Philip K. Dick é bastante conhecido por suas obras que foram roteirizadas e que se tornaram grandes sucessos do cinema como Blade Runner, O Vingador do Futuro e Minority Report. Sua produção, apesar de sua curta vida, foi bastante prolixa e depois de tanto ensaiar ler algo dele, o Desafio Livrada de 2018 foi essencial para finalmente eu conhecer o autor. Findada a leitura fica a certeza de que Dick foi exímio em criar histórias explorando realidades alternativas e de que quero continuar me enveredando por outras obras suas.
O Homem do Castelo Alto foi publicado originalmente em 1962 e na distopia imaginada por Dick, estamos na década de 1960 e os nazistas ganharam a Segunda Guerra Mundial. Nesta nova realidade, o mundo está polarizado entre os alemães e os japoneses, a África é um continente morto e a América Latina segue pelo mesmo caminho. Apesar dos Estados Unidos não mais existirem, é em parte de seu antigo território, agora denominado de Estados Americanos do Pacífico que boa parte da trama se passa. Ali encontramos uma sociedade que agora pauta suas ações em um antigo oráculo de origem chinesa; que tem uma economia desenvolvida em torno de objetos americanos antigos que são muito desejados pelos japoneses e que é extremamente polarizada entre estes e os alemães, com direito à planos secretos visando a tomada total do poder. Todas as características dessa nova realidade são mostradas por Dick por meio de várias tramas paralelas, contendo inúmeros personagens. Em uma delas, ele inclui um escritor. Hawthorne Abendsen escreveu o livro O gafanhoto torna-se pesado em que, pasmem, ele narra uma história alternativa na qual os Estados Unidos e os Aliados ganharam a guerra. Um livro que está fazendo um estrondoso sucesso, que está levando as pessoas a sonharem com um futuro diferente, longe da dominação dos Aliados e que coloca o autor na lista negra das pessoas no poder. Um livro que faz alguns começarem a duvidar da própria realidade em que vivem.
Confesso que quando comecei a ler O Homem do Castelo Alto imaginei que Dick iria enveredar por outro caminho e enfatizar as mudanças que esse “admirável mundo novo” gerou nessa sociedade globalizada e ele até dá vislumbres disso. Mas, ao escolher colocar múltiplos personagens e múltiplas tramas, aparentemente sem conexão umas com as outras, Dick brinca com o conceito de múltiplas realidades, ou melhor de múltiplas interpretações da realidade, colocando em xeque a sua própria construção de mundo. Dick entrega uma trama mais psicológica e filosófica que geopolítica o que no fim, mostrou-se uma escolha acertada. As implicações morais, sociais e históricas de sua trama são impactantes.
“O terrível dilema de nossas vidas. Aconteça o que acontecer, é incomparavelmente mau. Por que lutar, então? Por que escolher? Se todas as alternativas são as mesmas…
E, evidentemente, vamos em frente, como sempre fizemos. Dia a dia. Neste momento trabalhamos contra a Operação Dente-de-Leão. Mais tarde, em outro momento, trabalharemos para derrotar a polícia. Mas não podemos fazer tudo ao mesmo tempo; é uma sequência. Um processo que se desenrola. Só podemos controlar o fim fazendo uma escolha a cada passo.
Só podemos ter esperança. Ele pensou. E tentar. ” (Página 280)
Leia uma amostra aqui:
![]() |
![]() |
Pingback: Resumo do Mês | Blablabla Aleatório