“Esmagada e espremida, esgotada e desmoralizada, vendo tudo ser arrancado dela, Kitty refletiu que isso era o que ela causara a Colin Maguire, enquanto os repórteres se chocavam contra ela. Ela continuou caminhando, um passo à frente do outro; era tudo o que conseguia fazer. Queixo empinado, não sorria, não chore, não caia, caminhe. ” (Página 37)
Kitty Logan tem 32 anos, é jornalista e não está vivendo uma boa fase em sua vida. Kitty foi responsável por uma matéria que acabou se tornando um escândalo, destruiu a vida de pessoas e agora está sendo processada. Para piorar, Constance sua amiga e mentora há mais de dez anos, está muito doente. Em uma de suas últimas conversas com a amiga, Kitty pergunta a Constance se houve uma história que ela sempre quis escrever e nunca o fez. Constance pede para Kitty pegar um arquivo intitulado “Nomes” e retornar ao hospital para que ela lhe conte sobre o que se trata. Mas, Kitty não tem tempo de saber mais sobre a história da amiga. Constance morreu, seu emprego na TV foi para o espaço e o emprego na revista fundada por Constance está por um fio, seu melhor amigo perdeu a paciência com ela e seu namorado a deixou.
Poderia ser considerada uma coitada, mas a verdade é que tirando a tragédia da perda da amiga, todas as outras perdas ocorreram em decorrência dos seus atos. Então, Ahern não nos vende sua protagonista como a coitada sofredora que precisa dar a volta por cima, e reside aí o maior acerto desta obra. Kitty é a mulher que fez escolhas erradas, agiu errado (e muito) e que agora precisa repensar seus atos e se reencontrar sem ter o alicerce que sempre esteve ao seu lado para o que desse e viesse, sua miga Constance. Mais real, impossível.
Só que Constance deixou para trás uma história inacabada e agora cabe a Kitty a tarefa de escrever a história que a miga sempre quis contar. Como ponto de partida, apenas uma lista de cem nomes. E, enquanto tenta desvendar o grande segredo que a lista esconde, Kitty precisa lidar com as consequências dos seus atos: a falta de confiança das pessoas, a carreira em xeque e as retaliações anônimas que vem sofrendo.
A narrativa de Ahern é fluída e instigante. Depois que a dúvida sobre a lista é plantada, é impossível largar a leitura pois o que mais queremos é desvendar o grande segredo junto com Kitty. E claro, que em se tratando de Ahern, há muito drama, mas também sobra espaço para o riso, a amizade e o romance. A forma como Ahern vai encaixando todas as peças, o crescimento de Kitty ao descobrir todas essas histórias, é emocionante. E Ahern soube manter as expectativas altas até os últimos momentos. Das histórias dela que já li (não gente, eu não li P.S. Eu te Amo), esta foi a que eu mais gostei. A história começa despretensiosa, mas atinge uma carga dramática e uma sensibilidade tão grande, que te fisga para a história das pessoas dessa lista. Desconhecidos que aos poucos nos cativam e que promovem enormes mudanças na vida de Kitty. E Kitty, apesar de todas as burradas que cometeu, não é uma personagem chata, muito pelo contrário. Desde o início ela consegue angariar nossa empatia, justamente por não fazer uso do ‘coitadismo’ e aceitar que precisa pagar o preço por suas escolhas, mas também não bandeia para o estoicismo, o que é muito bom porque se transformar em saco de pancadas também não é muito legal.
Minha única tristeza reside no fato da revista Etcetera não existir de verdade, adoraria acompanhar os futuros números da revista.
P.S. O trabalho de diagramação interna, os detalhes internos da capa e a capa onde os nomes da lista são protagonistas renderam uma edição muito bonita. A Novo Conceito está de parabéns.
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