O Maravilhoso Agora, talvez estivesse predestinado a ser daqueles livros que talvez eu nunca fosse me dar conta dele, que acabaria passando despercebido em meio a tantos livros marcados como desejos de futuras leituras, isso porque tudo o que a sinopse da história de Tim Tharp promete é mais um romance adolescente. O envolvimento romântico entre duas pessoas completamente diferentes: ele, o rei das festas, o amigo da galera; ela, a nerd incompreendida, o desastre social. Histórias com esse mote há aos montes por aí, então não seria algo que me chamaria atenção para esse livro em particular. Provavelmente eu nunca teria conhecido Sutter Kelly se não fosse pela resenha que a Anica publicou em seu blog (o Hellfire Club) quando O Maravilhoso Agora era ainda apenas The Spectacular Now e nem havia previsão de sua publicação cá no Brasil. E eu nem me atrevo a sonhar em escrever uma resenha tão pormenorizada e certeira como a da Anica, e recomendo que aos que tem dúvida quanto à história ou estão indecisos se vale a pena ler ou não, que passem por lá e confiram seu texto.
Mas voltado ao livro. Se não é apenas mais um romance juvenil, então do que trata O Maravilhoso Agora? Traz a história de Sutter Kelly, um garoto que está no último ano do ensino médio, mas que ao contrário de todos os seus colegas que vivem de fazer planos para a vida pós-formatura, ele é extremamente apegado ao presente, de sentir PAVOR do futuro. Além disso, para Sutter a vida é uma constante festa e deve ser celebrada, de preferência com um 7Up e um whisky, em qualquer hora do dia ou noite. Sutter é o garoto carismático, que gosta de todo mundo, se dá bem com todo mundo e para quem não há tempo ruim. Ele é daquelas pessoas que fica feliz com a felicidade dos outros. Como não simpatizar com alguém que transborda tanta empatia? Mas em meio a tanta festa o que fica claro é que a relação do garoto com as bebidas ultrapassa qualquer limite aceitável, ainda que ele se utilize de justificativas tão fortes e mirabolantes para negar o problema com elas. E ele pode até falar que não bebe para esquecer, ou para fugir e que sua vida é maravilhosa, mas ao conhecermos um pouco mais de seu passado e percebermos que lhe falta a perspectiva de um futuro fica difícil acreditar nessa desculpa…
“Sabe, a questão é a atitude que se tem com a bebida. (…) Não bebo para esquecer ou para esconder algo ou por fuga. Do que estaria fugindo?
Não, tudo o que faço quando estou bebendo é ser criativo, expandir meus horizontes. Na verdade, é bem educativo. Quando estou bebendo é como se pudesse ver outra dimensão do mundo. Entendo meus amigos num plano mais profundo. Palavras e ideias que nem sabia que conhecia saem voando da minha boca como periquitos exóticos. Quando assisto À TV, invento os diálogos, e eles são muito melhores do que qualquer coisa que os roteiristas tenham sonhado. Sou misericordioso e engraçado. E me engrandeço na beleza e no senso de humor de Deus.
A verdade é que sou o bêbado de Deus.” página 25.
O plot principal dessa história pode até ser o encontro de Sutter com Aimee, mas até chegarmos a isso Tharp nos permite ir conhecendo seu protagonista aos poucos. Por meio de pequenos maravilhosos agoras vividos por Sutter, vamos conhecendo mais de sua personalidade amigável, brincalhona, sarcástica, irresponsável (?), e temos vislumbres do que realmente está por baixo de um exterior tão esfuziante.
Sutter namorava Cassidy, mas um mal entendido coloca um fim no relacionamento dos dois. E ele até tenta reconquistá-la, mas a garota aparentemente partiu para outra. E sendo Sutter do jeito que é, faz piada da própria desgraça para não sair por baixo, ainda que com certeza esteja despedaçado por dentro. Aliás, eis uma das entrelinhas mais palpáveis ao longo do texto de Tharp. Apesar, dos diálogos que muitas vezes beiram a comicidade, a melancolia e o drama estão sempre ali à espreita, esperando para inundar a narrativa em sua bruma cinzenta. Ao despertar de um desses momentos de auto piedade regado a muito álcool, Sutter se depara com Aimee, uma garota que estuda na mesma escola que ele e que até então ele nem sabia que existia. Aimee é a típica boa garota que não sabe falar não, nerd, viciada em ficção científica, um verdadeiro desastre social.
Desde o início fica claro que Aimee é apenas uma substituta para Cassidy. É o projeto que Sutter tomou para si para enfrentar sua dor de cotovelo. Tirar Aimee da concha em que ela se esconde e ensiná-la a ganhar autoconfiança e atitude, o que não deixa de ser meio paradoxal sendo o professor alguém que até pode transbordar autoconfiança mas a quem falta decididamente a atitude de enfrentar o mundo. Principalmente se esse mundo vem acompanhado das palavras planos e futuro. E é em cima dessa relação tortuosa, na qual Sutter entra repleto de boas intenções, mas que acaba frequentemente trocando os pés pelas mãos, e Aimee recebe todos os sinais errados e acaba construindo castelos no ar, que o futuro bate às portas e sacode o mundo desse garoto apaixonado pelo imperioso agora. As mudanças na vida de Aimee vão além daquelas premeditadas por Sutter e ele mesmo vê-se obrigado a enfrentar alguns de seus fantasmas. Com isso a narrativa de Tharp vai atingindo uma densidade que em alguns momentos chega a ser deprimente e que acaba culminando com um final de travar a garganta, ainda que extremamente poético e coerente. Definitivamente não á apenas mais um romance juvenil entre opostos.
Ah, o livro foi adaptado para o cinema sob a direção de James Ponsoldt e tem como protagonista Miles Teller (Divergente) e Shailene Woodley (Divergente e A Culpa é das Estrelas).
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Nubia, sua linda ❤
Fiquei feliz quando vi que a Record finalmente lançou o livro por aqui. Tenho essa coisa com os livros que eu gosto: quero que o maior número possível de pessoas o conheça haha
Só ainda não entendi como foi que o livro não saiu pela Galera. É YA, deveria sair pela Galera Record, não? É o tipo de coisa que aumenta o preconceito das pessoas sobre YA, se for pensar bem: "Ah, esse aqui é denso e complicado, então sai no selo adulto". YA não precisa ser sempre leve e simples (vide o caso de A culpa é das estrelas).
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