Sam Kean é jornalista dedicado à divulgação científica, dos mais variados campos. Seu primeiro livro A Colher que Desaparece (já resenhado pela Mari aqui no blog) envereda pelo mundo dos elementos químicos; no mais recente, O Duelo dos Neurocirurgiões, ele traz histórias de curiosidade neurológicas; e, em O Polegar do Violinista o DNA é a grande estrela. Aqui ele narra a história da genética e os avanços que têm revolucionado nossa maneira de entender o passado e moldar nosso futuro.
“(…) a história do DNA substituiu as antigas aulas sobre a civilização ocidental como a grande narrativa da existência humana. A compreensão do DNA pode nos ajudar a entender de onde viemos e como nosso corpo e nossa mente funcionam; entender os limites do DNA também nos ajuda a conhecer como nosso corpo e nossa mente não funcionam.
(…)
(…) as questões ainda não estão totalmente resolvidas. As coisas ainda são incertas – em especial o problema de como vai acabar esse grande experimento de desenterrar tudo que há para saber sobre o nosso DNA. ”
(Páginas 14 e 15)
São dezesseis capítulos e um epílogo nos quais Kean narra o passo-a-passo das principais descobertas científicas, mas não se restringe apenas a elas. Ele faz um ótimo trabalho ao garimpar a história de cada um desses momentos: as relações sociais, as convicções políticas e as profundas mudanças ocorridas nas épocas em que elas aconteceram. Tudo isso com um texto claro e envolvente, de fácil compreensão, com exemplos e comparações certeiras e várias e várias notas diretas e até mesmo digressivas. E elas são tantas que muitas tiveram de ser suprimidas por falta de espaço. Aos mais curiosos recomendo que visitem o site do autor. Além das notas adicionais, há figuras, links, jogos e vídeos que tornarão a leitura ainda mais enriquecedora (em inglês).
Para contar a história do DNA Kean retoma os experimentos de Mendel, Miescher, Morgan e tantos outros sobre hereditariedade. Discorre sobre o fortalecimento das pesquisas em genética e como elas quase galvanizaram os estudos de Darwin. Fala sobre a descoberta do DNA, dos mecanismos de transmissão da informação genética e traz inúmeras histórias (fantásticas, macabras e pitorescas) protagonizadas pelo DNA. Hiroshima e Nagasaki e as implicações da radioatividade para o bom funcionamento do DNA e as salvaguardas para burlar os estragos. As propriedades linguísticas, matemáticas e musicais do DNA. Os trabalhos pioneiros de cientistas muitas vezes ignoradas na história. A manipulação refinada e quase maquiavélica do DNA de outros organismos (inclusive o nosso) pelos vírus e outros microrganismos e como isso pode ter influenciado em nossa evolução. Os casos raros na medicina que muito nos ensinam acerca do mecanismo da herança genética. As predisposições genéticas. Há genialidade artística sendo propiciada pelo DNA? A história que dá título ao livro mostra que pode ter uma ajuda extra vinda de nossos genes, ainda que o preço a pagar por isso muitas vezes seja bem caro. Ele também dá uma boa pincelada no histórico do PGH (Projeto Genoma Humano) e nas ações do “rebelde” Craig Venter que ousou desafiar o consórcio público do sequenciamento e que de certa maneira contribuiu para instituir uma ‘corrida armamentista’ que contribuiu para a disponibilização mais rápida das informações geradas. E que promoveram revoluções importantes em quase todos os campos da biologia.
[ Para mais informações sobre esse assunto recomendo os livros Decifrando o Genoma e Seu Genoma por Mil Dólares, ambos do Kevin Davies. ]
São assuntos densos e as informações são muitas, mas são trabalhados com a clareza necessária mesmo para os leitores mais leigos. Ao longo de todos os capítulos Kean também faz um link entre o assunto da vez e o que ele já expôs anteriormente e esse “puxar constante da memória” faz toda a diferença no aproveitamento do texto. O Polegar do Violinista é um bom ponto de partida para conhecer mais sobre o campo da genética e quem sabe até mesmo ir além e se aventurar por leituras mais densas.
“(…) as mudanças mais profundas que a ciência da genética nos traz não serão diagnósticos instantâneos ou panaceias medicinais, mas um enriquecimento mental e de espírito – um sentido mais ampliado do que somos nós, seres humanos, existencialmente, e como nos situamos em relação a outras formas de vida na Terra. ”
(Página 351)
Leia uma amostra aqui:
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