Post Mortem (Patricia Cornwell)

Acho que já deu para perceber pelas minhas leituras que eu gosto de ler romances policiais e thrillers investigativos (gosto das séries de TV também). Gosto do formato procedural com casos a serem esmiuçados e resolvidos em cada livro, que muitas vezes fazem parte de uma longa série de livros estrelados por casais de detetives, inspetores de polícia, antropólogos forenses, peritos criminais e por aí vai. Na minha busca por autores do gênero, já tinha esbarrado no nome da Patricia Cornwell. Ela é muito conhecida no meio e Post Mortem, o seu primeiro romance policial, protagonizado pela médica-legista Kay Scarpetta, foi publicado em 1990. A autora que trabalhou como repórter policial e como analista de informática no Instituto Médico Legal de Richmond na Virginia (EUA) trouxe de suas experiências profissionais a inspiração para as histórias envolvendo sua protagonista.

Neste primeiro volume, a já médica-legista chefe de Richmond há dois anos, Kay Scarpetta está às voltas com as investigações de um assassino que começou a atuar há dois meses (ao menos em Richmond) e que está matando mulheres e deixando para trás um resíduo brilhante nos corpos das vítimas. Scarpetta é responsável pelas necropsias, mas acaba se envolvendo nas minúcias da investigação para desgosto de Pete Marino, o policial de carreira responsável pelo caso. E, enquanto a “dupla” segue aos tropeços e disputas, interesses políticos, passados inescrupulosos, crianças prodígio e uma pitada de narrativa de redenção; tornam a trama de Cornwell bastante envolvente.

Por ser narrada em primeira pessoa, por Scarpetta, a trama tem um viés de empoderamento feminino bem forte e Cornwell não se priva de escancarar as situações machistas a que sua protagonista está sujeita. Quando você se lembra que o livro foi publicado em 1990, essa característica torna a obra de Cornwell ainda mais marcante.

“Na minha turma, na Hopkins, éramos quatro mulheres. No início, a ingenuidade impediu que eu entendesse o que ocorria. (…) Eu não passava de um inseto minúsculo a me debater contra a formidável colmeia masculina em que entrara mas da qual jamais faria parte.

O isolamento é o mais cruel dos castigos, e jamais me ocorreu que eu era considerada inferior aos seres humanos por não ser homem. Uma de minhas colegas de turma acabou desistindo do curso, outra sofreu um colapso nervoso. Sobreviver era a minha esperança, e o sucesso, a única vingança possível.” (Página 66)

Por causa de suas experiências de trabalho da área criminal, e fazendo jus a todas as pesquisas que ela faz para escrever seus livros, a parte forense da trama tem bastante espaço. Cornwell faz descrições bem vívidas da situação dos cadáveres examinados, dá uma boa pincelada nas técnicas papiloscópicas (ainda que bem antigas), cita os exames de DNA ainda bastante incipientes e vários exames rotineiros em um trabalho pericial. Para quem gosta da parte técnica das investigações criminais, ainda que as técnicas sejam defasadas, o romance é um prato cheio. E se para alguns isso foi um tiro no pé por deixar a narrativa muito técnica e defasada, para mim a obra representa um bom histórico do desenvolvimento da perícia forense, aliado a um bom trabalho de investigação policial.

A forma como Cornwell conduz o fio investigativo e como seus personagens tomam forma e ganham profundidade é um dos pontos positivos da trama. É o que também me faz perguntar o porquê cargas d’água as editoras acham que não tem problema publicar romances policiais em série fora de ordem? Relegam todo o contexto de caracterização dos personagens, histórico e desenvolvimento psicológico à desculpa pífia de que o caso se encerra no volume em questão e pode ser lido como um livro único. Para quem não se importa com uma experiência superficial, pode mesmo, mas não é assim que os autores pensaram suas séries e acho que minimamente isso deveria ser respeitado em uma decisão editorial. No mais, foi um bom início de série e pretendo continuar a acompanhar os demais casos da médica-legista Kay Scarpetta, em ordem cronológica é claro!

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7 Comentários

Arquivado em Desafios Literários, Lendo aleatoriamente, Resenhas da Núbia

7 Respostas para “Post Mortem (Patricia Cornwell)

  1. Reet

    Resenha massa!Super vontade de ler agora. Vc sabe se tem em pdf?

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    • Nubia Esther

      Olá Reet, obrigada! Não sei te dizer, li na edição física e é realmente uma pena que a nossa edição brasileira não conte com uma versão em e-book!

      Curtido por 1 pessoa

  2. Sou fã dessa autora e dos personagens dessa série. Se puder, leia ela toda que vale muito a pena!

    Curtido por 1 pessoa

    • Nubia Esther

      Oi Roseli, pretendo ler sim, mas aos poucos, os livros já publicados são muitos e ainda preciso adquirir vários. Ainda bem que já tenho o segundo, pretendo lê-lo ainda este ano.

      Curtido por 1 pessoa

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