Quando escrevi sobre a minha experiência de leitura com Deuses Americanos comentei que eu o releria facilmente. Naquela época eu ainda não sabia que uma adaptação para graphic novel estava em vias de publicação. Poder revisitar esse universo com roteiro e layouts de P. Craig Russell e arte de Scott Hampton (que já trabalharam em Sandman) foi uma ótima experiência.
Para os que nunca ouviram falar sobre Deuses Americanos, basicamente a história tem início com Shadow, um presidiário prestes a ganhar a liberdade, mas que dias antes da data de sua soltura perde a sua mulher em um acidente de carro. Sem ter para onde ir ou para quem voltar, ele acaba conhecendo o misterioso Wednesday que lhe oferece um emprego. Um emprego informal, sem muitas informações, que envolve levar Wednesday para rever “velhos amigos”, uma falcatrua ou outra, e uma longa viagem pelos Estados Unidos. No meio do caminho, Shadow percebe que está envolvido em uma batalha entre deuses antigos (africanos, germânicos, hindus, nórdicos…) e deuses novos (as mordomias e futilidades da vida moderna) e que a tempestade que se aproxima poderá cobrar seu preço afinal. A história é quase um samba do crioulo doido e muitos e muitos elementos estão presentes. Inúmeros personagens, tramas paralelas, lendas urbanas americanas, retalhos da história de colonização da América, histórias fantásticas narradas por deuses, investigações policiais, etc. Toda essa salada russa não rendeu uma leitura muita fluida, porque a trama principal envolvendo Wednesday e Shadow é constantemente quebrada por outras tramas paralelas, contemporâneas ou antigas, o que acaba quebrando um pouco o ritmo da narrativa. Na graphic novel estas tramas também estão presentes. Aliás, muito bem pontuadas pelas representações gráficas bem características e diferentes do restante da hq. O grande mérito do recurso visual da graphic novel é que mesmo com essas incursões na trama principal, a quebra de ritmo que aconteceu no romance não ocorre na hq, que conseguiu manter uma fluidez que faltou na obra original. Os capítulos foram bem sintetizados, informações e personagens pertinentes foram mantidos e a excentricidade e a sinuosidade da trama de Gaiman foram muito bem transpostas para os quadrinhos. Os desenhos e a paleta de cores de Scott Hampton tornaram essa road trip fantástica ainda mais palpável e repleta de experiências sensoriais.
Esta é só a primeira etapa da longa viagem que Shadow empreendeu pelos Estados Unidos. O primeiro volume reúne os nove fascículos iniciais da série e ainda virão mais dois volumes. O capítulo que finaliza esse primeiro volume foi bem escolhido. Nos faz aguardar pelos acontecimentos vindouros ao mesmo tempo que passa uma ideia de pausa, de tomada de fôlego antes do mergulho na tempestade. A edição também conta com uma seção de esboços com notas do Daniel Chabon (editor da Dark Horse Comics – responsável pela publicação original). Nela podemos encontrar esboços dos layouts do P. Craig Russell, esboços dos personagens, das capas dos capítulos, além de uma galeria de capas idealizadas por outros artistas.
No mais, não posso deixar de dar o merecido destaque à Editora Intrínseca que tem publicado graphic novels com edições bacanas e de ótima qualidade, com preços bastante atrativos. Os leitores de quadrinhos agradecem.
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