Publicado originalmente em 1999, o primeiro livro de Jhumpa Lahiri, Intérprete de Males, traz contos atemporais. São nove contos que narram a fragmentação da identidade e o sentimento de não pertencimento dos que partiram em busca de oportunidades em outros países (especificamente nos Estados Unidos) e daqueles que mesmo em terras conhecidas são colocados à parte diante das expectativas sociais. Para criar essas narrativas migratórias Lahiri aprofundou-se em sua experiência como filha de imigrantes indiano que primeiro se mudaram para o Reino Unido e depois para os Estados Unidos. Uma trajetória que ressoa em algumas das histórias compartilhadas aqui. O resultado são narrativas pungentes que exprimem toda a batalha interna para alcançar (a por vezes inalcançável) sensação de pertencimento. Além do choque entre a cultura indiana e como isso por vezes acaba influenciando as relações familiares.
É o jovem casal que passa por problemas no relacionamento. Que adentram na rotina de ignorar um ao outro e acabam confrontados com uma oportunidade temporária, cinco noites com falta de luz, momento durante o qual se estabelece um ritual de confidências entre os dois. O pesquisador paquistanês que está nos EUA enquanto acompanha pela TV uma guerra civil em seu país natal, toda sua família lá. O guia turístico de final de semana que trabalha regularmente como intérprete em um consultório médico, traduzindo dores e males dos pacientes para o médico. A refugiada do tempo da Partição que agora é varredora de escadas e vive de favor. Invisível em suas necessidades. Jogada às traças quando não serve mais aos propósitos de seus “benfeitores”. Relacionamentos extraconjungais; a adaptação ao novo país testemunhada por uma criança nativa; a casa que traz surpresas que entram em choque com a herança cultural de seus moradores; uma moça realmente doente ou na verdade negligenciada pela família? A adaptação ao longo dos anos de um casal bengali à nova vida no continente americano e a preocupação de manter vivas as raízes de suas tradições, mesmo nas novas gerações já nascidas no novo país.
“Enquanto os astronautas, heróis eternos, passaram apenas algumas horas na Lua, eu permaneci neste novo mundo por quase trinta anos. Sei que minha conquista é bastante comum. Não sou o único homem a procurar fortuna longe de casa e certamente não sou o primeiro. Mesmo assim, há momentos em que me assombro com cada quilômetro que viajei, cada refeição que fiz, cada pessoa que conheci, cada quarto em que dormi. Por comum que pareça, há momentos em que tudo fica além da minha imaginação. ” (O terceiro e último continente, Página 207)
Todos os contos foram publicados separadamente em periódicos, e sim, funcionam muito bem sozinhos, mas juntos, não poderiam ter formado bloco mais coeso.
*Intérprete de Males foi o livro enviado pela TAG Curadoria em Setembro de 2019. A curadora foi a poetisa indiana radicada no Canadá, Rupi Kaur.
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