A Lista Negra (Jennifer Brown)

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No dia 02 de maio de 2008 Nick Levil, um garoto de 16 anos, abriu fogo contra vários alunos na cantina do Colégio Garvin onde cursava o Ensino Médio. Um professor e alunos morreram e Nick se matou após o ato. Seria mais uma tragédia que a comunidade precisaria enfrentar, se Nick não fosse namorado de Valerie Leftman e se os atos da garota não tivessem influenciado nas escolhas das vítimas. Valerie e Nick criaram juntos uma lista contendo pessoas e coisas que eles odiavam. Na lista em sua maioria, figuravam aqueles que constantemente praticavam bullying. Nick usou a lista para escolher os alvos. Por outro lado, quando tudo aconteceu, Valerie foi atingida ao tentar detê-lo e acabou salvando a vida de uma colega que a maltratava. E agora, vilã ou heroína?

“A escola ainda não tinha decidido se eu era vilã ou heroína e acho que eu não posso culpá-los. Eu mesma estava tendo dificuldade para resolver isso. Será que eu fui a bandida que criou o plano para matar metade da minha escola ou a mocinha que se sacrificou para acabar com a matança? Em alguns dias eu me sentia as duas. Em outros, não me sentia nem bandida nem mocinha. Era muito complicado. ” (Página 13)

Depois de passar um tempo se recuperando, Val retorna à escola para terminar o Ensino Médio e precisa enfrentar a dura realidade que a espera.

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Foto de Revac Film’s&Photography

A trama de Brown tem início com o relato jornalístico da tragédia e o retorno de Val à escola. A partir de então a narrativa intercala trechos de notícias do acidente, o tempo presente com Val tentando reassumir sua vida, e flashbacks do dia D, do relacionamento de Val e Nick e do tempo transcorrido após o dia da tragédia até o dia do retorno de Val. Estruturar a narrativa assim foi um artifício muito bom porque nos conecta rapidamente à protagonista. Somos apresentados a essa mistura de informações, a todos esses fragmentos que compõem a vida de Val, e junto com ela, precisamos fazer com que tudo tenha um sentido, com que significados ocultos venham à tona, fatos desconhecidos surjam e que os sentimentos contraditórios sejam compreendidos. Ao mesmo tempo somos constantemente lembrados das vítimas, de tantas vidas perdidas e do sentimento de culpa que Val está fadada a carregar. Brown também coloca em evidência o comportamento errado de vários alunos, em especial de algumas vítimas. Há um grande discurso sobre bullying e sobre o poder que as palavras têm, por exemplo, como os discursos que podemos empregar na brincadeira, para sermos aceitos, podem ser interpretados ao pé da letra por outrem e serem levados às últimas consequências.

Além do mais, não é só na escola que Val precisa reassumir sua vida, sua família também foi abalada pelo que aconteceu e algumas situações que ela tem de enfrentar a partir de então são de provocar revolta e em outras de travar a garganta. Já deu para perceber que a leitura de A Lista Negra não é fácil, ao longo de toda a narrativa Brown trabalha com essa zona onde todos são, ao mesmo tempo, vítimas e culpados. E nosso sentimento oscila ao longo de toda a leitura. Esse tipo de narrativa per se pede por um evento catártico que colocará tudo em perspectiva, com uma conclusão de preferência com uma dose de esperança ainda que muitas vezes ela chegue a ser utópica. Infelizmente não é o que Brown nos entrega. Após tantas mudanças, enfrentamentos e até mesmo um evento que flertou com a catarse, no fim temos uma Val e alguns personagens que parecem que nada aprenderam ao longo dessa jornada. Findada a leitura a sensação que permaneceu é que faltou alguma coisa, que a história poderia ter sido mais pungente e mais emblemática. É uma boa leitura por trazer à discussão temas tão difíceis e infelizmente tão comuns, mas não faz jus a todo o burburinho que o livro causou na época que foi lançado aqui no Brasil.

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