Piano Vermelho (Josh Malerman)

Em Caixa de Pássaros, Malerman soube trabalhar muito bem o medo do impalpável, daquilo que não se pode ver, simplesmente porque vê-lo pode sanar sua curiosidade, mas também levá-lo à morte. Em Piano Vermelho, novamente o medo do desconhecido entra em cena, mas o sentido explorado é outro. Agora não temos mais de usar vendas, mas garantir um protetor auricular pode ser uma boa ideia.

A história começa com um paciente acordando em um hospital. O soldado Philip Tonka é considerado um sobrevivente sem precedentes, ficou em coma durante 6 meses e seus ferimentos são inexplicáveis. O que aconteceu com ele? E com seus companheiros de missão? O Exército irá querer respostas. O que Philip poderá revelar?

“As perguntas virão. Philip sabe disso. Perguntas sobre a África e sobre a origem do som. Perguntas sobre o restante do pelotão, sobre os Danes, sobre o que Philip ouviu e o que gravou lá. Perguntas mais malucas, também. Tipo: quem levou Ross? Quem levou os outros? E para onde? E por que você parece tão assustado, soldado Tonka, com essas perguntas tão simples?

As perguntas virão.

E, quando vierem, que parte Philip vai poder contar?

Que parte vai revelar? ” (Página 25)

Philip, Larry, Duane e Ross são conhecidos como Os Danes. No cenário underground pós-guerra de Detroit, além da banda, os quatro montaram um estúdio onde se dedicam a produzir discos de novos artistas, já que para eles o sucesso já não é mais corriqueiro. Os quatro serviram no exército durante a Segunda Guerra Mundial, e, quando um agente da inteligência militar os procura propondo uma missão na África envolvendo um som misterioso e terrível, o ostracismo do cenário musical, acaba levando-os a aceitar. Tudo o que sabemos sobre o som é que ele foi ouvido pela primeira vez em solo americano em 1948, sua transmissão vem do deserto do Namibe, o som tem interferido e “sequestrado” armas do exército americano, quem o ouve tem reações bastante adversas e soldados já foram enviados antes para averiguar a origem do som. Será que eles como músicos poderão ter sucesso na empreitada? A tirar pela situação atual de Philip na cama do hospital, não.

Assim como em Caixa de Pássaros, Malerman vai e volta no tempo, entregando pouco a pouco o mistério e alimentando o medo e as expectativas do leitor. Em termos de construção de narrativa, ele o faz da mesma forma que no primeiro livro, mas, a trama densa e o ritmo instigante de Piano Vermelho garantem uma experiência única ainda que a fórmula de contar a história seja a mesma. Assim como os militares, ficamos curiosos para saber o que Philip viu no deserto e por quais experiências ele passou que o deixaram como um saco de carne preenchido por inúmeros fragmentos de ossos. Por outro lado, há todo o mistério envolvendo o próprio hospital onde Philip está internado, ainda que ali não haja som misterioso. Como ele está vivo, mesmo com todos os seus impossíveis ferimentos? Que tratamento milagroso é esse e quais são as reais intenções daqueles que o estão tratando? E, à medida que as respostas são fornecidas e o passado encontra o presente, Malerman ainda nos reserva mais uma surpresa ou outra.

Caixa de Pássaros me pegou de jeito pela temática de fim de mundo e do perigo que nos espreita ainda que não possamos vê-lo. Piano Vermelho nos pega de jeito pela camaradagem entre os Danes, pela loucura desencadeada pelo som e por seu eco na história da humanidade. Se no seu primeiro livro Malerman nos privou da visão, em Piano Vermelho ele exarceba nos sentidos, tornando a experiência quase sinestésica. Sua narrativa continua fluída e seus personagens cativantes. Depois do estrondoso começo com Caixa de Pássaros, Malerman mantém o bom trabalho em Piano Vermelho e, definitivamente, continuarei acompanhando suas futuras publicações.

PS1: Para quem assim como eu teve um pouco de dificuldade em entender os mnemônicos citados por Philip. O vídeo (abaixo) do Felipe Scagliusi explica de forma fácil o macete utilizado para se aprender a ler as notas de uma partitura. Notas, não cifras como está no texto. Mesmo eu que sei ler partituras, fiquei confusa com a explicação (trecho abaixo), porém, como não tenho acesso ao texto original não sei se é falha do autor (o que eu duvido já que ele é músico) ou da tradução.

“É um mnemônico com o qual as crianças aprendem as cifras (sic) do pentagrama, mi, sol, si, ré, fá, a localização das notas no piano (na verdade na partitura, ou no pentagrama) e como tocá-las. ” (Página 84)

Agora, segue o vídeo que clarifica bem a ideia:

PS2: O projeto gráfico da Intrínseca seguindo os moldes do livro anterior do autor, ficou ótimo. Além de nos garantir uma bonita edição, também deixa o par bonito na estante.

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4 Comentários

Arquivado em Editora Intrínseca, Editoras Parceiras, Resenhas da Núbia

4 Respostas para “Piano Vermelho (Josh Malerman)

  1. Pingback: Resumo do Mês | Blablabla Aleatório

  2. Olá!
    Olha só, já quero ler, pq amei Caixa de Pássaros, mas sua impressão ajudou bastante.
    Parabéns pela resenha!
    Bjs

    Curtido por 1 pessoa

    • Nubia Esther

      Obrigada Marcia! =)
      Ainda tenho Caixa de Pássaros como meu favorito do autor, mas Piano Vermelho não deixa nada a desejar. Leia mesmo, não irá se arrepender.

      Curtido por 1 pessoa

  3. Pingback: Um Autor de Quinta #106 | Blablabla Aleatório

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