“Segundo um velho ditado, é melhor viajar com esperança do que chegar ao destino. A busca por descobertas estimula nossa criatividade em todos os campos, não apenas na ciência. Se chegássemos ao fim da linha, o espírito humano feneceria e morreria. Mas acho que nunca vamos ficar estagnados: devemos crescer em complexidade, quando não em profundidade, e seremos sempre o centro de um horizonte de possibilidades em expansão. ” (Página 8)
Que bom que o interesse nas obras do Hawking não feneceu após a vibe do filme A Teoria de Tudo ter passado. Melhor ainda, o interesse permaneceu e a editora Intrínseca manteve sua parcela de contribuição para isso ao trazer novas edições das obras mais emblemáticas (direcionadas ao público geral) do autor: Uma Breve História do Tempo e O Universo Numa Casca de Noz. Este último, publicado anos depois (em 2001) de Uma Breve História do Tempo, teve como inspiração o incrível sucesso de seu predecessor. Nele, Hawking continua a tarefa de escrever sobre as descobertas da física e da cosmologia, em uma viagem do extraordinariamente vasto como a representada pelas distâncias interestelares, ao extraordinariamente minúsculo como o comprimento de Planck.
Como comentei na resenha de Uma Breve História do Tempo, ainda que alguns capítulos fluam bem e sejam de fácil compreensão, alguns capítulos são bastante áridos e podem ser desencorajadores. Hawking estava ciente disso. Ele também sabia que a forma como estruturou o livro (linearmente) podia empacar leitores nos primeiros capítulos, impedindo-os de chegarem aos capítulos mais interessantes e didáticos do livro. Quando ele estava planejando O Universo Numa Casca de Noz ele pensou nisso e quis que este novo livro fosse muito mais acessível. Sua primeira decisão foi quanto à estrutura. O livro conta com sete capítulos e apenas os dois primeiros exigem uma linearidade na leitura, os demais podem ser lidos em qualquer ordem. Além disso, o livro conta com alguns adendos bastante interessantes, como ilustrações, infográficos e boxes contendo textos extras. Eu que reclamei tanto da falta de notas de rodapé em Uma Breve História do Tempo, me deparei com um material ricamente ilustrado que tornou a leitura muito mais clara e completa. Hawking realmente conseguiu escrever um livro de divulgação científica sobre física e cosmologia para leigos.
Nos dois primeiros capítulos, Hawking apresenta um breve histórico sobre os trabalhos de Einstein. Há muita teoria, há bastante exemplos e muitos fatos históricos, além do contexto social das descobertas científicas e seus impactos. Neles estão as informações fundamentais que irão permear todos os capítulos subsequentes, nos quais Hawking explora o macrocosmo, o microcosmo e a contínua busca pela teoria unificadora. Big Bang, o universo sem contorno, a teoria das múltiplas histórias de Richard Feynman, buracos negros, buracos de minhocas, viagens temporais…
“Essa é uma questão que os físicos devem ser livres para discutir sem virar alvos de piadas. ”
(Página 155)
Hawking também traça um paralelo entre o crescimento populacional e a tecnologia e a tendência das vidas biológica e eletrônica continuarem a ganhar complexidade a uma taxa cada vez maior. E encerra o livro com a busca do Graal: a teoria unificadora e todas as descobertas e teorias que advieram de certa forma dessa busca: Teoria-M, matéria negra, mundos brana, partículas elementares que esperava-se que fossem descobertas/confirmadas com a construção de aceleradores de partículas (como o bóson de Higgs o foi após a construção do LHC – Grande Colisor de Hádrons) e as implicações das ondas gravitacionais. Sim, elas que foram preditas por Einstein em 1916 e detectadas por pesquisadores do LIGO (Laser Interferometer Gravitational Wave Observatory) no final do ano passado.
Leitura mais que obrigatória para todos os que se interessam pelo universo e tudo mais. Tudo isso com um texto repleto de piadinhas. Ler sobre ciência, divertindo-se no processo (melhor dizendo gargalhando no processo) não tem preço. E, além disso, com uma edição impecável da Intrínseca, tanto na tradução, com revisão técnica do astrofísico Amâncio Friaça, quanto na parte física (cores, capa e o papel do miolo – couché brilho!). Faço votos que a Intrínseca não pare por aqui e continue investindo na publicação de livros de divulgação científica. Pois como bem-dito pelo astrofísico Neil deGrasse Tyson: “Quando se é alfabetizado cientificamente, o mundo parece diferente à sua vista. E essa compreensão lhe dá poder. ”
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