Anthony Horowitz faz parte do exclusivo rol, na verdade apenas ele e o autor Andrew Lane (da série O Jovem Sherlock Holmes), a ter autorização oficial da Conan Doyle Estate Ltd – entidade que administra a protege a obra do escritor – para revisitar o universo sherlockiano e os personagens criados por Conan Doyle. Sua primeira incursão, foi com o romance A Casa de Seda publicado no Brasil pela Editora Zahar. Ali, Watson em sua velhice e após a morte de Holmes, decide prestar uma última homenagem ao amigo e narrar os acontecimentos de um antigo caso. Agora, em Moriarty, Horowitz toma como ponto de partida o emblemático confronto de Holmes e seu nêmesis Moriarty em Reichenbach Falls, que culminou na queda dos dois na cachoeira suíça. O intuito de Doyle era “aposentar” seu mais famoso personagem, mas acabou tendo de voltar atrás e ressuscitá-lo devido ao clamor dos fãs. É a incerteza deste momento que Horowitz explora em seu romance. “Alguém realmente acredita no que aconteceu nas cataratas de Reichenbach?” Holmes morreu? Moriarty está morto?
A Scotland Yard envia para a cidadezinha suíça, o inspetor e grande admirador das técnicas de Holmes, Athelney Jones. A visita oficial era para ser uma mera cortesia da instituição que muitas vezes recebeu ajuda do famoso detetive para encerrar suas investigações, mas Jones encontra em Meiringen o detetive norte-americano – da Agência de Detetives Pinkerton – Frederick Chase, que traz à tona um novo caso. A morte de Moriarty deixou um grande espaço no submundo do crime, espaço que um gênio do crime do outro lado do Atlântico está determinado a ocupar. E é assim, que Jones se vê envolvido em uma investigação, muito maior e mais perigosa, na companhia de Chase.
A narrativa em primeira pessoa, cabe a Chase, assim como nas obras do cânone cabia a Watson, e Jones, de certa forma, toma para si a tarefa de representar Holmes. Assim, Watson e Holmes tem pouca participação na trama corrente. Contudo, Horowitz garante a onipresença dos personagens, ao referenciar vários dos casos pregressos do detetive. E é bom frisar que não os conhecer, não atrapalha a leitura (desde que você não ligue de receber um spoiler ou dois), mas ter conhecimento sobre eles, torna a leitura mais enriquecedora. Afinal, é de posse desse conhecimento que sabemos o que esperar dos inspetores Lestrade e Gregson, e são os encontros antigos de Holmes e Jones que moldaram o comportamento atual do inspetor.
“Em suma, o inspetor Athelney Jones se equalizaria ao mais famoso detetive consultor do mundo e, para esse fim, se lançaria em seu trabalho com um vigor que desmentia a doença que o havia aleijado. Está vendo algumas das evidências à sua volta, mas acredite-me quando digo que isto é apenas uma pequena parte delas. Ele leu tudo o que o Sr. Holmes algum dia escreveu. Estudou seus métodos e replicou seus experimentos. Consultou todos os inspetores que algum dia trabalharam com ele. Ou seja, transformou Sherlock Holmes no próprio paradigma de sua vida.” (Página 168)
Meus conhecimentos acerca do universo de Holmes são parcos, li apenas três das suas novelas e um conto aqui e outro acolá. Mas, creio que as experiências serviram para que eu percebesse alguns dos elementos tão característicos do autor: a lógica dedutiva sherlockiana, o pendor para os disfarces, as reviravoltas bem colocadas e a interação dos personagens. E Horowitz, não deixa nada a desejar. Ele realmente adentrou no mundo sherlockiano e nos brindou com uma história que faz jus ao legado deixado por Doyle e que abre novas possibilidades de histórias envolvendo os moradores da casa 221B da Baker Street. Nem sempre esse “revival” feito por outros autores a partir de personagens e/ou obras inacabadas acaba sendo uma boa estratégia. Muitas vezes a essência dos personagens acaba perdendo-se no processo de reconstrução e o material entregado acaba ficando aquém do desejado pelos fãs. Felizmente não é o que acontece aqui. Espero que Horowitz continue produzindo novas aventuras e aumentando o cânone sherlockiano.
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