“Quem eram aquelas pessoas? Onde estava toda aquela alegria, e onde ela se esconde depois de abandonar uma família? Será que vai para outra família, funde-se à terra ou se dissolve no ar como a fumacinha de nossa respiração no inverno? E se a alegria não vai embora, então por que não sobrou nem um pouquinho para mim?” Página 25.
No dia em que Joia nasceu, seu irmão John pulou para a morte. Neste mesmo dia, seu avô parou de falar. Isso porque a família atribui a ele a culpa pela morte de John, afinal, foi ele que lhe deu o apelido de Passarinho, quem talvez tenha feito o garoto de cinco anos acreditar que podia voar, o responsável pelo salto de Passarinho de um penhasco. Foi sob esta tensão que Joia nasceu e é sob esta tensão que ela vive desde então. Um avô que nunca fala e que parece guardar dentro de si uma raiva imensa contra tudo e todos, uma mãe que nunca parece estar feliz de verdade e um pai que vive excessivamente preocupado com o sobrenatural, especialmente com os duppies – os espíritos malvados tão comuns no país natal de sua família, a Jamaica.
Joia sempre se sentiu um zero à esquerda na vida dos pais. A começar pelo seu nome que ela tem certeza de que recebeu não por ser preciosa para os pais, mas por também começar com J como John e porque eles sentem saudades dele e não queriam lhe dar um nome comum. Passarinho fora importante, ela é só alguém fazendo número, aumentando a conta de gente na família.
Joia é uma garota de 12 anos e é por ela que conhecemos a história de Passarinho e somo inseridos no dia-a-dia dessa família alquebrada pelo luto. Em suma, Passarinho é sobre enfrentar as perdas, lidar com os acasos da vida e se reconstruir a partir dos cacos em que foi deixado. Um romance com essa temática poderia acabar assumindo um ar de autoajuda ou caindo na pieguice, mas ao encarregar Joia da narrativa Chang conferiu à história uma visão inocente e questionadora e ao adicionar um pouco de mistério conferiu um lado sobrenatural que tornou o desenrolar desse drama muito mais dinâmico. Ao introduzir na história um outro garoto chamado John, Chan deu a Joia a chance de ter alguém a quem chamar de amigo, confessar seus medos e dividir seus sonhos e à família da garota o gatilho necessário para vencer a barreira do silêncio que por tanto tempo isolou os moradores daquela casa em seus próprios pensamentos e medos.
Será John um duppy como acredita seu vô e seu pai? Será que uma maldição recaiu sobre sua família no dia em que Passarinho morreu? É possível trazer de volta um pouco da alegria que antes dela existir parecia habitar aquela casa? O desenrolar da amizade entre Joia e John ocorre de forma bastante natural, ao mesmo tempo que consegue manter a dúvida sobre a natureza do garoto. Ele é real? Ele é um duppy? Ele realmente quer o bem de Joia? A presença de John também acaba incitando a aproximação de Joia e seu avô e aqui talvez esteja o ponto alto da narrativa de Chan, a forma como avô e neta se aproximam e descobrem um ao outro é tocante. Em meio à tantos questionamentos, muitos fatos científicos (compartilhados pela garota que sonha em ser geóloga e pelo garoto que quer ser astronauta) e uma pluralidade de culturas e crenças, Chan criou um romance que trata de um tema denso de forma leve, sem banalizar o assunto. E o final dessa história é de arrancar lágrimas dos olhos, mas também lhe coloca um sorriso no rosto.
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