
Depois da minha experiência positiva com o Blake Crouch (se você ainda não leu “Matéria Escura”, leia), é claro que eu iria dar uma chance para uma coletânea idealizada por ele e que conta com autores como N. K. Jemisin de “A Quinta Estação” e Andy Weir do divertidíssimo “Perdido em Marte”.
Pensar no futuro. Essa foi a grande questão proposta por Crouch. Para ser mais específica, ele queria criar uma história sobre e levar outros escritores a escrever sobre a futurologia. A futurologia busca equilibrar os referenciais quantitativos com uma leitura subjetiva de possíveis desdobramentos futuros, partindo da análise de dados disponíveis no presente. São esses mundos novos, pensados a partir de nossa realidade atual, que Crouch nos convida a conhecer.
São seis contos e é Crouch que inicia essa jornada com “Summer Frost”, no qual ele brinca com o conceito de realidade. A trama que lembra uma mistura de Matrix, Jogador n° 01 e Westworld traz Max, uma I.A. (inteligência artificial), como protagonista. Ela que foi “criada” por Riley, originalmente para um jogo, mas que se desenvolveu de uma forma inimaginável, que Riley a “extraiu” do jogo e agora vive a ter “sessões” com Max. Crouch traz para discussão um dos assuntos mais controversos quando falamos sobre o que esperar do futuro. Serão as I.A. transformadas em superinteligências incontroláveis pelos humanos e que poderão provocar nossa destruição? Esse temor percorre toda a narrativa do conto, que tem um ritmo alucinante e garante uma leitura frenética.
N. K. Jemisin chega trazendo “Pele de Emergência”, trama na qual um ser criado especificamente para ser superior, tem a missão de visitar o antigo planeta de onde sua espécie fugiu séculos atrás quando a vida no mesmo já não era mais suportada. É, se você pensou na Terra, não está errado(a). A missão previa um planeta destruído, um verdadeiro cemitério de habitantes passados, mas que acaba por guardar surpresas.
“– O que a partida deles demonstrou foi que a Terra podia muito bem sustentar bilhões de pessoas, bastava que os recursos fossem compartilhados de maneira sensata. O que ela não conseguiria sustentar era um punhado de parasitas arrogantes, repletos de ódio, paralisando todo o resto da humanidade e vivendo às suas custas. Assim que essas pessoas foram embora, a paralisia cessou.” (Página 116).
Esse confronto dos achismos e preconceitos com a realidade, além da quebra de paradigmas, são características marcantes da narrativa de Jemisin. Um dos meus contos favoritos e que me fez querer ler outros livros dela.
Em “Arca”, Veronica Roth nos apresenta um mundo na iminência de ser destruída pela chegada de um asteroide. Mais do que uma corrida para se salvar, a humanidade está preocupada em preservar material genético de todas as formas de vida do planeta em arcas que serão enviadas para o espaço no último momento antes da colisão. O conto tem uma carga emocional e existencial muito grande.
“– Bem, não é possível amar tudo igualmente – afirmou ela. – A gente simplesmente não tem essa capacidade. E, se fôssemos capazes, seria a mesma coisa que não amar nada. Você precisa ter algumas coisas que lhe são mais queridas, porque o amor é assim. Algo particular. Específico.” (Página 145).
Em “Você Chegou ao seu Destino” Amor Towles se envereda pelo campo da manipulação gênica e a ideia de que no futuro os humanos poderão escolher todas as características que seus filhos terão. Como elas influenciarão na vida deles? É isso que Towles se propõe a mostrar. Paul Tremblay, também traz a genética para sua história, em “A Última Conversa” é a clonagem que se torna o assunto da vez. Já Andy Weir continua sua missão de esmiuçar a ciência, e geralmente não seus campos de estudos mais amigáveis, para mostrar como ela pode ser utilizada a depender das mãos em que caia. “Randomizando” traz a computação quântica e sua utilização em um golpe bilionário.
No fim, acho que Crouch conseguiu seu intento. Forward traz um bom apanhado de futuros possíveis e dos desdobramentos sociais inerentes a essas mudanças. Para quem gosta do gênero, a coletânea é certeza de boa leitura.
*Forward foi enviado como edição especial no extinto Clube Intrínsecos (Intrínsecos #36) em Setembro de 2021.
Leia uma amostra aqui:
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Dica de leitura para quem gosta de ler contos e curte ficção científica
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