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Pessoas Normais (Sally Rooney)

Peguei Pessoas Normais para ler por causa do hype envolvendo a adaptação da obra para a série televisiva: Normal People. Mas, Sally Rooney me surpreendeu de forma positiva pela forma como conseguiu criar personagens tangíveis e que ressoam tanto no eu do leitor. Quer seja Marianne com sua baixa estima que lhe faz achar que tudo o que lhe acontece de ruim ela merece, ou Connell que por falta de crença em seu potencial, não acredita que algo de bom possa lhe acontecer. Dois mundos, de classes sociais distintas, que se entrechocam no ensino médio e seguem se esbarrando na vida adulta. Uma história de amor conturbada, fragmentada pelas inseguranças e pelas espirais de autodestruição em que ambos se jogam.

Marianne é considerada a nerd esquisita da escola. Ela é a garota que passa os intervalos sozinha, lendo, não tem amigos e parece não fazer questão de cultivá-los, vestindo um ar blasé como uma armadura para manter as pessoas longe. Connell, por outro lado, é o garoto popular, astro do time de futebol, o cara que faz sucesso entre as garotas e vive rodeado de amigos. Talvez Marianne e Connell nunca tivessem travado conhecimento um do outro, se a mãe do garoto não trabalhasse como empregada na casa de Marianne. E é ali, no habitat de Marianne que ela e Connell começam a travar conversas e desenvolvem uma relação, enquanto na escola fingem não se conhecer. Um relacionamento pautado pela opinião dos outros. Connell e o medo que o seu relacionamento com a esquisita da escola prejudique a sua popularidade. Marianne e sua tendência a aceitar quaisquer migalhas que lhe ofereçam. É receita de desastre na certa. Continuar lendo

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Darkmouth – Os Caçadores de Lendas (Shane Hegarty)

“A família de Finn era formada por Caçadores de Lendas há tanto tempo quanto havia história a respeito deles. E, enquanto as Lendas continuassem existindo, enquanto continuassem a atacar Darkmouth, sua família seria necessária. Enquanto ele fosse o filho único do único Caçador de Lendas, Finn seria necessário. E, como seu pai seria promovido para o Conselho dos Doze, Finn seria necessário para proteger Darkmouth sozinho.” (Página 32)

Finn tem apenas 12 anos, mas já carrega nos ombros um grande legado. No passado havia vários lugares conhecidos como Vilas Flageladas, onde a barreira entre o mundo dos humanos e o Mundo Infestado, habitado pelas Lendas, era muito tênue. Ao longo dos séculos, inúmeros Caçadores de Lendas ficaram responsáveis por capturar as Lendas que vez ou outra ousaram aparecer nesses lugares. Com o passar do tempo, a situação foi se acalmando e o trabalho dos caçadores não foi mais necessário em muitos lugares. Exceto em Darkmouth, na Irlanda. Ali, ao longo dos séculos a família de Finn ficou incumbida de mantê-los longe e a tarefa nunca terminou. Agora, Finn está destinado a se tornar o último Caçador de Lendas e tomar para si a tarefa de defender Darkmouth depois que o pai se aposentar. O problema é que Finn não leva muito jeito para a tarefa (e nem tem muita vontade de ficar encarregado por ela). O fato do pai constantemente ter de socorrê-lo durante os embates com as Lendas e limpar sua barra quando ele provoca algum incidente na cidade, não contribui para ele ansiar mais por seu legado. Ter pouco apoio dos moradores de Darkmouth, que se ressentem por ali ser o único lugar onde Lendas ainda aparecem e culpam a família de Finn, e sofrer bullying diariamente na escola, é a cereja do bolo. Continuar lendo

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Temporada de Acidentes (Moïra Fowley-Doyle)

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A Irlanda é conhecida por seu rico folclore e pela grande importância que a sorte (ou a falta dela) tem na vida das pessoas. Em seu livro de estreia, Moïra Fowley-Doyle utiliza de forma interessante todo esse arcabouço criando um romance imagético e leva as últimas consequências a importância da sorte. Afinal, por que trabalhar alguns eventos esporádicos de má sorte se você pode tornar azarado um mês inteiro? Por que não retroceder e instituir uma temporada inteira de azar que se repete ao longo dos anos?

“É a temporada de acidentes: acontece todos os anos na mesma época. Um período em que ossos quebrados, cortes e hematomas são frequentes. (…)

Resumindo: apertamos os cintos, pois sabemos que o pior está por vir. Nunca saímos de casa sem pelo menos três camadas de roupa. Temos medo da temporada de acidentes. Temos medo da facilidade com que os acidentes se transformam em tragédias. Já passamos por muitas. ”

(Página 15)

Desde que Cara se entende por gente, e antes disso, sua família se torna vulnerável a todo tipo de acidentes durante o mês de outubro. Este ano a temporada de acidentes segue cobrando dividendos dos Morris, mas desta vez será diferente. O passado será remexido, cicatrizes (e não somente as físicas) serão relembradas, haverá o prenúncio de uma grande tragédia, mas também sobrará espaço para a amizade e o amor. Continuar lendo

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A Lista (Cecelia Ahern)

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 “Esmagada e espremida, esgotada e desmoralizada, vendo tudo ser arrancado dela, Kitty refletiu que isso era o que ela causara a Colin Maguire, enquanto os repórteres se chocavam contra ela. Ela continuou caminhando, um passo à frente do outro; era tudo o que conseguia fazer. Queixo empinado, não sorria, não chore, não caia, caminhe. ” (Página 37)

Kitty Logan tem 32 anos, é jornalista e não está vivendo uma boa fase em sua vida. Kitty foi responsável por uma matéria que acabou se tornando um escândalo, destruiu a vida de pessoas e agora está sendo processada. Para piorar, Constance sua amiga e mentora há mais de dez anos, está muito doente. Em uma de suas últimas conversas com a amiga, Kitty pergunta a Constance se houve uma história que ela sempre quis escrever e nunca o fez. Constance pede para Kitty pegar um arquivo intitulado “Nomes” e retornar ao hospital para que ela lhe conte sobre o que se trata. Mas, Kitty não tem tempo de saber mais sobre a história da amiga. Constance morreu, seu emprego na TV foi para o espaço e o emprego na revista fundada por Constance está por um fio, seu melhor amigo perdeu a paciência com ela e seu namorado a deixou.

Poderia ser considerada uma coitada, mas a verdade é que tirando a tragédia da perda da amiga, todas as outras perdas ocorreram em decorrência dos seus atos. Então, Ahern não nos vende sua protagonista como a coitada sofredora que precisa dar a volta por cima, e reside aí o maior acerto desta obra. Kitty é a mulher que fez escolhas erradas, agiu errado (e muito) e que agora precisa repensar seus atos e se reencontrar sem ter o alicerce que sempre esteve ao seu lado para o que desse e viesse, sua miga Constance. Mais real, impossível. Continuar lendo

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O Presente (Cecelia Ahern)

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“Esta história é sobre pessoas, segredos e tempo. Sobre pessoas que, assim como os embrulhos, guardam segredos, escondem-se sobre várias camadas, até encontrarem as pessoas que poderão desembrulhá-las e ver o que há dentro. Às vezes é preciso se entregar a alguém para perceber quem você realmente é. Às vezes é preciso remexer as coisas para chegar ao âmago.” página 13.

Lou Suffern gasta o mínimo de tempo com qualquer pessoa, sempre está correndo, sempre tendo dois lugares para ir, duas coisas para fazer. Um executivo bem sucedido, também o clássico viciado em trabalho que não enxerga nada do que está ao seu redor, nada que não signifique cifrões, negócios e cargos mais altos no emprego. Mesmo com todo o espírito natalino explodindo ao seu redor, ele segue incólume não prestando atenção a ninguém ao seu redor. Até que um dia, o atarefado Lou decide parar e fazer um ato caridoso a um morador de rua. Gabe, que fica em frente ao prédio onde Lou trabalha e que é bastante observador. Ao conversar com Gabe, Lou fica intrigado com as informações que ele lhe fornece, é assim que ele percebe que há planos sendo construídos por outros colegas do seu trabalho. E o controlador Lou, vê em Gabe a chance de continuar controlando tudo e lhe oferece um emprego. O ruim é quando Lou percebe que talvez essa não tenha sido uma de suas melhores ideias, a quase onipresença de Gabe começa a lhe perturbar, assim como os conselhos e o sentimento de que Gabe sabe mais do que deveria saber… Continuar lendo

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O Livro do Amanhã (Cecelia Ahern)

“Perdi meu pai. Ele perdeu seus amanhãs e eu perdi todos os nossos amanhãs juntos. Agora, pode-se dizer que os aprecio quando chegam. Agora, quero torná-los o melhor que puderem ser.”

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Tamara cresceu acostumada ao luxo e sem a mínima preocupação com o amanhã. Mas, a morte abrupta de seu pai veio para estilhaçar o mundo perfeito da garota de 16 anos. Primeiro pelo trauma de perder um ente querido e segundo, porque a perda do pai vem acompanhada de uma montanha de dívidas que obriga Tamara e sua mãe a deixarem a casa onde vivem e se mudarem para a casa dos tios da garota em um vilarejo no interior. Em sua nova vida os dias agitados já não têm espaço, a mãe vive no mundo da lua sem dar a mínima atenção à filha ou ao que a cerca, o tio não é de muitas palavras e a tia é uma controladora de carteirinha, uma sombra sempre presente a controlar todos os passos da garota e que parece guardar alguns segredos. A vizinhança? Um castelo em ruínas, uma cabana na qual ela não sabe quem mora, um posto de correios, uma escola vazia e um pequeno convento.

Essa primeira parte da história não tem ação nenhuma, segredo nenhum é revelado ou sugerido e mesmo assim a leitura longe de ser cansativa é divertida. Cecelia nos presenteou com belas passagens, alegorias inspiradoras, e metáforas poéticas, apesar de trágicas, que condizem com a situação vivida pela personagem. Eu, que tenho o costume de anotar os trechos que mais gosto tive que conter tal hábito porque a ação já estava desenfreada. É só porque consegui me segurar que esta resenha não está repleta de citações. Continuar lendo

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O Menino do Pijama Listrado (John Boyne)

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A Segunda Guerra Mundial e o Nazismo são retratados em várias obras literárias, temos obras inspiradas em documentos reais e outras que mesmo sendo ficção não deixam de ter um pouco de verdade. Não faltam livros aos interessados em ler sobre esse período. Eu já li mais de três livros sobre o tema, desde romances mais adultos, passando pelo juvenil e hoje venho lhes apresentar uma obra com um olhar infantil sobre os acontecimentos impingidos pela Alemanha nazista. Muitos devem ter se lembrado de Anne Frank e seu diário, mas a história que lhes apresentarei não é narrada por um judeu e sim por um filho de um oficial alemão, um garoto de nove anos que adorava explorar e que não fazia ideia dos acontecimentos que sua exploração iria provocar…

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