Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios (Marçal Aquino)

Só conhecia o Marçal Aquino por seus livros juvenis. Histórias sempre envolvendo mistérios, investigações e muito perigo. De certa forma, essas características são como marcas registradas dos livros do autor, Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, romance voltado ao público adulto, também está carregado deles. As tensões políticas e sociais na pequena cidade de garimpeiros no interior do Pará; os perigos do relacionamento clandestino e conturbado entre Cauby e Lavínia; a paixão destinada à tragédia. Mas, mais do que perigos, traições e assassinatos, o romance de Marçal é uma ode ao amor inesperado, desajeitado, repleto de paixão e de uma intensidade avassaladora. Tudo isso em uma narrativa envolvente que nos torna confidentes ansiosos de seus desdobramentos.

Em uma pequena cidade no interior do Pará, Cauby, um fotógrafo profissional, encontra Lavínia, uma fotógrafa amadora e amante das luzes e sombras. Logo ambos passam a ter um caso, mesmo Lavínia sendo casada. É Cauby quem nos narra essa história. O projeto que lhe fez mudar para a pequena cidade paraense na qual as tensões entre garimpeiros e empresas de mineração têm feito muitas vítimas. Seu envolvimento com Lavínia, algo que desde o início lhe escapou do controle. Uma paixão desenfreada que vem acompanhada de um pressentimento de um fim trágico, mas a qual Cauby não consegue deixar de se entregar. Entremeado a isso, Marçal não se priva de incluir na trama discursos políticos e sociais. Com Ernani, marido de Lavínia e pastor evangélico, Aquino coloca em discussão o “império” crescente das igrejas fomentado pela também crescente bancada evangélica no congresso. Com Lavínia, ele envereda pelas mazelas sociais: a família disfuncional, as drogas e o crime como fuga, o estupro, a prostituição…. Na pequena cidade, a ganância de poucos fazendo a miséria de muitos, o mercado de sexo gerado em torno do garimpo e a justiça miliciana que tornou as pessoas rápidas na aplicação das punições em detrimento da busca pela verdade. É nesse ambiente hostil, de sensações à flor da pele, de encontros fortuitos e muito mistério envolvendo Lavínia, que nos pegamos enleados nos sentimentos de Cauby e nos pegamos na torcida para que esse encontro seja duradouro, apesar dos contratos sociais que estão sendo quebrados no processo.

Arrisco dizer que todo esse enleio é garantido particularmente pelo discurso sobre o amor de Cauby. Um discurso pautado nos ensinamentos do mais obscuro filósofo do amor (como Cauby faz questão de frisar) Benjamin Schianberg.

“Queremos o que não podemos ter, diz o professor Schianberg, o mais obscuro dos filósofos do amor. É normal, saudável. O que diferencia uma pessoa de outra, ele acrescenta, é o quanto cada um quer o que não pode ter. Nossa ração de poeira das estrelas. ” (Página 16)

Aliás, sobre Schianberg vale a pena uma pequena digressão. O livro “O que vemos no mundo – Um tratado sobre o amor humano (Benjamin Schianberg)” é um livro totalmente ficcional, criado por Marçal Aquino para endossar as elucubrações amorosas de Cauby. Conta a história que uma editora chegou a entrar em contato com Marçal pois estava com dificuldade de entrar em contato com o autor para falar sobre uma possível publicação no Brasil. Bom, a não ser que Marçal decida escrevê-lo realmente, o livro de Schianberg permanecerá no universo ficcional de Cauby e Lavínia. Enquanto isso só nos resta as pequenas contribuições compartilhadas por Cauby.

“Sou mais feliz que 97,6% da humanidade, nas contas do professor Schianberg. (…) Gente esquisita, que vive alheia nas frestas da realidade. Só assim conseguem entregar-se por inteiro àquilo que consagraram como objeto de culto e devoção. Para viver num estado de excitação constante, confinados num território particular, incandescente, vedado aos demais. Uma reserva de sonho contra tudo o que não é doce, sutil ou sereno. É o mais próximo da felicidade que podemos experimentar, sustenta Schianberg.

Não sei que nome você daria a isso.

Bem, não importa muito, chame do que quiser.

Eu chamo de amor. ” (Página 229)

 

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