acompanhar a história do lado de cá da cerca, tendo vislumbres ocasionais do lado de lá onde a grama com toda a certeza é mais verde. Justamente por isso a leitura, pelo menos no meu caso, foi bastante demorada. Durante a primeira metade do livro perdi as contas de quantas vezes interrompi a leitura e de quanto tempo demorei para retomá-la. O Festim dos Corvos é um livro necessário, os eventos aqui narrados são imprescindíveis para aqueles narrados em A Dança dos Dragões, para ser mais específica, o quarto livro segue paralelo ao quinto, encerrando-se mais ou menos na metade da história narrada neste último. Forçando a barra, ouso dizer que é um mal necessário pois traz detalhes que precisamos tomar conhecimento mesmo que a nossa revelia e na maior parte das vezes apatia. Não foi à toa que meus POVs favoritos foram aqueles que continham vislumbres e pistas do que estava ocorrendo nos recantos ainda em polvorosa de Westeros, e que falta senti de mais pistas de além-mar.

Aliás é importante frisar que apesar do time de cronistas desta vez ser composto em sua maioria por vozes secundárias, são personagens que caíram nas graças do público para o bem ou para o mal (seja por serem nossos preferidos, ou por odiarmos e não vermos a hora de vê-los se darem mal), o que sem dúvida nenhuma contribuiu para garantir fluidez a uma obra que arrasta em muitos momentos e que transparece em várias partes quanta falta faz sua outra metade. Além dos cronistas propriamente ditos, temos também vislumbres de outros recantos de Westeros por meio da inclusão de capítulos sob o ponto de vista de algum “cronista convidado” e aqui sim o arrastar da narrativa em muitas partes ficou mais evidente, mas isso talvez tenha sido mais pelo fato das minhas preferências pessoais, porque o fato é que eu não consigo gostar dos Lulas Gigantes. Minha implicância pelos Greyjoy teve início com Theon e desde lá só tem aumentado, e as partes da história dedicadas à eles são tão arrastadas que só potencializam o sentimento.

Ainda bem que a partir da segunda metade da obra, especialmente nos capítulos derradeiros de cada um dos cronistas, a narrativa atinge a agilidade tão característica de Martin, compensando todo o marasmo da primeira parte. Por isso, apesar de todos os pesares o livro acabou bem avaliado. Afinal, a história pode até demorar para engrenar, mas Martin conseguiu provar que mesmo desfazendo-se de boa parte de seus personagens a tomada de novos caminhos garante o fôlego necessário para nos manter ligados no que ainda está por vir. Os últimos capítulos como de praxe reafirmam a promessa de muitas reviravoltas no próximo livro. Que venham as crônicas sobre a muralha e depois dela e sobre as terras além do mar. O inverno nunca esteve tão próximo com seus lobos guerreiros errantes e foras da lei e seus pactos sobrenaturais, e o jogo do trono segue fazendo vítimas e seduzindo novos jogadores que mal podem esperar para colocar suas estratégias em curso.

Conheça a série As Crônicas de Gelo e Fogo (livros já publicados no Brasil):

  1. A Guerra dos Tronos [Resenhas – MariNúbia]
  2. A Fúria dos Reis [Resenhas – Mari, Núbia]
  3. A Tormenta de Espadas [Resenhas – Mari, Núbia]
  4. Festim dos Corvos
  5. A Dança dos Dragões

 

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6 Comentários

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6 Respostas para “O Festim dos Corvos (George R. R. Martin)

  1. anicler

    Oi, tudo bem? Gostei da sua resenha, não acho que tenha spoilers, ao menos nenhum muito grande, o que é bom. Assim como você, demorei para terminar o livro 4 da série. O que me fez continuar foram os capítulos da Ariane. ANa segunda partedo livro até que a leitura fluiu mais rapidamente.

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    • Nubia Esther

      Oi moça, tudo bem e você? Obrigada, sempre tento evitá-los, já que não curto ler resenhas que entregam muito da trama (principalmente quando não nos avisam antes). Na resenha do terceiro livro feita pela Mari, ela comentou sobre uma teoria de que os livros pares seriam os mais ruinzinhos, minha experiência de leitura comprovou essa teoria, assim como este, o segundo livro foi o de que menos gostei, o primeiro é muito bom e o terceiro meu favorito, não vejo a hora de começar o quinto, mas tenho que me segurar para respeitar minha lista de leituras rsrs. Obrigada pela visita! 🙂

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  2. sou uma dissidente que gosta do quarto livro… principalmente por causa dos Lannister…

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    • Nubia Esther

      Todos eles? Alguns continuaram a me surpreender, tivemos vislumbres de outros que prometem ser personagens bem interessantes, de outros senti bastante falta e meu lado vingativo se deleitou com algumas passagens. Hahaha, é, no final são todos eles. Acabaram compensando o marasmo que foi a primeira parte da leitura.

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