Se tem uma atividade que a humanidade industrializada aprendeu a não dar a devida importância, é dormir. Ato frequentemente associado a perda de tempo. Mas, o que a neurociência e a ciência do sono tem demonstrado é que não poderíamos estar mais enganados. Dormir, e dormir bem, é requisito fundamental para ganharmos tempo e vivermos com qualidade. Colocar o sono em foco é o que propõe o neurocientista Matthew Walker em Por que nós dormimos, ritmo circadiano, jet lag, sonos REM e NREM, experiências oníricas e sonambulismo, são alguns dos temas abordados por Walker. O livro traz um panorama bastante completo do que a ciência do sono descobriu ao longo dos anos de estudos e nos ajuda a desvendar muitos mistérios e a compreender a importância de uma boa noite dormindo.
Por que nós dormimos está dividido em quatro grandes seções. Na primeira, intitulada “Essa coisa chamada sono” Walker esmiúça o sono: como ele surgiu; como ele é experimentado pelos outros animais além dos homens (os cetáceos, por exemplo, dormem com uma metade do cérebro de cada vez); como o tempo parece dilatar durante nossas experiências oníricas; como durante cada fase da nossa vida tempos diferentes requerimentos de sono e os mitos que se perpetuam no senso comum. Na segunda parte, “Por que você deveria dormir? ”, Walker demonstra por A + B o quão importante o sono é. Talvez esta seja a parte mais aterrorizante de todo o livro. Afinal, saber que todas as suas horas de estudo podem não valer de nada dependendo de como você dormir antes e após elas e que sua memória é diretamente afetada pelo seu sono, pode deixar qualquer estudante assustado. Aliás, por falar em memória, a qualidade do nosso sono está diretamente relacionada às nossas chances de desenvolver Alzheimer; doenças cardíacas e o câncer também entram nesse rol. E, para evidenciar os efeitos nefastos da privação do sono, basta dizer que eles são comparáveis aos da embriaguez e que privação do sono e volante são uma combinação que deveria ser evitada a todo custo. Não é que Walker seja alarmista, ele apenas demonstra com estudos e resultados experimentais a importância de uma boa noite de sono e as consequências catastróficas (nos mais variados campos) quando somos privados (espontaneamente ou não) dele.
Finalmente, nas duas últimas seções, “Como e por que sonhamos” e “De comprimidos para dormir à sociedade transformada”, Walker mergulha fundo no sono e no mundo dos sonhos. Aprendemos mais sobre a anatomia e a fisiologia do sono REM e sobre as possibilidades terapêuticas dos sonhos oníricos que experimentamos nele; tomamos conhecimento de uma série de transtornos do sono, bem como conhecemos novas terapias que estão surgindo como alternativas aos já tão comuns (e ainda assim bastante perigosos) comprimidos para dormir.

Foto: Viktor Hanacek (Picjumbo)
“Um último benefício do sono para a memória talvez seja o mais extraordinário de todos: a criatividade. O sono fornece um teatro noturno em que o cérebro experimenta e constrói conexões entre vastos estoques de informação. (…). De formas que o cérebro desperto jamais tentaria, o cérebro adormecido funde conjuntos díspares de conhecimento que fomentam impressionantes habilidades de solução de problemas. (…) essa alquimia informacional invocada pelo sonho do sono REM levou a alguns dos maiores feitos do pensamento transformador na história da raça humana. ” (Página 149)
Walker é bastante didático e consegue esmiuçar de maneira bastante clara até os conceitos mais herméticos. Por que nós dormimos é um livro bastante informativo, repleto de ciência (uma boa pedida para os que adoram ler livros de divulgação científica), com boas recomendações e alertas e que cumpre bem o papel de defender o sono, tudo isso com uma linguagem bastante acessível, repleta de exemplos e bastante visual. Dificilmente uma leitura que dá sono, ainda que isso seja fortemente recomendado por Walker. Uma leitura bastante pertinente e necessária nessa época em que aprendemos desde pequenos a subestimar o sono.
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Ótimo artigo! adorei
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