
Foto: Kelly Sikkema
Estudos já comprovaram que a exposição precoce de crianças à leitura em casa tem um impacto bastante positivo para a formação de novos leitores. O exemplo de ver os pais lendo e a experiência de conhecer novos mundos com a ‘contação de histórias’ e a leitura antes de dormir, podem ser cruciais para que as crianças cresçam vendo a leitura como uma atividade divertida e prazerosa e sigam levando esse hábito consigo. Mas, mais do que só despertar curiosidade sobre o hábito da leitura, é preciso também manter essa curiosidade acesa durante o desenvolvimento da criança e adolescente. Permitir que as crianças e os adolescentes possam escolher os livros que querem ler (de vez em quando) e poderem falar sobre eles, pode ser uma ótima iniciativa. No ensino fundamental os livros paradidáticos ainda trazem histórias de aventuras e com uma linguagem bem mais acessível que acabam captando muita a atenção das crianças, mas no ensino médio, quando chegam as listas de livros clássicos, muitos acham bem difícil engolir. Não é preciso excluir os clássicos, eles têm sua importância, mas por que não trazer livros mais do gosto da garotada para dentro da sala de aula? Trabalhar Harry Potter não exclui trabalhar Machado de Assis e nem precisa.

Foto: Andrew Branch
A bem da verdade, se o trabalho de formação de leitor foi bem feito lá atrás. E isso em casa, com os pais. As crianças, leitores, já terão um arcabouço de leituras e acabarão por interesse própria se aventurando nos clássicos, sem a necessidade da imposição do professor. E falo isso enquanto leitora formada desde o berço, pelo exemplo materno. No começo eram os livros infantis cheios de figuras, com fitas K7 (é gente sou véia!) para ouvir a história enquanto folheava os livros, depois vieram os livros com mais páginas e palavras, os livros da Coleção Vagalume, os da Série A Inspetora, as primeiras incursões em livros mais sérios (lembro que li Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída aos 12 anos e ainda falei sobre a experiência da leitura na escola), e em livros de autores já considerados clássicos e que eu nem fazia ideia de que eram clássicos. O Velho e o Mar eu peguei por curiosidade, nem imaginava quem era Ernest Hemingway e nem estava no Ensino Médio ainda, Castro Alves, Pablo Neruda e Machado de Assis também já eram velhos conhecidos antes das listas de leituras obrigatórias das aulas de literatura. Por isso, tenho muito carinho por muitos dos autores que ajudaram lá no início a me tornar uma ávida leitora. No Brasil, da safra antiga temos muitas autoras que basicamente só escreveram livros infantis e que publicaram muitas histórias divertidas. Atualmente, também temos várias que com seu trabalho incentivam vários jovens a gostarem de ler. E é sobre elas, essas autoras, velhas conhecidas, outras mais recentes, que quero falar um pouco aqui nesse post. A lista é curta porque me restringi apenas às mais frequentes nas minhas leituras (pelo que eu me lembro).

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Era inconcebível eu fazer essa lista e deixar de fora a Ana Maria Machado, talvez a escritora de livros infantis (mas ela também escreveu obras para adultos) mais lida do Brasil. Ana nasceu em Santa Tereza no Rio de Janeiro em 1941, começou a carreira como pintora, participando inclusive de exposições, formou-se em letras e deu aulas durante muito tempo, partiu para o exílio depois de ter sido presa pelo governo militar em 69, passou a trabalhar como jornalista e também publicando histórias infantis na revista Recreio. Só em 1977 suas histórias infantis começaram a sair em livros. Seu primeiro livro publicado foi Bento que Bento é o Frade. Também são dela os livros: Currupaco Papaco, História Meio ao Contrário, Menina Bonita do Laço de Fita, A Zabumba do Quati e Hoje Tem Espetáculo: No País dos Prequetés. Este último traz uma história muito divertida e que recomendo para crianças e adultos também. A Ana Maria Machado ocupa a cadeira número I da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde agosto de 2003.
Outra que não dá para deixar de fora é a Ruth Rocha, paulistana que nasceu em 1931, formada em Ciências Políticas e Sociais, membro da Academia Paulista de Letras desde 2007 e com mais de duzentos livros dedicados ao público infantil e infanto-juvenil. Assim como a Ana Maria Machado, a Ruth Rocha também começou a publicar suas primeiras histórias infantis na revista Recreio e só em 1976 seu primeiro livro foi publicado: Palavras, muitas palavras. Seu livro mais famoso é sem dúvidas Marcelo, Marmelo, Martelo, mas também podemos citar: De Repente Dá Certo (para o público infanto-juvenil), Bom Dia, Todas as Cores!, A Menina que Aprendeu a Voar, além de várias adaptações de clássicos como A Odisseia, Ilíada e O Guarani para o público infantil.

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Maria Heloísa Penteado também começou a publicar seus livros infantis na década de 70. A autora, paulista de Araraquara, nasceu em 1919 e morreu em 2014. Ela também trabalhou um bom tempo como jornalista antes de começar a publicar seus livros que ela também ilustrava. São delas os livros A Menina que o Vento Roubou, Madalena Pipoca, No Reino Perdido do Beleléu, O Rei Caracolinho e a Rainha Perna Fina (uma história muito divertida!) e A Velha Fridelia. Estes dois últimos narram as aventuras de Tomás e seus amigos e o Reino das Garatujas.
As próximas autoras: Silvia Cintra Franco e Lúcia Machado de Almeida são velhas conhecidas daqueles que como eu cresceram lendo os livros da Coleção Vagalume.

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Silvia Cintra Franco paulistana nascida em 1952, Silvia começou a publicar livros destinados ao público infanto-juvenil em 1984. Seus livros são sinônimos de aventura com um ar de romance investigativo e ela sempre incluiu temas ecológicos, esportivos, científicos, além de levar aos leitores à cenários de grande importância histórica e/ou biológica. Mais atualmente deixou a literatura infanto-juvenil de lado e publicava ensaios e livros voltados para a enologia (estudo dos vinhos). Silvia morreu em 2015 vítima de câncer. Dois livros dela que lembro de ter devorado foram Na Barreira do Inferno e Aventura no Império do Sol.

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Quem não lembra dos livros O Escaravelho do Diabo (já virou até filme!) e O Caso da Borboleta Atíria? Sem dúvidas eras meus livros favoritos da Coleção Vagalume. Ambos escritos pela Lúcia Machado de Almeida. Mineira nascida em 1910, Lúcia foi jornalista atuante por quase seis décadas de sua vida. Ela também se dedicou à tradução, vertendo para o português livros de Honoré de Balzac, Bernard Hollowood e Astrid Lundgreen. Sua carreira como escritora ela contava que nasceu por acaso em 1942, quando durante um surto de catapora familiar precisou distrair os filhos que não podiam sair de casa e acabou criando a personagem Piabinha e suas aventuras no fundo do mar. Além dos textos infantis, Lúcia também publicou obras sobre o Ciclo do Ouro Mineiro que são tidas como essenciais. A autora que morreu em 2005 deixou um grande legado de livros infanto-juvenis. Além dos já citados acima, são obras suas também muito conhecidas: Spharion e os livros protagonizados por Xisto.
Para encerrar essa lista, trago duas autoras contemporâneas que já há algum tempo tem angariado devotados leitores.
No Brasil, mais recentemente temos a autora Paula Pimenta, mineira de Belo Horizonte que começou a se enveredar pelo mundo das palavras com as crônicas e os poemas, mas que caiu nas graças do público jovem depois que começou a publicar a série Fazendo Meu Filme (já finalizada e agora sendo publicada em quadrinhos) e Minha Vida Fora de Série (ainda sendo publicada). Muitos de seus leitores tomaram gosto pela leitura com seus livros e ela é uma das autoras brasileiras de livros destinados ao público jovem (e os adultos também viu!) mais lida atualmente. Além das suas séries carro-chefe, ela também tem publicado releituras de livros de princesas e livros de crônicas e poemas.
Eu sei que a britânica J. K. Rowling é hors concours mas não dá para falar de escritoras que influenciaram e ajudaram a criar toda uma nova geração de leitores sem falar dela. Praticamente dez em cada dez crianças (as de ontem – onde me incluo – e as de hoje) sabem quem é Harry Potter e cresceram fascinadas pelo mundo mágico criado por ela. Ela simplesmente é uma das autoras mais bem pagas do mundo, além de ser super engajada socialmente e politicamente nas redes sociais. Quando conheci Harry Potter o meu hábito de leitura já estava arraigado, mas sem dúvidas os livros do bruxinho serviram para aumentar ainda mais o meu gosto pela leitura e me fizeram esperar minha carta de Hogwarts por muito tempo.
Fonte (para saber mais sobre a influência dos pais na formação de novos leitores): http://revistacrescer.globo.com/Criancas/Desenvolvimento/noticia/2015/06/estimulo-precoce-leitura-tem-um-impacto-positivo-na-formacao-de-novos-leitores.html
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