A Longa Marcha Dos Grilos Canibais (Fernando Reinach)

a longa marcha

“Cada descoberta científica é uma pequena história de aventura. Partindo da segurança de um lugar conhecido, a expedição penetra em território inexplorado. Muitas vezes a aventura é apenas divertida, outras vezes nos força a mudar crenças centenárias. As implicações do que encontramos podem ser morais, políticas ou deliciosamente práticas.” Página 13.

As descobertas científicas, quer sejam elas grandes ou pequenas, desvendam para nós um pouco mais sobre os mistérios, respondem questões centenárias, derrubam por terra crenças dogmáticas, geram novas e/ou corroboram velhas teorias. Essas descobertas são divulgadas no formato de publicações científicas, mais comumente nos artigos publicados em revistas especializadas na área. É uma boa forma de fazer com que os resultados de uma pesquisa venha a público (ainda que o sistema utilizado atualmente falhe em alguns pontos), mas a linguagem técnica utilizada torna esses textos praticamente inacessíveis para o público leigo. Muitas vezes a história retratada ali é belíssima, mas o texto árido acaba afastando muitos curiosos. Por esse motivo, admiro quem trabalha para fazer essa ponte academia-sociedade, recontando o que está sendo produzido e quais conhecimentos novos foram gerados em uma linguagem direta e clara. Textos que podem despertar a curiosidade em algumas mentes e porque não, contribuir para que alguém decida-se por seguir a carreira científica. E digo isso com o conhecimento de quem consumia com afinco durante a adolescência os textos publicados na Superinteressante, Ciência Hoje e Scientific American e que continua indo atrás desse tipo de publicação, denominada de divulgação científica, nos blogs e colunas de sites e principalmente nos livros.

Em A Longa Marcha dos Grilos Canibais (eis mais um dos motivos que me fazem adorar este tipo de literatura, os títulos, em sua maioria, estranhos e poéticos), Fernando Reinach pretende recontar algumas dessas descobertas científicas. O livro está estruturado em pequenas crônicas, em sua maioria baseadas em apenas um único trabalho científico. No final de cada uma, Reinach coloca a referência do artigo que o inspirou, para que os curiosos de plantão possam ir atrás de mais informações.

As crônicas publicadas aqui foram selecionadas a partir de uma série de textos que o autor publicou em sua coluna semanal no jornal O Estado de São Paulo entre os anos de 2004 e 2009. Elas foram agrupadas em onze áreas temáticas: ambiente, florestas, sexo, comportamento, mente, humano, passado, arte, alimentação, tecnologia e política. Essa estruturação foi uma boa ideia. Como este é um livro que você pode lê-lo inteiro de uma vez, aos poucos, ou apenas os textos que versem sobre os assuntos de seu interesse, essa tática facilita a vida do leitor. Por outro lado, algumas seções ficaram um pouco redundantes, provavelmente porque durante esses seis anos que Reinach publicou sua coluna, ele vez ou outra pode ter revisitado um assunto, ou reforçado alguma informação já fornecida. Na linha temporal seguida pelas publicações em um jornal isso não é percebido, porém ao agrupar os textos de um mesmo assunto isso ficou evidente, tornando a leitura em alguns momentos cansativa, devido a impressão de que estávamos lendo mais do mesmo. Alguns textos de algumas seções poderiam facilmente ser retirados sem causar prejuízo, quiçá até contribuindo para tornar a leitura mais fluida.

Mas, tirando este pequeno contratempo, o livro traz muitas informações.

“Ao contrário de um livro didático, que descreve, agrupa e interconecta tudo o que foi descoberto pelas inúmeras expedições que visitaram o mesmo território, estes textos sacrificam a visão geral da floresta recém-desvendada em favor do prazer de cada caminhada no seu interior ainda desconhecido.” Página 14.

É por meio dessas pequenas “caminhadas” que Reinach discorre sobre os moais, aquelas grandes estátuas de pedras da Ilha de Páscoa; sobre as mudanças climáticas; a origem do ato sexual nos vertebrados; como teve início a longa relação afetiva entre humanos e cães; traz o fato biológico que serviu de inspiração para o título do livro; desvenda alguns dados curiosos envolvendo o funcionamento do cérebro humano; discorre sobre as implicações de trocarmos células com nossa mãe durante a vida uterina; traz a reconstrução da receita do primeiro macarrão (Que é chinês! Não árabe ou italiano.); ou ainda como as espécies de piolhos ajudaram a descobrir em qual momento de nossa história surgiram as vestimentas. Alguns assuntos são mais sérios, tem implicações morais, políticas e influenciam diretamente nossa vida em sociedade, outros são os que alguns podem até classificar de conhecimento inútil ou fútil. Prefiro dizer que são contribuições, ainda que pontuais, que nos ajudam a entender um pouco mais o mundo e nossa história.

Sobre o autor: Fernando Reinach é formado em biologia pela USP (1978) e obteve seu doutorado em Biologia Celular e Anatomia pela Cornwell University (1984). Foi professor e pesquisador do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP e foi um dos coordenadores do projeto que sequenciou o genoma da bactéria Xylella fastidiosa.

PS: Se você também gosta de ler sobre ciência, clique na tag “divulgação científica” abaixo e leia sobre outros livros de divulgação científica que eu e a Mari já falamos por aqui. Os de biologia em sua maioria foram lidos por mim, os de química pela Mari. Mesmo não querendo, acabamos sendo bem parciais nas nossas escolhas de leituras. xD

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