A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao (Junot Díaz)

Confesso que foram as pretensões literárias de Oscar Wao que me fizeram querer ler sua história. O garoto sonhava em ser o Tolkien latino! É assim que Junot Díaz nos vende sua história. A história de um garoto de origem dominicana, obeso, nerd e tímido, com múltiplos interesses, mas nenhum deles apreciados pelos garotos legais ou pelas garotas. Oscar também se apaixona facilmente, mas a maldição, ou melhor, o fukú que ronda sua família, parece não reservar finais felizes para o garoto. Muito menos para os outros membros de sua família e é aqui que o verdadeiro teor da história de Díaz vai se revelando…

“Seja lá de onde viesse e como fosse chamado, comenta-se que a chegada dos europeus à Hispaniola desencadeou o fukú no mundo e, desde então, estamos todos na merda.

(…)

Como vocês já devem ter adivinhado a essa altura, também tenho uma história de fukú. Bem que eu queria dizer que a minha é a melhor de todas – a maior das maldições –, só que não é esse o caso. Não se trata da mais óbvia e aterradora, tampouco da mais comovente e deslumbrante.

É apenas a que apertou o meu pescoço.” (Páginas 11 e 15)

Enquanto ele nos apresenta Oscar, sua irmã Lola, sua mãe Belicia e a avó La Inca e até mesmo se coloca como personagem narrador nesta história, ele vai introduzindo aqui e ali alguns temas mais sérios como a ditadura de Trujillo na República Dominicana, as ocupações norte-americanas no país, a situação dos migrantes latinos que ousaram (ou se viram necessitados) de ir em busca do sonho americano, relacionamentos abusivos, violência contra mulheres, bullying, depressão e suicídio; enquanto mergulha na história da República Dominicana e da família Cabral, sobrando até mesmo espaço para o fantástico ocasionalmente encontrar a realidade.

Indo e voltando no tempo ele retraça toda a vida dos Cabral e mostra como o fukú influenciou a vida desta família durante um dos momentos históricos mais cruéis da República Dominicana. O título do livro é sobre Oscar, a sinopse é sobre Oscar, mas no final das contas a história é sobre o fukú que se abateu sobre as três gerações dos Cabral. É ruim por causa disso? Não. Mas, apesar do título ser interessante, ele vende uma história que na realidade não é, a não ser é claro por malfadadamente acertar na brevidade da vida de Oscar. Contudo, apesar do sentimento de ter sido enganada, acompanhar as histórias dos Cabral ao longo de três gerações foi um exercício triste (a história deles está repleta de desgraças), mas rico em informações sobre a República Dominicana. Todo o desvario político e inescrupuloso de Trujillo, passando pela diáspora rumo aos Estados Unidos, a queda do facínora e a subsistência de muitos de seus correligionários. Além de toda a cultura e crenças do povo dominicano. Para garantir que o leitor tivesse todas as informações essenciais sobre eventos históricos e personalidades dominicanas, Díaz optou por fazer uso de notas de rodapé. Com um humor ácido e fatos realmente interessantes, elas não são nem um pouco enfadonhas e trouxeram informações que tornaram a experiência de leitura muito melhor.

Por a história partir de Oscar e terminar com ele, a narrativa empregada por Junot ressoa as nerdices do rapaz. E, se por um lado isso tornou o texto deveras leve em meio a tanta tragédia, por outro foi um recurso perigoso, pois limitou o livro à um determinado público, ao menos será apenas esse público que entenderá as referências e captará como elas se entrelaçam à trama. Mesmo reconhecendo a maior parte delas, tive dificuldade em uma ou outra. Oscar também não é um protagonista muito empático. Apesar de toda a inteligência, o pendor de Oscar pelos enamoramentos fulminantes e a incrível cabeça dura, o transformam em um rapaz irascível. Daqueles que percebem que está indo de encontro a um trem-bala, mas nem liga. Não dá para sentir empatia por alguém assim. Então, o fato de tantos outros personagens terem tido seu protagonismo em algum momento da história foi o que acabou contribuindo para tornar o livro muito mais interessante. La Inca e seu comprometimento com sua família e Lola e o amor abnegado pelo irmão e a veia rebelde que não lhe deixa levar desaforo para casa, foram personagens realmente cativantes. No fim das contas ter sido enganada pela embalagem acabou tendo as suas vantagens.

Se você quer conhecer um pouco mais sobre a República Dominicana, seu povo e sua história, Junot Díaz garante uma boa viagem de apresentação, mas parta avisado de que se a cultura pop não for o seu forte, você poderá perder parte do alívio cômico inserido por Junot, e todo alívio cômico é muito importante quando estamos falando de fukú, principalmente se for o fukú dos Cabral.

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