“Nossos livros (…) registraram a passagem do tempo real, e porque nos lembravam de todas as ocasiões em que tinham sido lidos e relidos, também refletiram a passagem das décadas precedentes.
Os livros escreveram a história da nossa vida e, à medida que se acumularam nas estantes (e no parapeito das janelas, e debaixo do sofá, e em cima da geladeira), tornaram-se capítulos dela. Como poderia ser diferente? ” (Página 9)
Anne Fadiman cresceu em uma família de leitores e escritores, mais tarde casou-se com um escritor, sendo ela mesma editora e escritora. Desde pequena vive entre os livros e esse relacionamento íntimo lhe propiciou angariar alguns costumes peculiares e colecionar anedotas e curiosidades envolvendo o universo da leitura. São essas experiências como leitora, como escritora e como amante dos livros que Fadiman compartilha conosco. Os ensaios contidos no livro foram primeiramente publicados na coluna “O Leitor Comum” que Fadiman assinava na revista Civilization. Em Ex-Libris – Confissões de uma Leitora Comum, ela compartilha dezoito ensaios escritos em um período de quatro anos.
Alguns dos assuntos tratados aqui merecem menção pois reverberam em experiências vivenciadas por muitos leitores. Como as manias de cada um (ou a falta delas) com a organização de suas estantes. E para os que casaram, a árdua tarefa de misturar estantes e sistemas de organização. Aquela porção da sua estante em que repousa uma coleção de volumes destoantes do resto, sua excentricidade particular. Os diversos tipos de leitores. A dicotomia ente os que não admitem nenhuma marca nos livros, que devem permanecer imaculados, e os que no outro extremo, riscam, marcam, fazem anotações nas margens das páginas. Gente, o pai dela, para reduzir o peso das brochuras que lia em suas viagens de avião, rasgava os capítulos terminados e jogava-os no lixo! Ainda bem que hoje temos os e-readers né. Sobra espaço para ela também falar sobre o prazer de ler um livro no lugar em que a história se passa. E a grande importância dos pais como formadores de futuros leitores.
Outros assuntos não são tão frequentes (uns são particularmente raros) em nosso cotidiano, mas são curiosidades que qualquer fã de livros adoraria conhecer. Como o caso envolvendo George Bernard Shaw, que ao deparar-se com um livro seu dedicado a fulano em um sebo, comprou o livro, acrescentou uma nova dedicatória ao fulano e reenviou o livro ao dono original, impagável,
Há muita coisa boa e divertida envolvendo os livros e a literatura em Ex-Libris, mas Fadiman também não se privou de trazer à tona assuntos espinhosos, como os ensaios sobre os casos de plágio e o sobre a questão de gênero na literatura. O bom é que tudo foi muito contrabalançado, o que rendeu uma leitura leve e densa na medida certa. Ex-Libris é um livro sobre livros. Sobre o leitor comum, sobre a paixão e o amor pela leitura. Um retrato bastante abrangente (em poucas páginas, que bem poderiam ser mais) que tem tudo para agradar os aficionados por livros. A declaração de amor pode ser de Fadiman, mas a mensagem ressoa os sentimentos de qualquer bookaholic, não dá para ficar incólume.
PS: É realmente uma pena que a edição brasileira já esteja um tanto antiga (2002) e que encontrar o livro não seja das tarefas mais fáceis.
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