Com o Dia Internacional da Mulher se aproximando, nada mais justo do que lembrar a data colocando em evidência as mulheres que fazem do mundo das palavras suas profissões. O título deste post faz referência ao projeto #readwomen2014 (adotado no Brasil como #leiamulheres2014) proposto pela escritora Joanna Walsh e que propunha que todos lessem mais mulheres, as quais historicamente sempre tiveram menos visibilidade no mercado editorial. Houve um grande engajamento no ano de 2014 e até hoje ele rende frutos. No Brasil hoje temos o projeto Leia Mulheres que já conta com vários clubes de leituras espalhados pelo Brasil e que tem contribuído para colocar em destaque o trabalho de várias escritoras. A minha contribuição de formiguinha aqui é apresentar cinco escritoras de não-ficção que me proporcionaram ótimas leituras, algumas extraordinárias, e, que eu gostaria que cada vez mais tivessem suas obras conhecidas e lidas por mais pessoas.
A ordem de apresentação das autoras é aleatória.

Foto de Elke Wetzig
Era inconcebível eu fazer essa lista e deixar de fora a bielorussa Svetlana Aleksiévitch laureada em 2015 com o Prêmio Nobel de Literatura pelo livro Vozes de Tchernóbil, uma leitura sofrida e angustiante, mas de uma sensibilidade e um compromisso com o povo de Tchernóbil imensos. O livro faz jus a todo o burburinho que causou na época de seu lançamento aqui no Brasil e se você ainda não leu se permita ter essa experiência. Dela a Companhia das Letras também já publicou outros dois livros: “A guerra não tem rosto de mulher” e “O fim do homem soviético”. O primeiro traz o relato da Segunda Guerra Mundial do ponto de vista das mulheres que longe de ficarem na retaguarda, estiveram na linha de frente das batalhas. Uma leitura com um grande enfoque feminino e que já está na pilha de livros para ler ainda este ano.

Foto de King of Hearts
Se Svetlana traz o relato histórico e polifônico das tragédias, guerras e momentos políticos e sociais drásticos, Anne Fadiman se aventura pelas curiosidades do universo da leitura. A nova-iorquina cresceu em uma família de leitores e escritores, é casada com um escritor, sendo ela mesma editora, escritora e professora desde 2005 na Universidade de Yale. Das obras que escreveu, apenas uma foi publicada no Brasil (em 2002 pela Editora Zahar). O livro Ex-Libris – Confissões de uma Leitora Comum onde ela compartilha dezoito ensaios escritos em um período de quatro anos. Desde pequena Anne vive entre os livros e ao longo dos anos colecionou costumes peculiares (que qualquer bookaholic entende), anedotas e fatos relacionados aos hábitos desses seres peculiares que em meio aos livros encontram conforto, alegria e mil experiências. São essas experiências que ela compartilha conosco em Ex-libris. É um livro sobre livros, sobre o leitor comum, sobre a paixão e o amor pela leitura. Tem tudo para agradar os leitores aficionados.
A partir daqui não teve jeito, acabei me enveredando pelas escritoras de divulgação científica.
Elizabeth Kolbert é uma jornalista que escreve sobre ciência. A norte-americana escreve para a revista The New Yorker desde 1999 sobre perfis políticos, revisões de livros e em grande parte de seus escritos, sobre os efeitos das mudanças climáticas. Sua série de reportagens em três partes “The Climate Man” publicada na revista, foi premiada e depois tornou-se livro, publicado no Brasil sob o título “Planeta Terra em Perigo”. Em 2015 ela ganhou o Prêmio Pulitzer pelo emblemático livro A Sexta Extinção publicado aqui pela Editora Intrínseca. Nele a autora revisita todos os cinco grandes eventos de extinções de espécies em massa pelos quais o planeta Terra passou ao longo de sua história, e retraça o papel que o ser humano desempenhou, desde os primórdios de sua evolução, nas alterações sofridas pelo planeta. Escancarando o trágico legado deixado pela humanidade e que já está sendo chamado de a sexta grande extinção. É um livro que coloca em discussão temas atuais e de extrema importância para todos e a autora o faz de forma bastante eficaz e com um texto envolvente.
Outra jornalista que também escreve sobre ciência, com assuntos mais pontuais, porém, não menos interessantes, é a canadense Carolyn Abraham. O cérebro humano sempre foi um objeto de fascínio para os cientistas que buscavam descobrir as bases da genialidade. Ao longo da história não são raros os casos de cérebros de cientistas, músicos e outros artistas que foram estudados. Mas, talvez o caso mais emblemático tenham sido os estudos com o cérebro do físico Albert Einstein e é esta a história que Carolyn trouxe em seu livro de estreia intitulado Viajando com o cérebro de Einstein publicado aqui no Brasil em 2005 pela Editora Relume Dumará. A jornada do cérebro do físico teve início quando o patologista responsável pela autópsia do corpo do cientista aproveitou a oportunidade para retirar seu cérebro, fatiando-o, conservando-o e preservando-o para estudos futuros. Foram 240 pedaços, muitos dos quais foram enviados a vários cientistas para estudos. É essa jornada que Carolyn narrou em um livro envolvente que retraça a saga um tanto bizarra dos pedaços do cérebro do físico que tiveram sua própria road trip.
E para encerrar essa lista temos a astrofísica Janna Levin. Janna é norte-americana e professora de física e astronomia na Universidade Columbia, suas pesquisas são voltadas para a compreensão dos buracos negros, a cosmologia das dimensões extras e as ondas gravitacionais. A cientista tem três livros publicados, dois deles já traduzidos e publicados no Brasil pela Companhia das Letras. No seu livro de estreia Um Louco Sonha a Máquina Universal (2009) Janna retrata a vida de dois cientistas e figuras um tanto quanto excêntricas Kurt Gödel e Alan Turing e mostra como o cotidiano influencia e muito no desenvolvimento de teorias e no surgimento de insights. A leitura não é muito fluída, mas é recomendável para os que têm curiosidade acerca da biografia dos dois cientistas. Mais recentemente ela publicou A Música no Universo (2016) no qual ela discorre sobre as ondas gravitacionais, elas que foram preditas por Einstein em 1916 e detectadas por pesquisadores do LIGO (Laser Interferometer Gravitational Wave Observatory) no final de 2015. Janna traz os bastidores do desenvolvimento científico, retraçando a história do grupo do LIGO que por mais de cinco décadas perseguiu as ondas gravitacionais e a comprovação das ideias de Einstein. Já está na minha lista de desejados e não vejo a hora de tê-lo em mãos para lê-lo.
Para os que gostam de ler sobre ciência, fica também a dica dada pelo Ciencianautas: o livro “À Luz das Estrelas” da astrônoma brasileira Lilia Irmeli Aramy-Prado foi disponibilizado por ela online e gratuitamente.
No mês de abril a Editora Blucher publicará no Brasil o livro escrito e ilustrado pela Rachel Ignotofsky “As Cientistas – 50 mulheres que mudaram o mundo”. Fonte: página As Cientistas.
Gostaram da lista? Já leram algum livro dessas autoras? Têm outras autoras de não-ficção para indicar? Vamos prestigiar as escritoras mulheres não somente no mês de março, mas em todos os meses do ano. Há excelentes obras por aí esperando para serem descobertas. #LeiaMulheres
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