“Ao contrário de quase qualquer outra pessoa no planeta, desde as nossas primeiras células estávamos juntos, viemos para este mundo juntos. Por isso é que quase ninguém nota que Jude fala por nós dois, por isso é que conseguimos tocar piano somente a quatro mãos, nunca sozinhos, por isso é que nunca brincamos de joquempô, porque nunca, em treze anos, escolhemos coisas diferente. É sempre assim: duas pedras, dois papéis, duas tesouras. Quando não nos desenho assim, eu nos desenho como pessoas pela metade. ” (Página 26)
Noah e Jude são gêmeos e apesar de sempre terem se visto como uma única entidade, conforme cresciam começaram a se tornar competitivos. Competiam pela afeição dos pais, pelos amigos e amores e por uma vaga na melhor escola de artes da Califórnia. Conforme o traço competitivo vai se acentuando, Noah e Jude vão colecionando mal-entendidos que frequentemente os fazem machucar um ao outro e a si próprios no processo.
Nelson escolheu contar a história desses dois irmãos de maneira pouco ortodoxa. A narrativa é feita do ponto de vista de Jude e Noah, mas não é nem um pouco linear. Noah nos conta seu ponto de vista dessa história a partir dos seus treze anos. Jude nos entrega seu lado a partir dos dezesseis.
Com Noah descobrimos o garoto com dificuldade em fazer amigos, que teme em assumir seus verdadeiros sentimentos, que constantemente é alvo de bullying, que não tem uma relação amorosa com o pai e que desde que se entende por gente vive às voltas com pranchetas, papéis, lápis e tintas, e que mesmo na ausência de tais ferramentas é capaz de fazer pinturas mentais das situações vividas por ele. E esses “quadros mentais” pontuam toda a sua narrativa, que não estranhamente foi intitulada por Nelson de O Museu Invisível. Não é muito difícil ter empatia quase que instantânea por Noah e torcer o nariz para algumas atitudes da Jude de treze anos. Mas, aos 16, encontramos uma garota que almeja desesperadamente fazer as pazes com o seu passado e consertar o relacionamento com o irmão. Jude não é mais a garota popular, guarda uma mágoa do passado que a fez se isolar do mundo, tem um pendor para a hipocondria e segue piamente a “bíblia” herdada da avó, um aglomerado aleatório de superstições, simpatias e máximas com as quais elas nos brinda ao longo de toda sua narrativa. Jude é A História da Sorte.
É surpreendente como a história criada por Nelson acaba dando voltas e retornando à pontos em que já esteve, com personagens já conhecidos pelo Noah de 13 anos, sendo conhecidos pela Jude de agora. Enquanto Jude tenta se reencontrar, Noah também está perdido, pelo menos não é mais o garoto revolucionário que vivia para pintar. Será que a jornada que Jude está empreendendo deixará ela e Noah próximos novamente? Ou uma vez quebrada, a relação não terá mais conserto?
Por ser contada de pontos de vista diferentes e em períodos diferentes. Em muitas partes conhecemos o fim, para depois retornar ao começo e ao evento catártico que gerou a dinâmica atual. É como se Nelson estivesse a monta um grande quebra-cabeças, o quebra-cabeças da vida de Noah e Jude. E ela o monta de forma totalmente aleatória, mas aos poucos, alguns padrões são revelados e pistas do quadro geral começam a ser fornecidas. É a partir desse momento que ela te fisga totalmente à história. Não importa se você começou a leitura tendo como favorito Noah ou Jude. Aos poucos você se pega querendo saber mais sobre eles ao mesmo tempo, que passado e presente se revelem simultaneamente. Que o quebra-cabeças finalmente seja finalizado e que as implicações dele sejam reveladas.
No fim Jandy Nelson criou um romance familiar que esmiúça o relacionamento fraternal sob diferentes prismas, sob diferentes pressões. É uma história de redenção com o passado, sobre entender as escolhas que os trouxeram até aqui e sobre como irão enfrentar o futuro. Em sua totalidade é uma história triste, há muito drama, muitos desencontros e um bocado de tragédia, o sentimento de perda, de luto, permeia toda a obra. Mas, também há esperança e Nelson soube trabalhar isso muito bem. Pelo que li em algumas resenhas, muitos pontuaram que a premissa de Eu te darei o Sol é muito semelhante a de O Céu está em todo Lugar e que por isso muito do brilho, da originalidade desse segundo livro é perdida. Bom, para mim que até então não havia tido contato com obras da autora, funcionou muito bem, A leitura é rápida, a história emociona e te leva a refletir sobre família, escolhas, arrependimentos e superação.
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