Com os outros romances do Nick Hornby que já li, tive a oportunidade de conferir como ele desenvolve narradores femininos e masculinos, mas com Um Grande Garoto, pude ver como ele trabalhou seu humor característico do ponto de vista de um garoto de 12 anos. E muito bem, diga-se de passagem. Um Grande Garoto (About a Boy) é o seu segundo romance. Publicado em 1998, aqui no Brasil em 2000, a obra já foi adaptada para as telas em 2002 (filme que evitei assistir até hoje – pois é, tenho minhas manias) e atualmente foi transformado em série, mostrando o quanto o tema abordado por Hornby continua atual, apesar de na essência ser um romance totalmente anos 90. A trama se passa em 1993.

Filme de 2002. Estrelado por Hugh Grant e Nicholas Hout e dirigido por Chris Weitz e Paul Weitz.

Série da NBC (2014) estrelada por David Walton e Benjamin Stockham.
Todos os elementos que tornam os romances de Hornby tão característicos, estão presentes: o personagem deveras obsessivo, relacionamentos fracassados, seus diálogos sarcásticos e muitas referências à cultura pop. E ele os explora do ponto de vista de um quase quarentão que preza por sua liberdade, mas que ao mesmo tempo não suporta ficar sozinho, e pelo ponto de vista de um garoto considerado esquisito por muitos, um alvo ambulante para os colegas da escola (olha o Hornby falando de bullying antes do tema ter entrado em voga e passar a ser explorado em demasia), um caso sério de anacronismo ambulante.
“Ele estava vivendo uma fase de merda na escola e uma fase de merda em casa, e como a vida era feita só de escola e casa, mais ou menos, isso significava que ele estava vivendo uma fase de merda o tempo todo, a não ser quando estava dormindo. Alguém ia ter que fazer algo a respeito daquilo, porque ele próprio, não podia fazer nada, e não via quem mais pudesse ser senão aquela mulher ali debaixo do casaco.” página 44.
Will Freeman é um homem livre e desimpedido de 36 anos. Ele vive de rendimentos gerados por uma música escrita por seu pai, não trabalha e como ele mesmo gosta de frisar, não faz nada da vida, não criou uma vida própria. Assim, ele vive preenchendo sua vida com metas que na maioria das vezes envolve a vida de outras pessoas. Por exemplo, agora ele está determinado a ter um relacionamento com uma mãe solteira, porque ele tem certeza de que este é um nicho pouco explorado (é, ele tem dessas). E para conseguir seu intento ele não pensa suas vezes em criar subterfúgios, como fingir ser um pai solteiro e frequentar grupos de apoio. O Will que nos é apresentado é egocêntrico e egoísta, mas bastou um garoto cruzar seu caminho para ele, em sua forma tortuosa de agir, tomar para si o papel de salvador da pátria, ou melhor dizendo de salvador da vida do Marcus.
Marcus é filho de pais separados, recém chegado à Londres com a mãe, que acabou de terminar mais um relacionamento e que está com um caso sério de depressão. Para piorar, suas roupas esquisitas e o corte de cabelo estranho o tornam alvo de chacotas na escola e sua mãe simplesmente não enxerga que cria-lo em uma espécie de mundo paralelo, onde tudo que é dedicado à sua faixa etária é proibido, não ajuda nem um pouco. E é aqui que entra Will. Ao conhecer Marcus e sua mãe, Will acha que pode ajudá-lo, e Marcus, bem, ele tem seus próprios planos envolvendo Will.
Quando esses dois mundos distintos colidem, surge uma bela história de amizade, quase uma relação de pai e filho e na maioria das vezes uma relação fraternal com todas as discussões e lealdades tão características. Will fornece o que Marcus tanto necessita (ainda que na maioria das vezes erre a dose ou na abordagem), sem perceber que Marcus faz o mesmo por ele, lhe dando algo que ele nem sabia que precisava. Hornby explora assim, as mudanças que as pessoas podem fazer na vida uma das outras. Um Grande Garoto acima de tudo é um romance sobre o cotidiano, e definitivamente Hornby é um dos meus autores favoritos do gênero.
Em tempo, como a edição brasileira é bem antiga, não é muito fácil adquirir o livro. O jeito é recorrer aos sebos, adquirir uma edição no idioma original, ou cruzar os dedos e torcer para a Companhia das Letras (atual detentora dos direitos de publicação do autor) não demorar para lançar uma nova edição.
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