Revolução das Plantas (Stefano Mancuso)

Revolução das Plantas do neurobiólogo Stefano Mancuso foi a escolha (bem acertada) da Editora Ubu para estrear o seu clube de leituras Circuito Ubu. A proposta fundamental de Mancuso foi a de explorar o mundo das plantas, as quais seguiram um caminho evolutivo bastante divergente do tomado pelos animais, para descobrir o que elas podem nos ensinar sobre inovação e soluções para os problemas da humanidade. É com isso em mente que ele nos apresenta exemplos extraordinários das inovações vegetais comprovados por experimentos científicos, alguns dos quais desenvolvidos por ele e sua equipe no LINV (Laboratório Internacional de Neurobiologia Vegetal) da Universidade de Florença.

São nove capítulos nos quais Mancuso nos transporta para o mundo vegetal e mostra por A + B o quão surpreendente ele pode ser e o quanto podemos aprender se aprendermos a enxergar as plantas, não apenas vê-las.

“(…) qualquer que seja o destino – próximo ou distante – escolhido como o próximo passo na expansão espacial, não poderemos ir sem as plantas. No entanto, estamos inclinados a negligenciar isso. De fato, seria melhor dizer que tendemos a recalcar um pressuposto indiscutível: nós, humanos, somo totalmente delas. A comida e o oxigênio que consumimos são produzidos pelo mundo das plantas. Sem o último, a vida não seria possível. Se pensarmos nisso com frieza, é evidente que se trata de uma dependência real, o que limita nossa capacidade de nos movermos no Universo. Deveríamos ter consciência do fato de que as plantas são o motor da vida. E, em vez disso, sofremos de uma persistente e inexplicável plant blindness [cegueira para plantas]. ” (Página 144)

No primeiro capítulo podemos aprender um pouco mais sobre os mecanismos de memorização, que no caso das plantas, não exige a presença de um cérebro. E a espécie Mimosa pudica, também conhecida como dorme-dorme, foi a responsável por aumentar o conhecimento dos cientistas sobre isso. Ela que ao menos estímulo externo é conhecida por fechar suas folhas, deixa de responder a estímulos repetitivos depois de um tempo. E o que é mais surpreendente, ela se lembra desses estímulos e o fato de que ela não precisa reagir a eles, por mais de quarenta dias! Memória de longo prazo em plantas! Aliás, a não centralização de um sistema nervoso, sua estrutura em módulos, o arcabouço robusto e a capacidade de realizar movimentos passivos, colocou as plantas na mira da Agência Espacial Europeia como inspiração para soluções robóticas. É sobre os plantoides (plantas + androides) que Mancuso discorre no segundo capítulo.

Os três capítulos seguintes compõem uma seção coesa na qual Mancuso aborda as inovações anatômicas, fisiológicas e neuroquímicas das plantas. Aqui podemos ler mais sobre os mestres do mimetismo (a arte de imitar outro organismo ou o ambiente ao redor) e como algumas das espécies cultivadas hoje surgiram graças a ele. Como o desenvolvimento da filmagem em time lapse em 1896 possibilitou a observação do movimento das plantas, desde o florescimento ao movimento exploratório da raiz no solo e como um novo mundo de possibilidades de estudos e aplicações foi descortinado. O mesmo aconteceu entre os que estudavam as relações simbiontes (de cooperação) entre plantas e animais. O que se julgava bem tipificado foi abalado pela descoberta de que as plantas utilizam substâncias químicas para regular o sistema nervoso dos amimais. Uma forma bastante inteligente de determinar o comportamento que mais a beneficiará.

Nos quatro últimos capítulos Mancuso explora todas as potencialidades das plantas. Quer seja como modelos de construções sociais e políticas, ou como modelos para soluções arquitetônicas visando a potencialização da captação de luz solar e de água. E também deixa evidente a grande importância das plantas em uma provável futura conquista do universo; e, perante o cenário catastrófico que se aproxima, da influência das mudanças climáticas na agricultura, e do perigo dos desmatamentos feitos com o propósito de aumentar as áreas cultiváveis, ele traz uma solução: cultivar nos oceanos! O projeto Jellyfish Barge é maravilhoso, e mesmo que você não pretenda ler este livro, não deixe de pesquisar mais sobre o projeto na internet.

JFB a floating modular greenhouse from Pnat on Vimeo.

Meu único, porém, reside no fato de que enquanto obra única, que deveria subsistir sem a necessidade de complementações com materiais extras ao longo da leitura, o livro de Mancuso deixa a desejar. Há vários exemplos utilizados pelo autor que “gritam” por uma foto, esquema, ilustração ou nota de rodapé com link complementar. Muitas dessas complementações os assinantes do Circuito Ubu têm acesso, mas é uma pena que mesmo o autor não tenha pensado nessa complementação que tornaria sua obra ainda mais abrangente. No mais, só posso afirmar que depois de ler Revolução das Plantas você nunca mais verá as plantas com os mesmos olhos.

Ficou curioso sobre os plantoides? Assista a esta palestra da cientista Barbara Mazzolai no TEDxMilano.

 

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Arquivado em Lendo aleatoriamente, Resenhas da Núbia

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