Arquivo da categoria: Resenhas da Núbia

Colecionando Textos #75

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Temporada de Furacões (Fernanda Melchor)

“(…) os cinco cercados por moscas verdes reconheceram enfim o que assomava sobre a espuma amarela da água: o rosto putrefato de um morto entre os juncos e as sacolas de plástico que o vento empurrava da estrada, a máscara preta que fervilhava com uma miríade de cobras negras, e sorria. ” (Página 18).

Quando Fernanda Melchor idealizou este livro, ela queria fazer um livro-reportagem. A notícia de um cadáver de um bruxo, encontrado num canal de irrigação em um vilarejo canavieiro, suspeito de ter sido morto por seu amante para vingar a doença que afligiu sua esposa supostamente por causa de feitiços feitos pelo bruxo em questão. Melchor queria enfocar o fato da bruxaria ser utilizada como motivo plausível para justificar crimes bárbaros, mesmo pelas autoridades policiais. Mas, as dificuldades de buscar dados em uma região dominado pelo narcotráfico e pela violência contra as mulheres, a fez optar por enveredar pelo campo da ficção.

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A Era da Escuridão (Katy Rose Pool)

“Sete Profetas que cercavam o Círculo de Pedras. Endarra, a honesta, com uma coroa de louros; Keric, o caridoso, oferecendo uma moeda; Pallas, o fiel, segurando um galho de oliveira; Nazirah, a sábia, carregando a tocha do conhecimento; Tarseis, o justo, segurando uma balança; Behezda, a misericordiosa, com as mãos estendidas; e o Viajante sem rosto. Sete estátuas para os sete homens e mulheres mais sábios da Antiguidade, que procuraram o conhecimento do destino do mundo para que pudessem servir melhor ao seu povo. Que tinham dado ao povo o poder das Quatro Graças dos Corpo. Que tinham vivido por mais de dois mil anos, guiando o seu destino. ” (página 93)

O Continente Pélagos é composto pelas cidades proféticas que foram fundadas pelos Sete Profetas, os homens e mulheres mais sábios da Antiguidade. Hoje, eles desapareceram deste mundo, assim como suas profecias, exceto uma, a que prenuncia a chegada da Era da Escuridão. É com essa premissa que Katy Rose Pool nos convida a mergulhar no primeiro volume de sua trilogia. Nesse mundo, habitado por pessoas comuns, guerreiros bem treinados e pessoas com dons sobrenaturais chamados de Agraciados, cinco jovens têm suas vidas entrelaçadas pelos meandros dessa antiga profecia.

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Colecionando Textos #74

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Adeus, Gana (Taiye Selasi)

Taiye Selasi é filha de pai ganense e mãe nigeriana, nascida em Londres, é a personificação do indivíduo afropolitano (“um africano marcado pela vivência em diferentes lugares do mundo” como bem colocado pelo autor e curador da obra na TAG Curadoria, José Eduardo Agualusa). E é esta personificação que ela traz para o seu primeiro romance, no qual foi mentorada por ninguém menos que a Toni Morrison. Assim como Selasi, os filhos de Kweku e Folasadé têm origem ganense e nigeriana, além de terem nascido fora do continente africano. E sua história, resume bem o que é o afropolitanismo ao falar sobre a diáspora provocada pelas guerras civis, o processo de imigração e a construção de uma família em uma cultura distinta.

“Seu coração é forte. Mas não é, e ele sabe disso. Está partido em quatro pontos. Só rachaduras no começo, não tratadas por anos. Sua mãe em Kokrobité, Olu em Boston, Kofi em Jamestown, Folasadé por toda parte. Aquela mulher, que está em toda parte dele, profundamente, na fáscia, no músculo, no tecido, na matéria, no sangue. Ele está morrendo de um coração partido. ”

(Página 111).

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Colecionando Textos #73

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Uma Breve História das Mentiras Fascistas (Federico Finchelstein)

Numa época em que a disseminação de fake news mais do que nunca tem moldado a nossa vida em sociedade, a leitura do livro escrito pelo historiador Federico Finchelstein vem para fornecer um breve histórico do fascismo e dos movimentos políticos originados a partir deste, enfocando como a construção histórica das mentiras fascistas lançou as bases para o fenômeno da pós-verdade e a manipulação das multidões. Por que alguns boatos prosperam nas redes sociais? Como a desqualificação de quem ousa contradizer uma inverdade ajuda a manutenção desse status quo?

Do poder da propaganda para a manutenção do regime nazista; a mitificação da figura do líder; o posicionamento contrário à noção da falseabilidade científica; passando pela ascensão do revisionismo como ferramenta de normalização de políticas atuais, Finchelstein demonstra a importância de se debruçar sobre o passado para entender o presente no qual estamos imersos e se munir de conhecimentos para lutar contra o bombardeio de fake news diário.

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Colecionando Textos #72

 

 

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Uma Casa no Fim do Mundo (Michael Cunningham)

Michael Cunningham conheceu Virginia Woolf ainda na adolescência e logo estabeleceu uma conexão afetiva e artística com a autora. Foi inspirado nela que adentrou ao mundo da escrita; foi homenageando ela que ele recebeu o maior prêmio de sua carreira; e é no uso do fluxo de consciência, ainda que de forma tímida algumas vezes, e nos pensamentos digressivos de seus personagens, que ao ressoar a técnica tão bem empregada por Woolf, ele nos entrega uma narrativa a quatro vozes em uma explosão de solilóquios mentais que grudam o leitor às páginas de Uma casa no fim do mundo.

O romance, publicado em 1990, é considerado por Cunningham como sendo sua verdadeira estreia no meio literário, apesar de ter publicado um livro antes (em 1984). Nele o autor traz a história de um trio de jovens que na busca por encontrar seu lugar no mundo, ousaram seguir caminhos pouco convencionais mesmo na sociedade americana da década de 1980 ainda fortemente influenciada pelos ideais libertários do Festival de Woodstock. A trama que engloba mais de vinte anos, primeiro nos anos de 1960 em Cleveland e mais tarde nos anos de 1980 em Nova York, perpassa pela utopia hippie, a cultura gay nos Estados Unidos e a disseminação da AIDS. Temas espinhosos, mas tratados com a sensibilidade necessária sem deixar de lado a crítica social. Continuar lendo

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Bluebird, Bluebird (Attica Locke)

O livro da Attica Locke publicado originalmente em 2017, no Brasil em 2020, não poderia ser mais emblemático num ano em que o movimento Black Lives Matter esteve tanto em evidência. Tensão racial, as relações intricadas das pequenas comunidades e o questionamento de uma justiça que deveria garantir igualdade e equidade, são temas que permeiam a narrativa de Bluebird, Bluebird. A começar por seu protagonista Darren Mathews, um Texas Ranger negro, que já surge destinado a lutar contra o racismo estrutural que permeia o sistema de segurança pública texano.

“(…) no caso de homens como nós, calças folgadas ou uma camisa para fora da calça gritavam “suspeito”. (…) “Não dê a eles motivo para pará-lo, meu filho. ” (…). Seus tios seguiam essas regras antigas da vida no Sul, pois compreendiam a facilidade com que o comportamento geral de um negro podia virar uma questão de vida ou morte. ” (Página 24).

A trama de Locke já começa com Darren envolvido no julgamento de Mack, um trabalhador negro da fazenda da família de Darren, acusado de ter assassinado um homem branco. Até então, Darren estava participando de uma força-tarefa dos Texas Rangers que estava colaborando com o FBI na investigação da Irmandade Ariana do Texas (IAT) por drogas e associação criminosa, mas não por questões raciais (ainda que o nome de Darren figurasse constantemente nas mídias sensacionalistas do grupo). Agora ele está suspenso. É quando a pedido de um amigo ela acaba se envolvendo no incidente em Lark. A pequena cidade do Condado de Shelby registrou em uma semana duas mortes. A de um homem negro e a de uma mulher branca. Apenas esta última, chamou as atenções das forças policiais locais. Continuar lendo

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