“Grilagem de terras, invasão de áreas protegidas, construção de estradas clandestinas voltadas à extração ilegal e predatória de madeira e supressão de vegetação em desacordo com a legislação atual são práticas que vêm desde o século XIX. E é óbvio que essas práticas são incompatíveis com a vida econômica do século XXI, com a capacidade técnica da agropecuária brasileira e com a contribuição que o país pode e deve dar à luta contra as mudanças climáticas. ” (página 73)
Um artigo recentemente publicado na Scientific American (Destroyed Habitat Creates the Perfect Conditions for Coronavirus to Emerge) fala sobre como a destruição de habitats naturais criam perfeitas condições para que doenças emergentes (tais como a covid-19) alastrem na população humana. Ora, se nós derrubamos árvores e consumimos animais silvestres sem quaisquer controles, é claro que estamos a perturbar um sistema que até então estava em equilíbrio. Quando tal equilíbrio é quebrado, animais silvestres aproximam-se de comunidades humanas, muitos se sentem no direito de transformarem os mesmos em presas (culturalmente ou não), daí, para os vírus presentes nos animais silvestres “cruzarem a fronteira” e serem espalhados pelo homem, é um pulo certo para uma pandemia. Quantas mais teremos de enfrentar até que entendamos que este ritmo de exploração da natureza só nos fará acelerar o nosso próprio fim?
Em tempo de Pandemia a mensagem deixada por Ricardo Abramovay em Amazônia não poderia ser mais clara e válida. Precisamos estabelecer a economia da floresta em pé. De um país que já foi um dos maiores contribuidores no combate contra o aquecimento global, segundo o IPCC, hoje, temos um modelo fortemente atrelado ao desmatamento, uso extensivo dos recursos naturais e conflitos sociais. Um cenário que precisa ser modificado e é com isso em mente que Abramovay apresenta este ensaio: contra a tolerância excessiva ao desmatamento e a favor de uma economia de valorização da Amazônia.
O livro está dividido em cinco tópicos:
I – O Desmatamento não é premissa para o crescimento da Amazônia: o crescimento da produção agrícola não implica em desmatar novas áreas, mas reaproveitar áreas de pastagens de baixo rendimento. Há muitas dessas áreas na Amazônia. O ideal é investir em tecnologia para garantir uma utilização mais plena das mesmas.
II – São baixos os custos do desmatamento zero: as maiores perdas relacionadas ao desmatamento zero serão nas atividades predatórias, o que por si só não justifica a manutenção da política de desmatamento.
III – As áreas protegidas são um trunfo para o Brasil: em meio à tantos ataques que a legislação ambiental e os órgãos de controle vêm sofrendo sistematicamente, Abramovay mostra como essas áreas são importantes para o Brasil e para o mundo e toda a amplitude de serviços ecossistêmicos que a floresta intacta oportuniza.
IV – As áreas protegidas estão sob ataque: o fato de que a despeito de termos grandes áreas destinadas à preservação, são ínfimos os investimentos na manutenção, gestão e fiscalização dessas áreas.
V – Proteção às florestas não é idiossincrasia brasileira: os exemplos bem-sucedidos de países que reflorestaram grande áreas. A lição que fica é que é possível.
Toda essa informação é repassada de forma bastante clara por Abramovay. A obra está cheia de notas de rodapé que direcionam o leitor a textos de apoio, leis e vídeos que complementam a leitura. É com muita propriedade e vários exemplos que Abramovay mostra que nossa maior riqueza está na floresta de pé e precisamos que ela não continue vindo abaixo.
Leia uma amostra aqui:
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