Os Garotos Dinamarqueses que Desafiaram Hitler (Phillip Hoose)

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Dinamarca foi ocupada pelos alemães entre 1940 e 1945. Nos últimos anos a resistência dinamarquesa foi ferrenha. Pertence a eles uma das ações mais emblemáticas da Guerra: a retirada, por barco, da maioria de sua população judaica para a Suécia em 1943, pouco antes das forças alemãs levarem a cabo o projeto de enviá-los para os campos de concentração. Mas, nos primeiros anos o rei e os líderes políticos do país acataram docilmente os alemães na Dinamarca. De apáticos à revolucionários foi um longo caminho e o Clube Churchill teve um importante papel nisso. Um grupo de estudantes dinamarqueses com seus 14, 15 anos que ultrajados com a situação do seu país decidiram se unir e reagir à invasão alemã. Com suas bicicletas e sem um pingo de conhecimento tático, esses garotos influenciaram a história da Dinamarca. Uma história um tanto obscura e que Phillip Hoose traz com uma narrativa fluida e uma trama envolvente.

“Jens e eu, juntamente com nossos amigos mais chegados, tínhamos uma profunda vergonha do nosso governo. Pelo menos, os últimos noruegueses haviam perecido em um país do qual poderiam se orgulhar. Nosso pequeno exército havia cedido às forças alemãs em poucas horas, em 9 de abril. Agora, não havia nenhuma força armada, uniformizada, para nos defender. Ficamos furiosos com nossos líderes. Uma coisa tinha ficado bem clara: agora, qualquer resistência na Dinamarca teria que vir dos cidadãos comuns, não de soldados treinados. ” (Página 26)

Para escrever este livro, Hoose trabalhou diretamente com Knud Pedersen, um dos garotos fundadores do Clube Churchill, que o recebeu em sua casa e compartilhou várias horas de memórias registradas no gravador do autor. O resultado foi uma mistura de ficção e documentário entremeada por notas históricas e pelas memórias de Knud, que funcionou muito bem.

A trama de Hoose começa exatamente no dia 09 de abril de 1940. Naquele dia a Dinamarca deixou-se dominar, a Noruega, invadida no mesmo dia, por outro lado, reagiu desde o primeiro dia e pagou com inúmeras vidas. Antes da invasão, Knud Pedersen, e mesmo sua família, não era ligado à política e retinha uma certa inocência em relação ao regime nazista de Hitler. Mas, conforme os dias foram passando, as notícias da guerra e a resistência dos noruegueses abriram os olhos de muitos e a família Pedersen, assim como muitos outros dinamarqueses, passaram a abominar tudo em relação ao nazismo. Mas, não bastava abominar era preciso resistir. E se os adultos não o faziam, Knud e seu irmão Jens fariam. Foi assim que no verão de 1940, em Odense, surgiu o Clube RAF. O nome foi uma homenagem à Força Aérea Real Britânica (RAF) e o verão de 1940 em Odense foi marcado por inúmeras sabotagens que tornou o grupo relativamente famoso. Mas e o Clube Churchill?

O Clube Churchill nasceu como um ramo do Clube RAF, quando os irmãos Pedersen mudaram com a família para Aalborg em 1941.  O nome foi uma homenagem ao líder britânico e o clube de sabotagem surgiu ainda mais organizado do que seu predecessor e seus planos se tornaram cada vez mais ousados e emblemáticos. Contudo, era de se esperar que com o aperto das forças alemãs, os meninos acabassem sendo capturados. Mas, não sem antes terem feito muito pelo povo dinamarquês. O Clube Churchill podia ter virado história, mas também entrou para a história! A RAF (admirada pelos garotos) produziu panfletos enaltecendo seus atos, e seus feitos, foram até mesmo eternizados em um quadrinho americano. Os alemães bem que tentaram, mas a centelha acesa pelos garotos já se alastrava ferrenhamente por toda a Dinamarca.

O Clube Churchill (Fonte: Brief History)

Hoose soube aproveitar muito bem os depoimentos de Knud, que foram incluídos no texto em momentos bastante oportunos. Além disso, a obra está repleta de fotografias, mapas, fac-símiles e notas históricas que enriqueceram e muito a leitura. No final, Hoose traz uma nota histórica onde discorre sobre o que aconteceu com os garotos do Clube Churchill, do Clube RAF, a família Pedersen, amigos e simpatizantes do grupo. Ele também fornece uma bibliografia bastante detalhada, que foi consultada por ele, e que traz dicas de leituras de não-ficção e romances, além de filmes, séries e gravações sobre o tema. Enfim, Hoose (com a ajuda de Knud) trouxe à tona, com maestria, sensibilidade e rigor histórico, uma parte da história da Segunda Guerra Mundial bastante desconhecida do público geral. Para os que gostam de ler livros situados nesse período e/ou que gostam de romances baseados em fatos reais é uma leitura mais do que recomendada.

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