
Terra das Mulheres de Charlotte Perkins Gilman foi publicado em 1915 e não há dúvidas de que a autora foi muito corajosa em colocar em evidência uma sociedade composta apenas por mulheres e aproveitar para trazer à tona discussões sobre maternidade, condições salariais, educação, estupro marital e o machismo arraigado no dia-a-dia. Mas, o romance que inspirou o criador da Mulher-Maravilha tem as suas limitações e começar a leitura já sabendo algumas, por causa do ótimo prefácio da Renata Corrêa, coloca as expectativas em banho-maria e nos permite (salvo as escorregadelas, em sua maioria, reflexos do período em que o romance foi escrito) aproveitar muito mais a história de Gilman.
A narrativa é feita em primeira pessoa, por Vandyck, um explorador. Sim, é um romance escrito por uma mulher, com uma história considerada feminista, mas narrada por alguém do gênero oposto. E não, isso não é um dos pontos negativos da história já que é facilmente perceptível as intenções da autora: provocar estranheza e abalar as estruturas daqueles que naturalizaram-se como gênero superior. Colocar em evidência um país composto apenas por mulheres, baseado na racionalidade e aparentemente assexuado, no qual os bebês nascem por geração espontânea propiciada pelo desejo de ser mãe, põe em xeque tudo o que Vandyck e seus companheiros de viagem, Terry e Jeff, entendem por civilidade, organização social e política e a superioridade masculina tão apregoada pelo machismo. Isso fica ainda mais evidente pelo fato deles, antes de alcançarem a Terra das Mulheres, ressoarem toda essa “superioridade” na descrença perante o sexo oposto. Não conseguindo atribuir papeis de importância para as mulheres, tampouco aceitando a existência de um país civilizado na ausência de homens. Continuar lendo →
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