“Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.”
(página 37)

Se você é leitor, acompanha perfis literários ou mesmo nos estudos de literatura na escola, é bem provável que já tenha ouvido falar em Carolina Maria de Jesus. Mulher preta, favelada, catadora de papel e sem estudo formal que encontrou na expressão das palavras, pousadas nas folhas usadas nos cadernos achados em sua lida diária, a força para enfrentar os percalços e a triste realidade daqueles a quem todo o restante da sociedade quer tornar mais invisíveis do que já são.
Audálio Dantas, jornalista e repórter, conheceu Carolina quando estava encarregado de fazer uma reportagem na Favela Canindé, às margens do Rio Tietê. Ali, ele conheceu Carolina e teve contato com seus cadernos repletos de anotações. Dantas acabou sendo o responsável pela edição dos textos, que acabaram tomando forma de livro em 1960. Desde então a obra tornou-se um best-seller, foi publicado em várias línguas e escancarou a realidade dos favelados na década de 1950. Com entradas que abrangem os anos de 1955 e 1959, Carolina dá uma boa pincelada nas agruras diárias da vida na favela: a miséria, a fome, a dificuldade para ter acesso à direitos básicos, a violência naturalizada, as promessas “politiqueiras” que nunca se concretizavam.
Os diários de Carolina são um retrato de uma época, pontuado de lucidez e de um pouco de crítica político-social, mas ainda assim um retrato, principalmente do machismo estrutural e do preconceito arraigado. Difícil é ter que admitir que passados tantos anos, mesmo a Favela Canindé sendo agora só uma lembrança, muita coisa continua igual.
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