Segunda Sombria (Nicci French)

Segunda Sombria

Nicci French é o pseudônimo adotado pelo casal de jornalistas Nicci Gerrard e Sean French, eles que também escrevem separadamente já publicaram mais de 15 romances a quatro mãos. Segunda Sombria (Blue Monday) é o primeiro volume de uma série que já conta com quatro livros publicados e traz como protagonista a psicoterapeuta Frieda Klein e promete uma mistura de romance psicológico, investigativo e procedural com uma pitada noir. Para conferir o tom sombrio da obra, os autores souberam usar com propriedade o espaço e a caracterização dos protagonistas. Toda a narrativa se passa em Londres em pleno inverno e frequentemente boa parte da ação ocorre no período noturno. Frieda Klein é uma antissocial de carteirinha. Apta e boa em ouvir, compreender e ajudar as pessoas a enfrentarem seus medos, ela tem seus próprios esqueletos no armário e mantém o mundo à parte, preza pela organização e luta contra tudo e todos para manter-se assim. O investigador Karlsson não é lá muito melhor, mas conta com um adendo que faz a dupla funcionar: falta-lhe a fleuma que Frieda tem de sobra. O que contribui para bate-bocas impagáveis entre os dois.

“Ela havia exposto sonhos e fragmentos de memórias, ou imagens que pareciam memórias, semelhanças. Porque era isso que ela fazia, essa era sua moeda: as coisas que aconteciam dentro da cabeça das pessoas, coisas que as deixavam felizes, infelizes ou com medo, as conexões, que elas faziam sozinhas, entre acontecimentos distintos que podiam conduzi-los em meio ao caos e ao medo.” página 240.

Tudo começa com o sequestro de um garoto de 5 anos, Matthew Faraday. O caso logo vira comoção nacional e estampa as páginas de todos os jornais. A notícia do garoto ruivo desaparecido logo chama a atenção de Frieda, pela similaridade com o garoto descrito por Alan, seu paciente, em sua última sessão. Alan começou a se consultar com Frieda por causa de sonhos recorrentes que o atormentam, situação já vivida por ele há mais de vinte anos. Sonhos causados pelo seu anseio de ser pai, de ter um menino ruivo para chamar de seu. E que já tiveram como protagonista, há mais de 20 anos atrás uma garotinha. Frieda passa a suspeitar de que seu paciente possa estar envolvido no crime e se vê tendo que decidir entre respeitar a relação médico-paciente, ou entrar em contato com a polícia. Depois de muito refletir ela decide entrar em contato com o inspetor Karlsson, responsável pela investigação do desaparecimento. E o fato dos sonhos de Alan fazerem um paralelo invejável aos casos de Matthew e de Joana, uma garotinha desaparecida há mais de 22 anos logo os coloca na busca por provas, ainda que para isso tenham que enveredar nos meandros de uma mente bastante perturbada.      

A narrativa ainda que predominantemente seja sob a ótica de Frieda, abre espaço para outros personagens, alguns com papel principal no desenvolvimento da trama, outros nem tanto assim. É possível captar pedaços do que se passa pela mente de Karlsson, Alan, Matthew, Carrie, Josef, Jack, do sequestrador… Como sempre digo, adotar este tipo de narrativa pode acabar sendo um tiro no pé, afinal, se por um lado é sempre bom saber um pouco mais sobre os personagens (o que sem dúvidas provoca a empatia do leitor) se a transição entre as vozes não for homogênea pode ficar bastante fragmentada. E infelizmente foi essa a impressão que tive ao começar a ler Segunda Sombria, principalmente na primeira metade da história. A impressão que tive era de que estava juntando retalhos, eram muitos os elementos e poucas as conexões entre eles. Felizmente ao se estabelecer o elo entre Frieda e Karlsson as peças começaram a se encaixar e a história ganhou a fluidez necessária e os elementos clássicos do bom romance policial prometidos na sinopse.

A conclusão da história teve uma certa previsibilidade, o que muito me admirou pois o acontecimento já havia sido explorado pouco antes na narrativa. Mas, foi uma previsibilidade boa, que manteve o tom sombrio da história até o fim, melhor do que a alternativa que seria ao meu ver uma saída muito fácil. Enfim, a mistura de romance psicológico e romance policial deu certo, Segunda Sombria pode não figurar entre os meus romances favoritos mas foi uma boa leitura. E é uma série que pretendo continuar acompanhando.

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