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É assim que se perde a guerra do tempo (Amal El-Mohtar & Max Gladstone)

“Eu aprecio a sua sutileza. Nem toda batalha é grandiosa, nem toda arma é violenta. Mesmo nós que lutamos guerras através do tempo esquecemos o valor de uma palavra no momento certo, um ruído no motor do carro certo, um prego na ferradura certa… É tão fácil esmagar um planeta que o valor de um sopro em um banco de neve pode passar despercebido.” (Página 20).

Um dia em um campo de batalha Red encontra uma carta. Nela está escrito: “Queime antes de ler”. A carta é de Blue, outra agente, de uma facção rival. Uma carta de admiração? Uma armadilha? Uma declaração de uma vitória vindoura? Começa assim, uma correspondência entre Red e Blue.

            Entender o que são as personagens criadas por El-Mohtar e Gladstone não é tarefa fácil. São androides? Algo mais místico e fantasioso? Além do fato de que podemos associar Red a elementos cibernéticos e Blue a elementos vegetais nada mais nos é revelado. Mas, tirando as características que as colocam em campos distintos na batalha esmiuçada na trama, suas características físicas se tornam meros detalhes perante as características psicológicas de cada uma.

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Pequena Coreografia do Adeus (Aline Bei)

Pequena Coreografia do Adeus é facilmente uma das minhas melhores leitura do ano de 2021. Não conhecia nada da Aline Bei, já tinha ouvido elogios ao seu romance de estreia “O Peso do Pássaro Morto” (que agora quero desesperadamente ler), mas nada tinha me preparado ao choque de me ver imersa em uma narrativa na qual a prosa transmuta-se em poesia.

“outra coisa divertida aos meus olhos era a Música
(…)
sem canto, só nota
igual àquela que saía do caminhão de gás, deixando a rua mais bonita por alguns instantes e depois
saudosamente bonita, quando o caminhão acabava de passar.”
 (página 25)

É Júlia Terra quem nos convida a conhecer sua história, essencialmente, a obra de Bei é um romance de formação. Conhecemos Júlia em sua infância e acompanhamos suas experiências, principalmente as familiares, até a vida adulta. É seu núcleo familiar, ou para ser mais precisa, a forma como ele vai se esgarçando com o passar do tempo, que dita o ritmo da vida de Júlia. O casamento conflituoso dos pais, a separação, as relações conturbadas entre mãe e filha e pai e filha e a necessidade de amor que sempre acompanhou Júlia. É em meio a essa fragmentação familiar que ela precisa construir sua identidade, não é uma tarefa fácil.

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Como Evitar um Desastre Climático (Bill Gates)

“(…) não conseguiremos chegar a emissões zero apenas – ou sobretudo – andando menos de avião e carro. Assim como foram necessários novos testes, tratamentos e vacinas para o novo coronavírus, precisamos de novas ferramentas para combater as mudanças climáticas: maneiras carbono zero de produzir eletricidade, fabricar coisas, cultivar alimentos, refrigerar e aquecer nossos edifícios e transportar pessoas e produtos pelo mundo. E precisamos de novas sementes e outras inovações para ajudar os mais pobres – muitos deles pequenos agricultores – a se adaptar ao clima mais quente.” (Página 21).

Para impedir o aquecimento global e evitar os piores efeitos das mudanças climáticas precisamos reduzir os 51 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa lançados anualmente na atmosfera para zero. Isso mesmo, zero! E isso tendo de aumentar a geração de energia e equalizar a sua distribuição, e em um assunto, que apesar de estar em voga, ainda encontra bastante resistência na sociedade e no meio político. É essa tarefa hercúlea, de falar sobre o aquecimento global e discorrer sobre prováveis soluções, que Bill Gates toma para si em “Como evitar um desastre climático”.

O aquecimento global pode ser inevitável, mas é possível desacelerar esse processo e isso é fundamental para pensarmos em visa a longo prazo. Com uma linguagem clara e concisa, mas bem referenciada e com inúmeras dicas de leituras extras, Gates em doze capítulos desmitifica o aquecimento global para o público leigo e transita por cada uma das atividades humanas que mais contribuem para a emissão de gases estufa, mostrando como o fazem, quais as possíveis soluções e os custos necessários para elas serem implementadas. Ele também se debruça sobre a tecnologia necessária para nos adaptarmos a um mundo mais quente; a importância das políticas públicas; e, sobre como cada um de nós pode contribuir para essa batalha.

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A Era da Escuridão (Katy Rose Pool)

“Sete Profetas que cercavam o Círculo de Pedras. Endarra, a honesta, com uma coroa de louros; Keric, o caridoso, oferecendo uma moeda; Pallas, o fiel, segurando um galho de oliveira; Nazirah, a sábia, carregando a tocha do conhecimento; Tarseis, o justo, segurando uma balança; Behezda, a misericordiosa, com as mãos estendidas; e o Viajante sem rosto. Sete estátuas para os sete homens e mulheres mais sábios da Antiguidade, que procuraram o conhecimento do destino do mundo para que pudessem servir melhor ao seu povo. Que tinham dado ao povo o poder das Quatro Graças dos Corpo. Que tinham vivido por mais de dois mil anos, guiando o seu destino. ” (página 93)

O Continente Pélagos é composto pelas cidades proféticas que foram fundadas pelos Sete Profetas, os homens e mulheres mais sábios da Antiguidade. Hoje, eles desapareceram deste mundo, assim como suas profecias, exceto uma, a que prenuncia a chegada da Era da Escuridão. É com essa premissa que Katy Rose Pool nos convida a mergulhar no primeiro volume de sua trilogia. Nesse mundo, habitado por pessoas comuns, guerreiros bem treinados e pessoas com dons sobrenaturais chamados de Agraciados, cinco jovens têm suas vidas entrelaçadas pelos meandros dessa antiga profecia.

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Uma Breve História das Mentiras Fascistas (Federico Finchelstein)

Numa época em que a disseminação de fake news mais do que nunca tem moldado a nossa vida em sociedade, a leitura do livro escrito pelo historiador Federico Finchelstein vem para fornecer um breve histórico do fascismo e dos movimentos políticos originados a partir deste, enfocando como a construção histórica das mentiras fascistas lançou as bases para o fenômeno da pós-verdade e a manipulação das multidões. Por que alguns boatos prosperam nas redes sociais? Como a desqualificação de quem ousa contradizer uma inverdade ajuda a manutenção desse status quo?

Do poder da propaganda para a manutenção do regime nazista; a mitificação da figura do líder; o posicionamento contrário à noção da falseabilidade científica; passando pela ascensão do revisionismo como ferramenta de normalização de políticas atuais, Finchelstein demonstra a importância de se debruçar sobre o passado para entender o presente no qual estamos imersos e se munir de conhecimentos para lutar contra o bombardeio de fake news diário.

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Bluebird, Bluebird (Attica Locke)

O livro da Attica Locke publicado originalmente em 2017, no Brasil em 2020, não poderia ser mais emblemático num ano em que o movimento Black Lives Matter esteve tanto em evidência. Tensão racial, as relações intricadas das pequenas comunidades e o questionamento de uma justiça que deveria garantir igualdade e equidade, são temas que permeiam a narrativa de Bluebird, Bluebird. A começar por seu protagonista Darren Mathews, um Texas Ranger negro, que já surge destinado a lutar contra o racismo estrutural que permeia o sistema de segurança pública texano.

“(…) no caso de homens como nós, calças folgadas ou uma camisa para fora da calça gritavam “suspeito”. (…) “Não dê a eles motivo para pará-lo, meu filho. ” (…). Seus tios seguiam essas regras antigas da vida no Sul, pois compreendiam a facilidade com que o comportamento geral de um negro podia virar uma questão de vida ou morte. ” (Página 24).

A trama de Locke já começa com Darren envolvido no julgamento de Mack, um trabalhador negro da fazenda da família de Darren, acusado de ter assassinado um homem branco. Até então, Darren estava participando de uma força-tarefa dos Texas Rangers que estava colaborando com o FBI na investigação da Irmandade Ariana do Texas (IAT) por drogas e associação criminosa, mas não por questões raciais (ainda que o nome de Darren figurasse constantemente nas mídias sensacionalistas do grupo). Agora ele está suspenso. É quando a pedido de um amigo ela acaba se envolvendo no incidente em Lark. A pequena cidade do Condado de Shelby registrou em uma semana duas mortes. A de um homem negro e a de uma mulher branca. Apenas esta última, chamou as atenções das forças policiais locais. Continuar lendo

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Pessoas Normais (Sally Rooney)

Peguei Pessoas Normais para ler por causa do hype envolvendo a adaptação da obra para a série televisiva: Normal People. Mas, Sally Rooney me surpreendeu de forma positiva pela forma como conseguiu criar personagens tangíveis e que ressoam tanto no eu do leitor. Quer seja Marianne com sua baixa estima que lhe faz achar que tudo o que lhe acontece de ruim ela merece, ou Connell que por falta de crença em seu potencial, não acredita que algo de bom possa lhe acontecer. Dois mundos, de classes sociais distintas, que se entrechocam no ensino médio e seguem se esbarrando na vida adulta. Uma história de amor conturbada, fragmentada pelas inseguranças e pelas espirais de autodestruição em que ambos se jogam.

Marianne é considerada a nerd esquisita da escola. Ela é a garota que passa os intervalos sozinha, lendo, não tem amigos e parece não fazer questão de cultivá-los, vestindo um ar blasé como uma armadura para manter as pessoas longe. Connell, por outro lado, é o garoto popular, astro do time de futebol, o cara que faz sucesso entre as garotas e vive rodeado de amigos. Talvez Marianne e Connell nunca tivessem travado conhecimento um do outro, se a mãe do garoto não trabalhasse como empregada na casa de Marianne. E é ali, no habitat de Marianne que ela e Connell começam a travar conversas e desenvolvem uma relação, enquanto na escola fingem não se conhecer. Um relacionamento pautado pela opinião dos outros. Connell e o medo que o seu relacionamento com a esquisita da escola prejudique a sua popularidade. Marianne e sua tendência a aceitar quaisquer migalhas que lhe ofereçam. É receita de desastre na certa. Continuar lendo

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CONTÁGIO – Infecções de origem animal e a evolução das pandemias (David Quammen)

“Invadimos florestas tropicais e outras paisagens selvagens, que abrigam tantas espécies de animais e plantas – e dentro dessas criaturas, tantos vírus desconhecidos. Cortamos as árvores; matamos os animais ou os engaiolamos e os enviamos aos mercados. Destruímos os ecossistemas e liberamos os vírus de seus hospedeiros naturais. Quando isso acontece, eles precisam de um novo hospedeiro. Muitas vezes, somos nós. ” (e-book, posição 81-84)

Apesar de ter sido publicado originalmente em 2012, o livro de David Quammen não poderia ser mais atual. A Companhia das Letras tê-lo trazido neste momento para o mercado brasileiro não poderia ser mais emblemático. Com a pandemia de covid-19 ainda longe de acabar, entender como as doenças zoonóticas podem se tornar pandemias e como se dá o processo de erradicação ou controle de doenças (principalmente com os movimentos antivacinas em alta) é fundamental para que hábitos e costumes perigosos sejam mudados e para que tenhamos embasamento científico para lutar por políticas públicas, principalmente ambientais e de saúde, para que situações como a que vivenciamos hoje não se repitam ou cheguem em uma onda ainda mais dizimatória.

Hendra, Ebola, Malária, SARS-CoV, Febre Q, Psitacose, Doença de Lyme, Marburg e HIV são algumas das doenças (a maioria provocada por vírus, algumas por bactérias) de origem zoonóticas que Quammen aborda em Contágio. Ele revisita os casos dessas epidemias, evidencia a importância das investigações epidemiológicas e das medidas públicas de contenção quando uma doença está em curso e acompanha pesquisadores que dedicam-se a descobrir a origem dessas doenças, seus mecanismos de infecção e como elas “atravessaram a ponte” entre o restante dos animais e os humanos. Continuar lendo

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Eu, Miep, Escondi a Família de Anne Frank (Miep Gies & Alison Leslie Gold)

“(…) é uma história de pessoas comuns durante uma época terrível e extraordinária. Tempos que espero, de todo o meu coração, que nunca, nunca voltem. Minha história é para que nós, pessoas comuns em todo o mundo, saibamos o que aconteceu e jamais deixemos que isso se repita. ”

(página 10)

O Diário de Anne Frank pode não ser o livro mais lido no mundo, mas o relato pungente da adolescente judia que viveu durante dois anos escondida com a família e amigos em um sótão é mundialmente conhecida e constantemente descoberta por novos leitores. Em Eu, Miep, Escondi a Família de Anne Frank temos a oportunidade de captar nuances do período retratado por Anne Frank, desta vez por um olhar adulto. Não um que esteve acuado no mesmo sótão que Frank, mas que possibilitou que o esconderijo fosse viável e sustentável por um longo período. Que mesmo em sua relativa liberdade se compadeceu pelo cerceio ao que os outros estavam sujeitos e se colocou em risco para ajudá-los. Miep Gies trabalhou como secretária na empresa de Otto Frank (pai de Anne) e ela e seu marido Henk Gies ajudaram a esconder e deram suporte a família Frank de julho de 1942 a agosto de 1944. Continuar lendo

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Os Garotos Dinamarqueses que Desafiaram Hitler (Phillip Hoose)

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Dinamarca foi ocupada pelos alemães entre 1940 e 1945. Nos últimos anos a resistência dinamarquesa foi ferrenha. Pertence a eles uma das ações mais emblemáticas da Guerra: a retirada, por barco, da maioria de sua população judaica para a Suécia em 1943, pouco antes das forças alemãs levarem a cabo o projeto de enviá-los para os campos de concentração. Mas, nos primeiros anos o rei e os líderes políticos do país acataram docilmente os alemães na Dinamarca. De apáticos à revolucionários foi um longo caminho e o Clube Churchill teve um importante papel nisso. Um grupo de estudantes dinamarqueses com seus 14, 15 anos que ultrajados com a situação do seu país decidiram se unir e reagir à invasão alemã. Com suas bicicletas e sem um pingo de conhecimento tático, esses garotos influenciaram a história da Dinamarca. Uma história um tanto obscura e que Phillip Hoose traz com uma narrativa fluida e uma trama envolvente.

“Jens e eu, juntamente com nossos amigos mais chegados, tínhamos uma profunda vergonha do nosso governo. Pelo menos, os últimos noruegueses haviam perecido em um país do qual poderiam se orgulhar. Nosso pequeno exército havia cedido às forças alemãs em poucas horas, em 9 de abril. Agora, não havia nenhuma força armada, uniformizada, para nos defender. Ficamos furiosos com nossos líderes. Uma coisa tinha ficado bem clara: agora, qualquer resistência na Dinamarca teria que vir dos cidadãos comuns, não de soldados treinados. ” (Página 26)

Para escrever este livro, Hoose trabalhou diretamente com Knud Pedersen, um dos garotos fundadores do Clube Churchill, que o recebeu em sua casa e compartilhou várias horas de memórias registradas no gravador do autor. O resultado foi uma mistura de ficção e documentário entremeada por notas históricas e pelas memórias de Knud, que funcionou muito bem. Continuar lendo

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