Úrsula e Outras Obras (Maria Firmina dos Reis)

“Senhor Deus! Quando calará no peito do homem a tua sublime máxima – ama a teu próximo como a ti mesmo –, e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça ao seu semelhante! …. Àquele que também era livre no seu país…. Àquele que é seu irmão? ” (eBook)

Maria Firmina dos Reis, maranhense, mulher negra e a frente do seu tempo, publicou Úrsula em 1859. Esta obra que é considerada como sendo o primeiro romance abolicionista escrito por uma mulher, compõe junto com A Escrava (um conto abolicionista), Gupeva (um conto indigenista) e Cantos à beira-mar (reunião de poesias) o 11° volume da série Prazer de Ler da Edições Câmara.

No prólogo da primeira publicação (e incluída nesta) de Úrsula, Maria Firmina pede desculpas por estar publicando um livro de pouca formosura, pede para que ele seja aceito e que essa aceitação sirva de incentivo para ela e para outras autoras mais acanhadas que ela. É realmente muito triste que sua obra tenha permanecido desconhecida durante muito tempo. Mesmo que Úrsula e Gupeva sejam carregados de um tom dramático exacerbado e que o texto precisasse de um tratamento editorial de forma a deixar a narrativa mais concatenada, o tom da obra de Maria Firmina ressoou como obra de resistência no contexto do século XIX nos longínquos rincões maranhenses.

Recuperado a partir de um fac similar e por isso mesmo, com algumas lacunas no texto. Em Úrsula, Maria Firmina criou o seu próprio Romeu e Julieta do sertão. A trama começa com um jovem mancebo que sofre um acidente e é resgatado por um escravo que o leva até a fazenda da Senhora Luísa B. Uma senhora paralítica que vive ali com sua bela filha Úrsula. Logo o jovem mancebo e o escravo Túlio se tornam amigos e Úrsula e o rapaz se encantam um pelo outro. Mas, um passado amargo e uma cobiça indevida colocará em risco o amor dos dois jovens. E, adiciona à trama um drama familiar um tanto quanto difícil de engolir, mas isso pode ter sido ocasionado pela contingência impingida pelo tamanho da narrativa. Alguns parágrafos a mais poderia ter tornado a trama de Maria Firmina mais robusta.

Gupeva, um conto indigenista, se passa na Bahia e versa sobre o amor impossível entre uma índia e um marinheiro francês. Épica, a referida índia, tem uma história confluente com a de seu amado Gastão e o humor um tanto quanto negro do destino acaba reservando um desfecho dramático à história dos dois.

A Escrava é um pequeno conto abolicionista e aqui Maria Firmina extravasa toda a sua verve em defesa dos negros e da abolição da escravidão.

Finalmente, Cantos à beira-mar traz um compilado de poemas, os mais diversos possíveis. Há poemas dedicados à mãe, aos amigos, a personalidades maranhenses e oficiais que participaram da Guerra do Paraguai. Há poemas sobre o amor, sobre a morte, de cunho religioso, nacionalistas e abolicionistas.

A junção de todas essas obras neste volume foi uma decisão bastante acertada, pois nos apresenta de forma definitiva, em todas as suas facetas de autora: Maria Firmina dos Reis. E, é bom frisar, ainda que os negros (e escravos) sejam inseridos como personagens secundários, eles acabam roubando a cena em suas histórias e trazendo para a narrativa suas perspectivas sobre a escravidão. Maria Firmina transparece então toda a sua defesa pelo fim da escravidão. Isso confere a obra uma importância histórica que acaba suplantando todos os percalços de sua narrativa. Uma experiência de leitura que merece ser encarada. E o eBook é distribuído gratuitamente!

 

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Arquivado em Desafios Literários, Leia Mulheres, Lendo aleatoriamente, Resenhas da Núbia

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