O Leitor do Trem das 6h27 (Jean-Paul Didierlaurent)

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“Ao longo de todos esses anos, Guylain Vignolles vivera simplesmente não existindo, exceto aqui, nessa sinistra plataforma de estação de trem em que pisava todas as manhãs.

(…)

Ao longo dos anos, os outros passageiros acabaram demonstrando por ele esse tipo de respeito indulgente reservado aos malucos inofensivos. Guylain era um alento que, durante os vinte minutos, retirava-os por um tempo da monotonia dos dias. ” (Página 9)

Quando tive em mãos pela primeira vez O Leitor do Trem das 6h27 fiquei surpresa com o tamanho do livro do Didierlaurent. São apenas 175 páginas e um formato ligeiramente maior do que um livro de bolso. Uma incursão modesta em direção aos romances de um autor conhecido e premiado por seus contos. Modesta no tamanho e na simplicidade do texto, mas com um potencial bem grande para emocionar. Algumas pessoas conseguem extrair poesia do cotidiano, ao mesmo tempo que escancaram todas as mazelas que pouco a pouco consomem a vontade de viver. É assim, que Didierlaurent nos brinda com uma história tocante, uma mistura de um testemunho doloroso das ações aviltantes impingidas pelo trabalho do protagonista, com o alento concedido pelo ato de rebeldia que o transforma em salvador de palavras, em propagador de ideias, no leitor do trem das 6h27.

Guylain Vignolles, um solteiro na casa dos trinta anos, leva uma vida solitária e repetitiva. De segunda a sexta trabalha em uma usina de reciclagem, que destrói encalhe de livros. Um trabalho, que ele esperava, a rotina tornasse mais fácil, mas que cada vez mais o enche de náuseas. Para suportar a aflição diária, Guylain passou a salvar páginas das entranhas destrutivas da máquina que opera. Páginas que todas as manhãs, durante o trajeto de trem até o trabalho, ele lê em voz alta. Toda essa circularidade de ações é bem evidenciada pelo texto de Didierlaurent. Com poucas páginas ele escancara o cotidiano mecânico que nem as leituras diárias das páginas resgatadas, os versos dodecassílabos do companheiro de trabalho Yvon, ou a busca metafórica pelas pernas do amigo Giuseppe conseguem humanizar. Não até que pontos de escape são apresentados. E eles vêm na forma de um convite que a princípio o deixa desconfortável e um pen drive grená contendo textos misteriosos que o lançam em uma busca pelo que poderá ser. As ações advindas daí promovem a quebra da mecanização que ele engolia, até mesmo se impunha. Um livro que mostra de forma reflexiva o poder das palavras em nossa vida. Pode até não ser uma leitura espetacular, mas vale a pena dedicar algumas poucas horas (é só isso que Didierlaurent pede) à sua leitura.

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