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Quarto de Despejo (Carolina Maria de Jesus)

“Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.”

 (página 37)

Se você é leitor, acompanha perfis literários ou mesmo nos estudos de literatura na escola, é bem provável que já tenha ouvido falar em Carolina Maria de Jesus. Mulher preta, favelada, catadora de papel e sem estudo formal que encontrou na expressão das palavras, pousadas nas folhas usadas nos cadernos achados em sua lida diária, a força para enfrentar os percalços e a triste realidade daqueles a quem todo o restante da sociedade quer tornar mais invisíveis do que já são.

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Colecionando Textos #83

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Colecionando Textos #82





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Pequena Coreografia do Adeus (Aline Bei)

Pequena Coreografia do Adeus é facilmente uma das minhas melhores leitura do ano de 2021. Não conhecia nada da Aline Bei, já tinha ouvido elogios ao seu romance de estreia “O Peso do Pássaro Morto” (que agora quero desesperadamente ler), mas nada tinha me preparado ao choque de me ver imersa em uma narrativa na qual a prosa transmuta-se em poesia.

“outra coisa divertida aos meus olhos era a Música
(…)
sem canto, só nota
igual àquela que saía do caminhão de gás, deixando a rua mais bonita por alguns instantes e depois
saudosamente bonita, quando o caminhão acabava de passar.”
 (página 25)

É Júlia Terra quem nos convida a conhecer sua história, essencialmente, a obra de Bei é um romance de formação. Conhecemos Júlia em sua infância e acompanhamos suas experiências, principalmente as familiares, até a vida adulta. É seu núcleo familiar, ou para ser mais precisa, a forma como ele vai se esgarçando com o passar do tempo, que dita o ritmo da vida de Júlia. O casamento conflituoso dos pais, a separação, as relações conturbadas entre mãe e filha e pai e filha e a necessidade de amor que sempre acompanhou Júlia. É em meio a essa fragmentação familiar que ela precisa construir sua identidade, não é uma tarefa fácil.

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Colecionando Textos #70

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Colecionando Textos #69

 

 

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Sanga Menor (Cíntia Lacroix)

“Sanga Menor era uma cidade em forma de ladeira. Uma ladeira suave na descrição de alguns que tomavam por parâmetro, decerto, um precipício. Uma ladeira íngreme na opinião de outros que talvez a comparassem à linha do horizonte.

(…)

A rua principal estendia-se desde o ponto mais alto da cidade, onde estavam a igreja, o clube e a prefeitura, até o ponto mais baixo, onde dormia a sanga, no seu leito escuro e quieto. ”

 (página 23)

Desde a primeira vez que me deparei com o título da obra de Cíntia Lacroix, senti que precisava lê-lo. Isso foi lá em 2009, quando o romance contava com outra capa. Mais de uma década e uma nova edição depois finalmente pude me enveredar pelas ruas de Sanga Menor (que nem são muitas) e pela história de sua gente. Uma cidade cercada por mistérios e lendas que recheiam a história com ares de um realismo fantástico que nada fica a dever aos grandes nomes do gênero.

Como quem não quer nada, Lacroix nos convida a conhecer a história do cordato e acomodado Lírio Caramunhoz, da protetora Rosaura, da cansada Margô, do criativo Gilberto e da contestadora Caetana dentre tantos outros sanga-menorenses. A trama tem início com Lírio, criado a pão-de-ló pela mãe (para o desassossego de Margô), um cuidado excessivo que vem desde quando ainda estava na barriga, decorrente da ausência do pai e esteio da família que sobrevive em estado vegetativo após um derrame. É o constante medo de Rosaura que a fez e faz tratar seu único filho assim, mas longe de protegê-lo tal fato serviu para colocar um alvo em seu corpo, para todas as chacotas que os sanga-menorenses pudessem inventar. É fácil o leitor se colocar ao lado de Margô e taxar Lírio de aproveitador, mas quando você percebe que ele não é alienado de sua condição e até mesmo se martiriza por ela, é impossível não se pegar torcendo para ele conseguir romper as amarras e finalmente viver sua vida. Continuar lendo

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Colecionando Textos #65

 

 

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Todos Nós Adorávamos Caubóis (Carol Bensimon)

Cora e Júlia, duas amigas dos tempos da universidade, uma road trip pelo interior pouco conhecido e divulgado do Rio Grande do Sul, um passado para acertar as contas e um presente para traçar planos para o futuro. É esse o esqueleto do romance de formação bem brasileiro de Carol Bensimon. Mas, apesar de duas protagonistas, Todos nós adorávamos caubóis é essencialmente o Bildungsroman de Cora. É ela, a garota intrinsecamente urbana, ligada às questões de gênero e feminista, que nos narra a história. Em contraponto à Júlia, a garota do interior, de educação religiosa, que permanece sendo uma incógnita para o leitor, ainda que tenha papel efetivo na trama.

A trama já começa com as duas envolvidas na viagem, mas Bensimon pede licença para retornar no tempo e contar um pouco sobre os preparativos da viagem e o que acarretou que ela finalmente acontecesse. A Viagem Sem Planejamento (por cidades desinteressantes) era um projeto de longa data das garotas e que nunca foi levado adiante. Agora, depois de Cora passar uma temporada em Paris, e Júlia, em Montreal, a viagem sai do plano das ideias. Aliás, o ir e vir no tempo é característica marcante da narrativa de Bensimon, mais do que uma viagem pelas rodovias gaúchas, é nos meandros das memórias, pela reconstrução dos pensamentos, sentimentos e convicções, que essa jornada é mais pungente. Durante a Viagem Sem Planejamento vão se descortinando antigos momentos de Cora e Júlia que delineiam um romance. E, Todos nós adorávamos caubóis levanta a bandeira identitária, e Bensimon o faz muito bem. Tudo trabalhado de forma bastante natural, das primeiras experiências aos eventos que marcaram as vidas de Cora e Júlia. Continuar lendo

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Não, Não é Bem Isso (Reginaldo Pujol Filho)

Não, Não é Bem Isso é o quarto livro do Reginaldo Pujol Filho, mas é o primeiro do autor que leio e eu adorei a experiência. São doze textos, onze contos e uma novela nos quais Reginaldo encarna vários narradores, de uma alma recém desencarnada a uma criança com pretensões pela santidade. O caldeirão de misturas rendeu narrativas deliciosas e bastante diversificadas. Não tem como ficar entediado, a cada conto, é como se fosse um novo livro. A luta de classes, as confusões provocadas pelas diferenças linguísticas, uma pandemia, um bigode emblemático e uma experiência com consequências funestas, uma herança diferente, releituras… Muitas das histórias espalham-se pelo mundo e algumas (poucas) espraiam-se pelas ruas e praças de Porto Alegre. Mas, falando do mundo ou de casa, Reginaldo é certeiro nas palavras e incisivo em suas críticas sociais.

“A história é apenas John, ou Paul, ou George, Ringo não conversando com Dumbo, perguntando para Dumbo quantos chineses eles vão explodir hoje, chineses porque vietnamitas ou vietcongues é um troço complicado de falar e o preconceito é fácil, fácil de dizer. ”

 (página 36  – Helicóptero elefantes, Emília, John, ou Paul, ou George, Ringo não)

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