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Leia Mulheres: O Dia da Mulher e a Literatura

Apesar do blog existir há 10 anos (!) e minha vida como leitora superar em anos (e muitos) essa marca, foi apenas em 2017 que passei a me preocupar com as escolhas de leituras que fazia. Deixei de pensar apenas nos títulos e pegar obras aleatoriamente na estante para ler e pensar no social e na cadeia de produção e divulgação literária por trás das obras que chegavam até o grande público. Projetos como o #readwomen2014, traduzido para #leiamulheres no Brasil me fizeram enxergar toda a problemática historicamente enfrentada pelas mulheres que ousaram se aventurar no mundo dos livros, durante muitos anos elas pouco foram incentivadas e foram até mesmo proibidas de perseguirem carreiras literárias. Pouca visibilidade editorial, a grande disparidade de espaço de mercado ocupado por ambos os sexos, a prática repressora de fazerem autoras utilizarem pseudônimos masculinos ou as iniciais para serem publicadas. Uma blindagem perante os olhos do público que só fez aumentar a visão distorcida de que a literatura escrita por homens é melhor. Continuar lendo

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Leia Mulheres: a importância de termos mulheres produzindo quadrinhos

Participo de alguns grupos do Facebook onde o foco das discussões é a literatura. Neste mês algumas postagens sobre livros escritos por mulheres acabaram aparecendo por lá, particularmente lembro-me de uma postagem feita por um rapaz no qual ele comenta a menor quantidade de escritoras que leu em comparação aos escritores no ano passado e como pretendia tentar diminuir essa defasagem este ano. Não foi a postagem dele que me surpreendeu, mas sim o comentário de um homem que enfatizou que estava muito surpreso com o fato das pessoas quererem ler mais autoras, ou ler tanto mulheres quanto homens, para ele o importante era o conteúdo apenas e que agora tudo era motivo para se instituir cotas (não vou nem comentar sobre o quão errado foi utilizar o sistema de cotas com tom de desmerecimento para estabelecer a comparação).

Será que o conteúdo realmente é importante para ele? O conteúdo de um livro, além da narrativa e da trama também passa pela construção dos personagens. E a construção de personagens femininas fortes, que não sejam utilizadas como meras muletas para o desenvolvimento dos protagonistas masculinos; de personagens que não sejam relegadas à objetos ou sejam hipersexualizadas; que tenham voz e que realmente tenham espaço na narrativa é uma parte muito importante do conteúdo dos livros e por mais que alguns autores consigam representar bem suas personagens femininas, muito do que ali é representado acaba sendo permeado por sua visão de mundo enquanto gênero historicamente dominante. Não há dúvidas, de que algumas representações do feminino só possam ser efetivamente alcançadas pela ótica feminina e isso para mulheres, garotas e meninas, que perfazem uma boa parcela da população de leitores, é muito importante. É importante ler e perceber como os pensamentos, as formas de encarar o mundo, os desafios enfrentados e as dúvidas encontram ressonância em nossa vida. A identificação do leitor com o personagem é uma parte fundamental da leitura e ao incentivarmos que mais autoras sejam publicadas e lidas, queremos que essa identificação seja mais efetiva. Que as meninas possam ler sobre mulheres determinadas, possam se inspirar por suas trajetórias, possam encontrar alento em uma história de superação que lhes dê ânimo para enfrentar os próprios problemas, que possam ler ali nas páginas aquelas vozes que durante tanto tempo permaneceram caladas. Continuar lendo

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Leia Mulheres: elas também escrevem ótimos romances policiais e thrillers

O dia 8 de março é dia de comemorar as conquistas, obtidas por meio de várias lutas, das mulheres. Nessa longa luta muitos espaços e direitos já foram conquistados. Na literatura não é diferente. Mas, apesar de já termos várias autoras, muitas com enorme sucesso e com obras consideradas clássicas, historicamente ainda existe uma defasagem em relação aos autores (como bem evidenciado naquele experimento da livraria de Cleveland). Foi por causa desse experimento que coloca em evidência essa grande disparidade, que resolvi criar essa coluna aqui no blog em março do ano passado e passado um ano a proposta continua válida. Há várias escritoras extraordinárias por aí esperando para serem lidas e se puder ajudar a divulgar a obra delas pelo menos para uma pessoa, já terá valido a pena. As indicações por aqui são temáticas e a de hoje serve para mostrar que as mulheres também escrevem ótimos romances policiais (não é a toa que até temos uma Rainha do Crime) e thrillers. Confira! Continuar lendo

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Desafio #LendoMaisMulheres – ANO III

A pessoa pouco adepta às metas de leituras rígidas e aos desafios, ficou viciada neles. Sim, é de mim que estou falando. Acompanhando alguns instagramers literários, descobri que estão rolando vários desafios literários pelas redes sociais (vários mesmo) e acabei me deparando com o perfil @mulheresnaliteratura – mantido pela Mika Andrade e que também conta com um blog  – no qual está rolando pelo terceiro ano o Desafio Lendo Mais Mulheres, que pode ser acompanhado pela hashtag #lendomaismulheres2018. Veja abaixo a imagem com as categorias do desafio deste ano e os livros que escolhi para cada uma delas. Fiz o possível para contemplar os livros que já tenho na estante e para as categorias para as quais não tenho livros, coloquei mais de uma opção, para mais para frente comprar ou emprestar. Como uma das categorias é idêntica a uma proposta pelo Yuri no Desafio Livrada, acabei mudando a minha escolha inicial para o Livrada, para poder contemplar com um mesmo livro os dois desafios.

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Leia Mulheres: Temas Sérios/Sociais

Desde que eu comecei esta pequena coluna aqui no blog, já falei de autoras que escrevem livros de não ficção, romances e graphic novels com protagonistas fortes e senhoras do seu destino, outras que ajudaram a formar muitos leitores com suas histórias infantis e infanto-juvenis e outras que provam por A mais B que mulher sabe escrever livro de fantasia sim senhor e que muitos de seus livros podem ser repletos de aventuras. Este ano vamos começar falando sobre temas mais sérios ou de cunho social, que estas autoras da lista não tiveram dúvidas em abordar ou até mesmo dedicar uma obra inteira a eles.

Katherine Boo

A americana Katherine Boo é jornalista premiada e é bastante conhecida por seus trabalhos que colocam em evidências as pessoas de comunidades pobres e desfavorecidas negligenciadas pelas autoridades. Livro mesmo, ela só publicou um, Em Busca de um Final Feliz, no qual ela faz um retrato pungente e detalhista da vida das castas mais baixas da Índia, no caso dos moradores de Annawadi, um dos mais de trinta assentamentos irregulares em Mumbai, reduto dos que vivem abaixo da linha da miséria e destinados a viverem cercados pela opulência dos hotéis cinco estrelas. Para escrever seu livro, Katherine conviveu, ouviu, acompanhou os moradores de Annawadi e registrou seus relatos de novembro de 2007 a março de 2011. Continuar lendo

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Leia Mulheres: Aventura

 

As autoras indicadas hoje poderiam também estar presentes naquela lista de escritoras de fantasia, seja por terem criados novos mundos ou feito a fantasia encontrar a realidade. Mas, estas autoras também criaram histórias nas quais seus personagens são colocados em situações perigosas, são convidados a desbravar novos lugares, encontrarem sua coragem interior e lutarem para superarem os percalços, derrotarem um vilão, ou simplesmente superarem o medo. Os livros de aventura, como são conhecidos, são bem difundidos na literatura para crianças e jovens e dentre as autoras aqui citadas há aquelas já bem conhecidas por esse público e outras que são mais conhecidas por seus livros direcionados ao público adulto, mas que também tem ótimos livros de aventura direcionados ao público mais jovem. Continuar lendo

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Leia Mulheres: Fantasia

Olha mais uma coluna precisando ser resgatada das camadas de pó…

Vamos ver se agora eu consigo mantê-la atualizada. Desta vez vamos falar sobre mulheres e fantasia. Quando falamos em livros de fantasia é comum nos atermos aos nomes de autores masculinos, ou porque eles têm maior visibilidade e um histórico mais antigo de publicação ou porque, infelizmente, algumas pessoas associam fantasia de qualidade à autores masculinos como se as mulheres não pudessem produzir excelentes obras também (xô preconceito!). A lista de autoras que se enveredam pelo mundo das palavras e criam mundos e personagens fantásticos não é pequena, mas hoje trago apenas uma pequena contribuição. Cinco autoras que merecem ser conhecidas por quem gosta do gênero. Já aviso de antemão que a ausência da Ursula K Le Guin é proposital (afinal, se Tolkien é considerado o pai da fantasia, Le Guin bem pode ser a matriarca), mas é que eu guardei ela para a lista de sci-fi!

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Leia Mulheres: Formando Novos Leitores

Estudos já comprovaram que a exposição precoce de crianças à leitura em casa tem um impacto bastante positivo para a formação de novos leitores. O exemplo de ver os pais lendo e a experiência de conhecer novos mundos com a ‘contação de histórias’ e a leitura antes de dormir, podem ser cruciais para que as crianças cresçam vendo a leitura como uma atividade divertida e prazerosa e sigam levando esse hábito consigo. Mas, mais do que só despertar curiosidade sobre o hábito da leitura, é preciso também manter essa curiosidade acesa durante o desenvolvimento da criança e adolescente. Permitir que as crianças e os adolescentes possam escolher os livros que querem ler (de vez em quando) e poderem falar sobre eles, pode ser uma ótima iniciativa. No ensino fundamental os livros paradidáticos ainda trazem histórias de aventuras e com uma linguagem bem mais acessível que acabam captando muita a atenção das crianças, mas no ensino médio, quando chegam as listas de livros clássicos, muitos acham bem difícil engolir. Não é preciso excluir os clássicos, eles têm sua importância, mas por que não trazer livros mais do gosto da garotada para dentro da sala de aula? Trabalhar Harry Potter não exclui trabalhar Machado de Assis e nem precisa. Continuar lendo

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Leia Mulheres: escritoras de ficção e mulheres no controle da própria história

Uma livraria em Cleveland costuma fazer uma ação interessante durante as duas primeiras semanas do mês de março. O experimento intitulado “Illustrating the Gender Gap in Fiction” consiste em virar as lombadas de todos os livros escritos por homens para esconder suas obras e colocar em evidência as obras escritas por mulheres. O que acaba evidenciando também a grande disparidade de espaço do mercado ocupado por ambos os sexos. Durante séculos as mulheres foram pouco incentivadas e muitas vezes impedidas de perseguirem carreiras literárias e ainda que hoje elas tenham mais espaço é inegável que os autores homens ainda têm predominância no mundo literário. E não são porque os livros escritos por mulheres são ruins não, na maioria das vezes é por falta de abertura de mercado e investimento em propaganda. Todo fã de Harry Potter sabe que a Rowling foi aconselhada por um editor a utilizar apenas as iniciais do seu nome porque garotos não leriam um livro escrito por mulher! Aliás, a utilização de pseudônimos masculinos ou a utilização das iniciais foi e ainda continua sendo uma prática recorrente entre as mulheres para poderem publicar suas obras: as irmãs Brontë e a escritora de romances policiais P.D. James são bons exemplos disso. A ação que alguns podem entender como ação sexista, na visão da livreira é só uma pequena forma de retribuir todos esses anos que as mulheres tiveram de permanecer blindadas aos olhos do público. O exercício também provoca a reflexão sobre nossos hábitos como leitores e sobre as nossas estantes e quem sabe nos levará a aumentar os espaços em nossas prateleiras dedicados a elas.   Continuar lendo

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Leia Mulheres: escritoras de não-ficção que vale a pena conhecer

Com o Dia Internacional da Mulher se aproximando, nada mais justo do que lembrar a data colocando em evidência as mulheres que fazem do mundo das palavras suas profissões. O título deste post faz referência ao projeto #readwomen2014 (adotado no Brasil como #leiamulheres2014) proposto pela escritora Joanna Walsh e que propunha que todos lessem mais mulheres, as quais historicamente sempre tiveram menos visibilidade no mercado editorial. Houve um grande engajamento no ano de 2014 e até hoje ele rende frutos. No Brasil hoje temos o projeto Leia Mulheres que já conta com vários clubes de leituras espalhados pelo Brasil e que tem contribuído para colocar em destaque o trabalho de várias escritoras. A minha contribuição de formiguinha aqui é apresentar cinco escritoras de não-ficção que me proporcionaram ótimas leituras, algumas extraordinárias, e, que eu gostaria que cada vez mais tivessem suas obras conhecidas e lidas por mais pessoas.

A ordem de apresentação das autoras é aleatória.

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Foto de Elke Wetzig

Era inconcebível eu fazer essa lista e deixar de fora a bielorussa Svetlana Aleksiévitch laureada em 2015 com o Prêmio Nobel de Literatura pelo livro Vozes de Tchernóbil, uma leitura sofrida e angustiante, mas de uma sensibilidade e um compromisso com o povo de Tchernóbil imensos. O livro faz jus a todo o burburinho que causou na época de seu lançamento aqui no Brasil e se você ainda não leu se permita ter essa experiência. Dela a Companhia das Letras também já publicou outros dois livros: “A guerra não tem rosto de mulher” e “O fim do homem soviético”. O primeiro traz o relato da Segunda Guerra Mundial do ponto de vista das mulheres que longe de ficarem na retaguarda, estiveram na linha de frente das batalhas. Uma leitura com um grande enfoque feminino e que já está na pilha de livros para ler ainda este ano. Continuar lendo

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