O Impulso (Ashley Audrain)

“Você me queria alerta e paciente. Me queria descansada, para eu poder cumprir com meus deveres. Antes, você costumava se preocupar comigo como pessoa – minha felicidade, as coisas que me faziam bem. Agora eu era uma prestadora de serviços. Você não me via como mulher. Eu era apenas a mãe da sua filha.” (Página 67).

A narrativa da história de Ashley Audrain é feita em primeira pessoa, por Blythe. Blythe que vem de uma família sem bons modelos maternos e que sonha em ser uma mãe melhor para seus filhos. Mas essa experiência não acontece da forma como ela almejava. A adaptação de Blythe à maternidade é dura. Seu relacionamento com sua filha não flui e as implicações disso para o seu casamento não são das melhores. Mas, se engana quem pensa que esse é só um livro sobre casamento e maternidade, Audrain tempera essa mistura com um toque de suspense muito bem conduzido e que mantém o leitor ligado até a sua conclusão.

Para apresentar sua protagonista e mostrar o background que culminou na forma de Blythe encarar o mundo, Audrain intercala a narrativa de Blythe com inserções de sua infância com a mãe e da infância da mãe com a avó. E, enquanto acompanhamos o desenrolar da história dela com seu marido e de suas experiências maternais com Violet, o passado vem preenchendo os espaços e tornando Blythe mais real perante os olhos do leitor. E quando as suspeitas sobre o comportamento da filha surgem, fica a dúvida. Será que o fato de Blythe realmente não ter desejado sua gravidez (fez mais para agradar ao marido) a fez suspeitar em demasia de Violet ao não ter suas expectativas concretizadas? Ou será que essas suspeitas têm fundamento? Até que Blythe ganha uma nova chance de experimentar a maternidade. Com Sam, desta vez, a experiência almejada parece se concretizar. Mas uma tragédia coloca em xeque as relações dessa família. O que realmente aconteceu? Blythe tem razão em suas suspeitas? Não é uma resposta definitiva que Audrain nos dá e ao fazer isso ela desloca novamente sua trama do suspense para a discussão sobre a maternidade.

É assim que Audrey coloca em xeque a convenção social que determina que cabe às mulheres a tarefa de cuidar dos filhos e cabe ao homem prover. Uma convenção que transforma mulheres em meros instrumentos para a perpetuação dos genes de seus companheiros. Ah, e devem fazer isso rindo e sendo agradecidas, porque senão correm o risco de serem taxada de pouco amorosas e desinteressadas. Audrain arranca os óculos rosas da maternidade e escancara todos os obstáculos que podem surgir para quem faz essa escolha.

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Arquivado em Lendo aleatoriamente, Resenhas da Núbia

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