Maus (Art Spiegelman)

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Depois de inúmeros romances e filmes retratando a Segunda Guerra Mundial e os horrores do Holocausto de forma tão trágica e massacrante, é impossível não se perguntar se a sensibilidade, a emoção e o horror conseguiriam ser bem retratados em uma graphic novel. Foi essa a tarefa que Art Spiegelman tomou para si lá em 1973, quando a primeira parte do primeiro volume de Maus foi publicada, este que só seria finalizado em 1986 e que ganharia um segundo (e final) volume finalizado em 1991. A tarefa foi concluída com sucesso, tanto é que no ano seguinte, foi agraciado com o Prêmio Pulitzer de literatura. Na edição brasileira publicada em 2005 pela Companhia das Letras (pelo selo Quadrinhos na Cia.) todas essas partes foram reunidas em um volume único.

Maus, palavra alemã para rato, traz a história de Vladek Spiegelman, pai do autor, um judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz. A história de Art vai se desenrolando perante nossos olhos como uma conversa e para isso ele se coloca como personagem. É Art, que depois de adulto e durante suas visitas ao seu idoso pai, que o convence a compartilhar sua história. São essas conversas, marcadas pela relação não tão próxima entre pai e filho e pelas interrupções de Vladek para corrigir partes da história já anteriormente narradas que encaminham a trama de Spiegelman aos anos pré-Guerra e aos anos de embate propriamente dito.

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Com uma obra com uma forte identidade biográfica em mãos, Art pautou pelo compromisso com a fidedignidade. Seu retrato dos acontecimentos é nu e cru, não há espaço para a fantasia, para a mascaração, o embelezamento e a supressão de fatos importantes. Seu pai é retratado como o sovina e o preconceituoso que deveras é. É como Art nos escancara que o fato de sofrermos devido ao preconceito e racismo de outrem não nos transforma automaticamente em heróis nem nos torna incapazes de agir com preconceito com o próximo. E isso, não torna Vladek menos digno de nossa compaixão com seus sofrimentos e o que aconteceu com ele, não deixa de ser desumano. Fica a lição para sempre tentarmos nos colocar no lugar do próximo e tentar evitar o preconceito por vezes aparentemente tão inato.

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Mas, enquanto romance gráfico, é em suas linhas, cores (ou melhor, a falta delas) e na caracterização dos personagens que reside a maior força da obra de Spiegelman. Com desenhos incisivos, com linhas duras, sombras, sem muito detalhes e totalmente em branco e preto, as páginas de Maus transbordam todo o horror dos campos de concentração, todo o desalento e a falta de perspectivas vividos pelos personagens nas horas mais sombrias, quando a esperança não tinha vez, e escancara toda a brutalidade desse período negro da história. Com a caracterização dos personagens a obra ganha uma forte carga simbólica e remete aos elementos tão utilizados na propaganda nazista para denegrir os judeus. É assim, que os judeus são retratados como ratos, animal utilizado pelos nazistas para associá-los à sujeira; os poloneses (que mantinham os relacionamentos mais próximos com os judeus) são retratados como porcos; alemães são gatos e americanos são cães. Todos esses elementos contribuíram para tornar a obra de Spiegelman um contundente exemplo de um relato histórico gráfico. Seus desenhos são tocantes de uma forma que nenhuma prosa conseguiria ser. Uma graphic novel que todos os fãs do gênero deveriam ler.

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2 Comentários

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2 Respostas para “Maus (Art Spiegelman)

  1. Simplesmente amei o post e fiquei deveras interessada. Parabéns!

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