Todos Nós Adorávamos Caubóis (Carol Bensimon)

Cora e Júlia, duas amigas dos tempos da universidade, uma road trip pelo interior pouco conhecido e divulgado do Rio Grande do Sul, um passado para acertar as contas e um presente para traçar planos para o futuro. É esse o esqueleto do romance de formação bem brasileiro de Carol Bensimon. Mas, apesar de duas protagonistas, Todos nós adorávamos caubóis é essencialmente o Bildungsroman de Cora. É ela, a garota intrinsecamente urbana, ligada às questões de gênero e feminista, que nos narra a história. Em contraponto à Júlia, a garota do interior, de educação religiosa, que permanece sendo uma incógnita para o leitor, ainda que tenha papel efetivo na trama.

A trama já começa com as duas envolvidas na viagem, mas Bensimon pede licença para retornar no tempo e contar um pouco sobre os preparativos da viagem e o que acarretou que ela finalmente acontecesse. A Viagem Sem Planejamento (por cidades desinteressantes) era um projeto de longa data das garotas e que nunca foi levado adiante. Agora, depois de Cora passar uma temporada em Paris, e Júlia, em Montreal, a viagem sai do plano das ideias. Aliás, o ir e vir no tempo é característica marcante da narrativa de Bensimon, mais do que uma viagem pelas rodovias gaúchas, é nos meandros das memórias, pela reconstrução dos pensamentos, sentimentos e convicções, que essa jornada é mais pungente. Durante a Viagem Sem Planejamento vão se descortinando antigos momentos de Cora e Júlia que delineiam um romance. E, Todos nós adorávamos caubóis levanta a bandeira identitária, e Bensimon o faz muito bem. Tudo trabalhado de forma bastante natural, das primeiras experiências aos eventos que marcaram as vidas de Cora e Júlia.

“Talvez eu estivesse apaixonada de novo, e, o pior, sem ter a mínima ideia de quais eram minhas chances. Quer dizer, chances havia (no sentido de já ter acontecido antes). E portanto não havia (no sentido de ter acabado mal). ”

 (página 51)

A viagem serve ao seu propósito de proporcionar questionamentos, enfrentamentos e catarses envolvendo passados problemáticos. No fim, eu só queria um pouco mais de Júlia nessa história, acho que teria deixado a trama mais redondinha e o final menos aberto. Mas, me encantei pela narrativa de Bensimon, seu texto poético e as suas descrições bastante visuais propiciaram uma boa viagem pelas paisagens gaúchas.

*Todos nós adorávamos caubóis foi o livro enviado pela TAG Curadoria em agosto de 2019. A curadora foi a escritora brasileira Noemi Jaffe.

 

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Arquivado em Lendo aleatoriamente, Resenhas da Núbia

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